Gamma Ray – Majestic

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Desde 2001 o Gamma Ray não lançava material inédito. Quando a sua banda preferida fica quatro anos sem lançar um disco, você acaba percebendo quanta diferença esse tempo faz na vida de uma pessoa. Pense comigo, amigo delfonauta. Como estava a sua vida em 2001? Se você estava cursando faculdade, possivelmente agora está formado. Se estava no colegial, pode ser que agora está na faculdade. Pessoas nasceram nesse tempo. Pessoas morreram nesse tempo. Em 2001, você poderia estar namorando e agora estar com outra pessoa ou mesmo solteiro. Ou vice-versa.

Dentre essas mudanças, acho que nesses quatro anos mudei muito a forma como encaro a música. Se na época do lançamento de No World Order, cada novo CD do Gamma Ray era muito aguardado e, quando colocava as mãos nele, ouvia até gastar, normalmente sem fazer mais nada a não ser acompanhar as letras no encarte, agora tenho tempo apenas para ouvir enquanto estou trabalhando (sim, eu trabalho ouvindo música e acho ridículo existirem empresas que não permitem isso) e, justamente por estar trabalhando, não presto tanta atenção como fazia antes.

Por que toda essa introdução, você pergunta? Ora, primeiro porque você está no DELFOS, onde textos pessoais são nosso grande diferencial. E segundo, para que o delfonauta entenda a forma como encarei este novo lançamento da minha banda preferida. Mas vamos ao tradicional faixa a faixa que fazemos em CDs importantes:

My Temple: Pesada. Rápida. Melódica. A típica faixa de abertura de um álbum do Gamma Ray e, como sempre acontece, há de se tornar uma das preferidas do álbum. É empolgante, é divertida, é tudo que eu sempre gostei na banda e, se você é fã deles, provavelmente é tudo que você sempre gostou também.

Fight: Sempre tive uma forte tendência a gostar mais das faixas comerciais do Gamma Ray. Send Me a Sign, Heaven Can Wait e Rich and Famous estão entre as minhas preferidas desde a primeira vez que as escutei. Fight não é tão comercial quanto essas, mas é sem dúvida a que melhor merece esse posto em Majestic. Seu refrão pegajoso é daqueles que devem ser lembrados e cantados juntos desde a primeira audição. Seus corais épicos devem agradar aos mais exigentes fãs de Queen. Enfim, Fight traz uma coleção das características do Gamma Ray que sempre me agradaram e por isso é a que escolheria como a minha preferida do disco. Pena que tem menos de 3 minutos e meio.

Strange World: Um belo riff abre essa música. Outra faixa típica do Gamma Ray, é bem melódica e ao mesmo tempo pesada, com um refrão que dá vontade de pular enquanto canta, mais ou menos como na tremendona New World Order. Também muito boa.

Hell is Thy Home: Velocidade é uma palavra que define bem essa música, a primeira das três músicas com a palavra Hell no título. Bem legal, bem típica do Gamma Ray. Aliás, você já reparou quantas vezes utilizei a palavra típica até agora? E continue contando.

Blood Religion: A primeira faixa mais longa do disco, com quase 7 minutos. É a tradicional “começa-lenta-e-depois-fica-pesada-e-épica” que todas as bandas de Metal parecem sentir obrigação de ter pelo menos uma por disco. Aliás, épica é uma boa palavra para descrever esta ótima composição, que vem fazendo muito sucesso nos shows da mais recente turnê do Gamma. A qualidade infelizmente não é mantida na letra, que fala sobre vampiros, tema interessante, porém aqui sendo abordado de uma forma bem banal.

Condemned to Hell: Essa música começa exatamente com o tipo de riff que eu gosto. É quase impossível ouvir os primeiros 40 segundos dessa música sem balançar a cabeça, o que deve fazer o pessoal que trabalha comigo achar que eu estou tendo um ataque epilético toda vez que ela começa a tocar no meu fone de ouvido. Curiosamente, depois ela dá uma esfriada. O instrumental continua legal, mas não gosto muito da melodia do vocal, nem do refrão, um dos mais fracos do disco.

Spiritual Dictator: O começa lembra muito I Want Out, clássico composto pelo hoje vocalista e guitarrista do Gamma Ray na época em que ele integrava as fileiras do Helloween. Mais um riff pula-pula. Mais velocidade. Mais diversão da forma que só o Gamma Ray sabe fazer.

Majesty: Chegamos à “quase faixa-título” do álbum, coincidentemente a que eu elegeria como a pior do disco. Majesty tem levada semelhante à de duas músicas do Gamma Ray que eu definitivamente não gosto: Dream Healer e The Cave Principle. O refrão é também o mais chato do disco. Aparentemente, a idéia era fazer uma música com um clima meio místico, mas se essa era mesmo a idéia, Hansen e companhia deveriam tirar o pó de seus vinis e ouvir novamente uma Gates of Babylon da vida para ver como é que se faz um Rock místico de qualidade.

How Long: A parceira de Fight entre as mais comerciais do disco. How Long é a que tem teclados mais evidentes e a melodia mais radiofônica. De qualquer forma, está muito longe de ser uma composição memorável e tem tudo para nem ser mais lembrada quando a banda lançar seu próximo álbum. Uma típica faixa para ocupar espaço.

Revelation: A maior do disco, com 8 minutos e meio. Como se pode deduzir pelo tamanho, é também a mais épica. Corais de fazer o Freddie Mercury corar de inveja. Melodias fortes e cativantes. Intrumental rápido e melódico. Embora esteja tentado a compará-la com Armageddon, acredito que a composição mais semelhante a esta Revelation é a esquecida e maravilhosa The Winged Horse, do igualmente maravilhoso álbum Somewhere Out In Space.

Hellfire: A faixa-bônus para o Japão é uma típica… uhn… faixa-bônus. É legalzinha (já repararam que a faixa-bônus nunca é a pior do disco?), mas não se destaca em meio a maravilhas como My Temple, Fight e Revelation, as melhores do disco.

Pois bem, amigão. Acabamos de ouvir juntos o novo disco do Gamma Ray. Para concluir, como você já deve ter percebido, esse é um disco típico do estilo desenvolvido pela banda desde Somewhere Out In Space, quando deram essa guinada para um Metal mais pesado. Quem não gosta, não vai gostar por causa desse disco, mas quem gosta, há de adorar (sem bem que muitas pessoas devem se decepcionar pela completa falta de baladas, assim como aconteceu quando Power Plant foi lançado, em 99).

Particularmente, sinto falta do humor e das letras que o Gamma Ray apresentava em seus três primeiros discos. Gosto também do estilo mais pesado utilizado por eles hoje em dia, mas considero que a banda era única na época do Sigh No More (apenas para citar um exemplo), enquanto agora eles fazem exatamente o mesmo estilo do Judas Priest. Gostaria de ouvir novas composições na linha de Brothers, Lust for Life, Free Time e demais representantes daquele Metal único que o Gamma Ray fazia no início dos anos noventa e que, infelizmente, parece ter sido esquecido pelo tempo e pela demanda do público para que as bandas de Metal sejam cada vez mais pesadas, mais sérias, mais sisudas e, infelizmente, menos divertidas.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
gamma-ray-majesticAno: 2005<br> Gênero: Power Metal<br> Duração: 59:32<br> Artista: Gamma Ray<br> Número de Faixas: 10 + 1 bônus<br> Produtor: Kai Hansen & Dirk Schlächter<br> Gravadora: Sanctuary<br>