O delfonauta dedicado sabe o quanto eu gosto da Telltale. O curioso é o foco que o estúdio dá em histórias pesadas, repletas de dramas e conflito, considerando que ela foi fundada por um pessoal que trabalhou nos clássicos adventures da saudosa LucasartsGuardians of the Galaxy é um de seus poucos lançamentos, ao lado de Tales From the BorderlandsMinecraft, que abre mão do drama em nome da comédia.

Não por acaso, temos aqui aquele humor cheio de charme e de gargalhar que permeava todos os lançamentos da Lucasarts, o que torna este take da Telltale nos Guardiões da Galáxia um de seus lançamentos mais divertidos, inclusive capaz de competir cara a cara com os filmes.

Guardians of the Galaxy, Delfos
Mas antes, um abraço carinhoso.

Eu já escrevi sobre o primeiro episódio desta série quando ele saiu, lá em abril de 2017 e agora, que todos os episódios já foram lançados, é hora de revisitar a obra e ver como ela se saiu em sua história completa.

VIDA E MORTE

A história começou de forma surpreendente, com a morte do grande vilão Thanos. Eu me esforcei para não falar sobre isso quando escrevi sobre o primeiro episódio, mas considerando que isso acontece nos primeiros minutos e agora estamos falando da história completa, acredito que não pode mais ser considerado spoiler.

Pouco depois da luta com o titã, os Guardiões acabam encontrando um artefato capaz de trazer presuntos de volta à vida. Como todos os integrantes do grupo perderam pessoas queridas, isso os deixa em polvorosa para usar o item e recuperar seus amados. Porém, a vilã Hala também está interessada no bagulho para ressuscitar todo o exército Kree e dominar a galáxia.

O que fazer? Usar o artefato para atender a seus desejos egoístas ou destruí-lo antes que ele caia em mãos perigosas? Este é o grande mote da história e, obviamente, uma das decisões que você vai ter que tomar.

Guardians of the Galaxy, Delfos
Infelizmente, ao contrário da vida real, nem tudo pode ser solucionado com uma boa mira.

gameplay você já conhece. A Telltale basicamente repete a mesma fórmula desde seu primeiro The Walking Dead, então vamos focar no que realmente importa.

UMA HISTÓRIA DE GARGALHAR

Fazia muito tempo que eu não ria tanto com algo como aconteceu com este Guardians of the Galaxy. Os personagens são realmente muito bons, e muito bem utilizados pela Telltale. Não é fácil fazer uma árvore que só fala “Eu sou Groot” se tornar carismática, mas a Telltale consegue dar a ele sentimentos tão tocantes que não dá para não concordar quando alguém o define como “o coração dos Guardiões”.

Peter Quill, por outro lado, é o típico herói metido e carismático, que lembra bastante Nathan Drake, outro personagem marcante dos videogames. O que mais me fez gargalhar, no entanto, foi Drax, o que é curioso já que boa parte das suas piadas vem do fato de ele não ter senso de humor.

Guardians of the Galaxy, Delfos
E já reparou como ele parece o Kratos?

Não só fisicamente Drax parece com o fantasma de Esparta, mas mesmo sua personalidade guerreira lembra Kratos. Isso, claro, se Kratos fosse um personagem muito mais carismático e mais bem desenvolvido do que ele de fato é. Drax, apesar de ser um personagem mais secundário do que a Gamora ou Rocket Raccoon, é o responsável por boa parte do humor que temos aqui.

Mas nem todo o humor vem simplesmente dos personagens. Muito vem das suas próprias decisões. Como a história é mais leve e bem-humorada, você acaba não tomando decisões pelo que parece ser mais aconselhável, mas pelo que é mais engraçado.

Por exemplo, tem uma hora que um bichinho se aproxima dos Guardiões. Você tem três opções: “fazer carinho”, “dar comida” ou, claro, “dar um soco”. Não tem absolutamente nenhum motivo para dar um soco em um bichinho fofo, mas adivinha o que eu escolhi, enquanto gargalhava como uma criança.

Guardians of the Galaxy, Delfos
Eu não vou dizer que esse soco acabou fazendo com que essa minhoca gigante perseguisse minha nave. Não, não vou dizer isso.

Em outra parte, você tem um plano elaborado e tem que designar funções para cada membro do time. Eu poderia ter escolhido coisas que faziam sentido, como colocar o Rocket Raccoon para ser o hacker. Mas isso não seria engraçado, então é claro que meu hacker acabou sendo o Groot, em meio aos protestos da equipe, que dizia que o Groot não seria capaz de fazer o trabalho. Sabe o que eu respondi? “Eu acredito em você, Groot”.

UM PLANO TÃO RUIM QUE É BOM

Claro, como qualquer um que já jogou algo da Telltale sabe, suas decisões não afetam tanto a história como pode parecer a princípio. O plano supracitado daria certo de qualquer jeito, e minhas escolhas peculiares apenas afetaram algumas das falas que rolam enquanto ele é colocado em prática.

Apesar de eu estar cheio de elogios, não diria que Guardians of the Galaxy é perfeito. Na verdade, em matéria de comédia, ainda acho que a Telltale mandou melhor em Tales From the Borderlands. Por aqui, não dá para negar que o segundo episódio é um ponto bem mais baixo na história. Felizmente, no terceiro já melhora, e depois disso ela se mantém boa até o fim, culminando em um final bem satisfatório e bonitinho.

Guardians of the Galaxy, Delfos
Quem ganha em um braço de ferro entre Drax e Nebulosa?

Eu costumo gostar bastante do visual dos jogos da Telltale. Nenhum deles é tecnicamente impressionante, mas os personagens costumam ser bem expressivos, além de a direção ser bastante estilosa. Este é um aspecto que deixou a dever por aqui. As expressões faciais simplesmente não parecem tão boas, e alguns personagens, como o Rocket Raccoon, estão, não dá para negar, abaixo do padrão.

Felizmente, o que fica a dever no visual é compensado pela trilha sonora, que é a melhor que já vi em um jogo da Telltale. Cheia de clássicos dos anos 80, as músicas entram em momentos bem apropriados, culminando em uma cena de ação musical em cada episódio.

Guardians of the Galaxy, Delfos
E esta, em plano sequência, talvez seja a mais estilosa de todas.

Além disso, troféus e episódios têm nomes de músicas famosas, então é bem legal testar seus conhecimentos vendo se você reconhece todas as referências.

GUARDIANS OF THE GALAXY DA TELLTALE

É bem claro que o que tornou a Telltale a marca forte que eles são hoje foram seus jogos mais dramáticos, cheios de decisões difíceis. Dito isso, eu gosto mais de comédia do que de drama, e o senso de humor dessa turminha é muito parecido com o meu. Que venham mais jogos bem-humorados da Telltale, pois até o momento, seu histórico em comédia está quase perfeito.

Guardians of the Galaxy, Delfos
Enquanto isso, brindemos ao nosso assinante Rafael Fetter. Valeu, Rafael!