Muitos meses atrás, vi em um cinema o pôster deste filme. Esse mesmo que está aí do lado. Na época, não sabia absolutamente nada dele, mas imediatamente me chamou a atenção. Algo nele me lembrava os melhores momentos da série de games Dead Space.
Os momentos aos quais me refiro não envolvem monstros, sustos ou algo mais do que deixou a série em questão famosa. Não, estou falando mesmo é daquelas horas em que você está voando para lá e para cá pelo espaço sem ter a menor noção de qual lado é cima e qual é baixo, totalmente sozinho e no mais completo silêncio. Esses momentos, delfonauta, presentes em maior quantidade no Dead Space 3 são os mais memoráveis de toda a série, pois a sensação causada pelo desamparo e solidão do espaço são muito mais marcantes do que ser atacado por zumbis espaciais.
UM SURVIVAL HORROR CINEMATOGRÁFICO
Dessa vez, por incrível que pareça, temos um filme que vende exatamente o que ele é. Isso significa que, como sempre acontece, tirando aquela vez em que eu pensei estar errado, eu estava certo. Saca a sinopse:
Sandra Bullock e George Clooney são dois astronautas que estão em uma missão entediante pelo espaço. É a primeira vez da garota, e ele está sendo bem gentil. O time dele ainda tem mais alguns membros, mas todos apresuntam pouco depois, quando rola uma chuva de detritos que causa todos os problemas que vamos encarar ao longo dos próximos 90 minutos.
Eles estão sozinhos, sem comunicação com a Terra. O oxigênio dela está acabando e a estação espacial mais próxima está mais longe do que o combustível do jetpack dele consegue levar. É um predicado terrível, mas uma ótima premissa para um filme, ainda que seja uma premissa difícil de se realizar.
Neste ponto, Gravidade lembra muito Enterrado Vivo. Afinal, no filme em questão vemos a realização da fantasia de todos nós: o Ryan Reynolds sendo enterrado vivo. O filme inteiro se passa dentro do caixão e a falta de recursos e de espaço deixa tudo ainda mais aterrorizante.
Os personagens de Gravidade também sofrem com a falta de recursos, embora, convenhamos, eles tenham espaço de sobra (hein? Hein?). Temos um filme minimalista, com pouquíssimos atores e uma tensão que se mantém altíssima durante quase toda a projeção. E muito disso se deve a…
UMA DIREÇÃO DE OUTRO MUNDO
O diretor Alfonso Cuarón foi o comandante de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, possivelmente o pior e mais decepcionante de todos os filmes do bruxinho nerd. Aqui, no entanto, ele se redime de seu penúltimo filme com honras, demonstrando um trabalho de direção de tamanho estilo e competência que não se vê todo dia no cinemão Hollywoodiano.
A forma que ele opta por filmar boa parte das cenas é responsável pelos melhores momentos do longa. Temos de tudo por aqui, desde longuíssimos plano-sequências até aflitivas cenas em primeira pessoa, e tudo acontecendo na hora certa.
O diretor também tirou uma casquinha da semelhança do seu filme com Dead Space no excelente design de som. Assim como na série em questão, quando os personagens estão no vácuo do espaço, todos os efeitos sonoros soam abafados e assustadores. Claro, todo mundo sabe que o som não se propaga no vácuo, mas isso deixaria este filme muito chato, e essa opção por seguir os passos do irmão mais velho gamer se torna muito acertada. E outra, ele não foge do silêncio absoluto do espaço também. Em muitos trechos, não se ouve absolutamente nada, fazendo com que até a respiração do seu vizinho de poltrona seja ouvida. Na verdade, embora eu normalmente sequer pense nessas coisas, diria que consideraria uma injustiça deveras grande se Gravidade não levasse pelo menos os Oscars de direção e de design de som (divididos em mixagem e edição de som).
Para bom entendedor, três parágrafos bastam, mas se você não é um bom entendedor, permita-me ser mais claro. Temos aqui um lançamento que deve ser assistido nas melhores condições possíveis. Procure por uma sala com tela grande e som potente e, sim, pague para assistir a versão em 3D, pois vale a pena. Se tiver oportunidade, aliás, assista em Imax 3D. Essa é uma experiência que eu não tive (a sessão de imprensa foi em um cinema normal), mas que aposto que será inigualável.
Outra obra que se assemelha a Gravidade é 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Cá entre nós, eu não gosto do clássico do Stanley Kubrick, e se você compartilha esta opinião comigo, pode ficar tranquilo, pois embora Gravidade se assemelhe bastante a ele, isso é no clima, não na chatice. Aliás, digo mais, se o bom e velho Estanislau estivesse vivo e fosse fazer o 2001 hoje, não duvido nada que ele ficasse bem parecido com este.
UM CLICHÊ MUNDANO
Durante boa parte da projeção, eu estava crente que estava diante da mais nova obra a ser agraciada pelo Selo Delfiano Supremo, mas o filme esfria muito em determinado momento, especialmente pelo óbvio e desnecessário retorno do George Clooney. Toda aquele trecho é muito chato e não acrescenta nada à trama além de assemelhá-la a algo que saiu da cabeça do Steve Screenwriter.
É um trecho pequeno, que não tira toda a grandiosidade da obra, mas infelizmente a afasta do panteão divino daqueles abençoados pelo Selo Delfiano Supremo. Não deve te impedir de assistir, e dê um jeito de fazê-lo, no mínimo em 3D, e preferencialmente em Imax. Você não vai se arrepender.