Aviso aos delfonautas: a matéria abaixo foi escrita para a AOL, por isso está um pouco diferente do que costumamos publicar aqui. O DELFOS não conseguiu credencial para esse show, então estou apenas republicando meu texto escrito para a AOL. De qualquer forma, no final, você encontra algumas curiosidades divertidas escritas especialmente para você.
Uma das coisas mais complicadas para um jornalista é quando tem que cobrir um show ou entrevistar um artista do qual ele realmente gosta. Esse foi o meu caso na noite do último sábado, quando minha banda preferida, o Gamma Ray fez um show em terras paulistanas.
A abertura ficou por conta do Kavla, que fez um show baseado em músicas próprias. Fizeram um medley que contou com alguns dos maiores sucessos do Rock/Metal, como The Evil That Men Do (Iron Maiden), Master of Puppets (Metallica), Mob Rules e Heaven and Hell (Black Sabbath, da época que contava com Ronnie James Dio nos vocais), Hunting High and Low (Stratovarius), Black Dog (Led Zeppelin), Highway Star (Deep Purple) e Eagle Fly Free (Helloween). Com um medley desses, é óbvio que a galera agitou bastante, mas no resto do show, era comum vermos apenas as pessoas das primeiras filas batendo palmas e cantando junto, enquanto o restante estava mesmo é esperando o Gamma Ray. Quando terminaram, a platéia ficou gritando gostosa para a baterista, o que me fez imaginar: “será que gritariam a mesma coisa para absolutamente qualquer representante do sexo feminino que pisasse no palco?”.
Às 23 horas, a famosa introdução Welcome, do primeiro álbum do Gamma começou a soar em playback. O início do show seguiu a mesma fórmula da última apresentação da banda em São Paulo (em 2003), começando com uma música pesada (Gardens of the Sinner nas duas ocasiões), seguida de uma mais comercial (Rich and Famous em 2003 e Heaven Can Wait, uma das minhas preferidas, nesta mais recente).
Com o público na mão com estes dois petardos, era hora de fazer uma seqüência com músicas do Majestic, álbum que saiu há pouco mais de um mês, mais exatamente no dia 11 de outubro. Sempre achei um erro trazer as bandas para cá tão pouco depois do disco sair. É preciso dar um tempo para o público aprender as músicas e, com isso, curtir mais o show. Infelizmente, os promotores parecem não concordar comigo e cada vez mais isso se torna recorrente, como aconteceu ano passado com o Therion e este ano com o Grave Digger.
Obviamente, com a possibilidade, embora ilegal, de se fazer downloads dos álbuns antes mesmo de eles serem lançados, muita gente já estava com as músicas mais do que decoradas e fizeram a festa com My Temple, Fight e Blood Religion. Infelizmente, isso acaba prejudicando os fãs “de verdade”, que preferem esperar ter o disco oficial nas mãos para ouvi-lo com toda a atenção que merece, acompanhando as letras e tudo mais. No meu caso ainda, que compro CDs japoneses das minhas bandas preferidas (para quem não sabe, normalmente as versões nipônicas têm uma ou duas músicas a mais), acabo demorando bem mais para conseguir colocar as mãos na bolachinha.
Seguiram com a música mais Manowar que o Manowar não gravou, a divertida Heavy Metal Universe, que teve a tradicional paradinha para a galera cantar. E cantou mesmo, a plenos pulmões. Poucas vezes vi um público cantar tão alto em um show como fez nessa música.
Nesse momento em que o público estava completamente entregue, os alemães decidem jogar o famoso balde de água fria com o sempre pentelho solo de bateria. Obviamente, o solo seguiu exatamente a mesma fórmula que já entreguei na minha resenha para o show do Primal Fear, então não vejo motivos para me estender nisso novamente.
Ao invés disso, vou aproveitar a pausa para falar sobre a banda ao vivo. O Gamma Ray é sem dúvida uma das bandas mais carismáticas do Metal. Seus shows sempre têm um clima de festa (tive oportunidade de assistir a 3 dos 4 que a banda fez em São Paulo), os músicos estão sempre sorrindo e, embora o guitarrista e vocalista Kai Hansen seja considerado um deus por 8 entre 10 headbangers (o cara compôs boa parte dos clássicos do Helloween e é praticamente o inventor do que hoje chamamos de Heavy Melódico), a banda toda tem seu espaço para brilhar. O outro guitarrista, Henjo Richter, também conhecido como o narigudo sorridente, é outro que tem um carisma exemplar e forma uma dupla fenomenal de guitarras com Kai. O companheiro de longa data de Hansen, Dirk Schlächter (que foi guitarrista da banda em três discos: Sigh No More, Insanity and Genius e Land of the Free e que assumiu o baixo desde o álbum Somewhere Out In Space, de 1997), compareceu com um visual bem diferente do que tinha antes, graças a seu novo corte de cabelo. Isso, é claro, não interferiu na sua performance como as caipirinhas com que se esbaldou na véspera do show de 1999 e dessa vez o cara fez seu papel direitinho. O baterista Dan Zimmerman não aparece muito, mas faz o seu papel como o senhor das baquetas.
Depois do solo de bateria, contudo, foi que o show realmente esquentou, com um tremendo five-hit combo com algumas das músicas preferidas do público tupiniquim. A primeira delas foi a maravilhosa Beyond the Black Hole, que levou o Olympia a uma viagem através do buraco negro cantando um dos refrões mais empolgantes que a banda já compôs.
Seguiram com New World Order e sua levada à Deep Purple. Seus riffs cavalgados fizeram todos pularem no ritmo da música. Durante sua parte mais lenta, onde a platéia costuma acompanhar a melodia da guitarra com os famosos “Ô-Ô-Ôs”, parece ter havido um problema com a guitarra do Kai Hansen, levando a banda a estendê-la além do previsto. Isso, obviamente, não prejudicou o show, apenas aumentou a parte onde o público cantaria.
Depois de tantas músicas pesadas, nada melhor do que relaxar com uma das melhores baladas não compostas pelo Savatage que conheço: a linda Silence, cantada em uníssono pelos solteiros, enquanto os “acompanhados” abraçavam e beijavam seus “acompanhantes”.
No intervalo antes da próxima música, Kai pergunta: “Estão prontos para a última música de hoje?”. A galera responde: “Não!”. Kai retruca: “Como não? Sim!” e essa brincadeira continua por mais alguns minutos, mostrando o bom humor que permeia o trabalho da banda desde sua estréia, no longínquo ano de 1989, quando ainda era pouco mais que um trabalho solo de Kai, recém saído do Helloween.
Essa tal última música era Rebellion in Dreamland, talvez o maior sucesso dos caras. Não precisa dizer que foi cantada por todos. A banda emendou outra do mesmo álbum, a faixa-título Land of the Free, cortando a primeira mais ou menos na metade, o que deixou os fãs chupando o dedo.
Dão boa noite e saem do palco depois de apenas 1 hora e 20 minutos de show, sem deixar dúvidas a ninguém de que voltariam para o bis. Aliás, você já reparou que bis é algo tão programado que a galera nem pede mais? Simplesmente espera a banda voltar? E isso nesse show foi especialmente ruim, pois com tanta música boa sendo tocada em seguida, nem dava para perceber que já estávamos cansados. Contudo, com a pausa forçada do bis, a galera esfriou e não esquentou mais.
Voltaram com a comercial (no bom sentido) Valley of the Kings, emendada na pesada Somewhere Out in Space e fechando este primeiro bis com o final de Rebellion in Dreamland. Não chegaram a tocar a música desde onde pararam antes do bis, foi realmente apenas o finalzinho.
A banda dá boa noite e sai do palco. De novo. As luzes não se acenderam, então novamente o público simplesmente ficou esperando decidirem voltar. Alguns minutos depois, voltam com a praticamente Hard Rock Send Me a Sign, outra das preferidas do público.
Para terminar, emendam I Want Out do Helloween. Essa música pegou muitos de surpresa, já que não havia sido tocada nos shows anteriores que a banda fez em Porto Alegre e Curitiba. Contudo, havia sido tocada em São Paulo há duas semanas pelo próprio Hansen acompanhado pelo Angra. Talvez um outro sucesso do Helloween teria sido mais legal como Future World ou, quem sabe, algum petardo mais raro como Victim of Fate?
O que mais decepcionou foi a ausência de convidados. Se você pensar que, há uma semana, o Ralf Scheepers estava em São Paulo fazendo shows com o Tribuzy, nada mais natural do que esperar que o cara fique mais uma semana para tocar com sua ex-banda, certo? Infelizmente não teve nenhuma participação especial, nem fogos, nem nada do tipo. Foi apenas 4 caras tocando Heavy Metal.
De qualquer forma, a banda fez um ótimo show. Podia ter sido mais longo – durou 1 hora e 50 minutos, mas não se esqueça que teve duas pausas para bis e um solo de bateria – pois em coração de fã sempre cabe mais umas músicas. Particularmente, acho que deveria ser o oitavo pecado capital ter uma música como Shine On no repertório e não tocá-la em todas as ocasiões possíveis. Mas um show perfeito é algo muito difícil, especialmente para quem gosta muito da banda. O Gamma Ray chegou perto. Este foi um ano onde tivemos oportunidade de ver alguns shows de Metal há muito esperados, como o Judas Priest com o Rob Halford ou o W.A.S.P. pela primeira vez no Brasil. Infelizmente, esses shows deixaram a dever e foram passados para trás pelos representantes do Hard Rock, como o Whitesnake e o Scorpions. É bom ver que o Gamma Ray veio para provar que as bandas de Metal ainda sabem fazer um bom show.
Algumas curiosidades exclusivas para os delfonautas:
– Há muito tempo, nesta mesma galáxia, toquei com o baixista do Kavla, Marcelo Eiger, em uma banda. Juntos, nunca fizemos mais do que ensaios, mas cheguei a compor algumas músicas com essa banda. Quando o show do Kavla começou, fiquei em dúvida se era ele. Até que ele me cumprimentou e minha dúvida foi dissipada. 😉
– No primeiro show do Gamma Ray a que assisti, em 1999, peguei um copinho de água jogado pelo Kai Hansen. Eles está guardado em um armário da minha casa, onde fica toda a minha memorabilia musical como palhetas e cordas de instrumentos que peguei em show ou que me foram dadas pelos próprios músicos.
– O Bruno costumava dizer que eu pareço com o Dan Zimmerman. Faz um tempão que ele não fala isso. Acho que ele esqueceu. Infelizmente, creio que acabei de lembrá-lo.