Firewatch

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O nome do gênero walking simulator foi criado como uma piada para tirar sarro de jogos nos quais você basicamente anda de um lado para o outro até ele terminar. Eu gosto desse nome, e como faço com tantas outras coisas, o uso no dia a dia sem absolutamente nenhuma intenção pejorativa.

E sabe o que mais? Depois de ter resenhado e/ou jogado títulos como Everybody’s Gone to the Rapture ou The Vanishing of Ethan Carter, reparei que gosto muito desse gênero.

Claro, para mim o prazer do videogame nunca veio de sobrepujar desafios ou de demonstrar minha habilidade. Eu sempre fui mais atraído pela possibilidade de visitar outros mundos, me imaginar em outros lugares ou pelo, como costumo chamar, Turismo Virtual da coisa.

E o que são os walking simulators senão o mais puro turismo virtual? É simplesmente você explorando um cenário normalmente belíssimo e desvendando uma narrativa que muitas vezes é suficientemente aberta para sua imaginação criar asas.

BOMBEIROS DA NATUREZA

A narrativa de Firewatch é mais fechadinha, e sua história é bastante interessante. Em um começo um tanto estranho, que intercala texto com curtos trechos de movimentação, você conhece o desenrolar de alguns anos na vida de Henry (Rich Sommer, de Mad Men). São os anos nos quais ele se apaixona e se casa. Ele não vive feliz para sempre, pois algo horrível acontece, e então resolve pegar um trabalho que permite que literalmente dê um tempo na sua vida e se afaste da civilização.

Trata-se de um emprego de verão como vigia de incêndio em um parque. Você começa realmente a jogar quando está chegando na torre onde passará o verão. Logo, uma voz te chama no walkie-talkie. Trata-se de Delilah (Cissy Jones), sua chefe. Ela vai te passar as tarefas que você deve realizar ao longo dos próximos meses, bem como será sua principal companhia.

Muita coisa vai acontecer ao longo desses meses. Mistérios, mortes e perigos vão rolar, mas no final das contas, essa é a história da relação dessas duas pessoas, Henry e Delilah, Delilah e Henry. E isso é potencializado por diálogos muito bem construídos e excelentes atuações dos dois protagonistas. Você realmente vai se importar com eles.

Você também pode desenvolver a relação de Henry com Delilah do jeito que desejar. Muitas vezes você terá opções do que responder, e isso vai afetar a forma como ela vai tratar você dali em diante. É possível até irritar ela a ponto de ela resolver não falar com você por um tempo, o que aumenta ainda mais a sensação de solidão que Firewatch imprime no jogador.

EXPLORANDO O PARQUE

Há um mapa não muito extenso e você pode ir aonde desejar. Não há waypoints ou guias. Normalmente você tem apenas uma referência de onde chegar, tipo o nome de um lago, e deve se virar com seu mapa e sua bússola para chegar lá. No começo, admito que fiquei um pouco perdido, mas conforme o jogo se desenrolava já estava me localizando bem pelo parque, usando elementos do cenário como guias para saber onde estava. Exatamente como na vida real.

Não há muito incentivo para sair do caminho, já que a própria história do jogo vai te levar para praticamente todo o cenário, além de que não há troféus de colecionáveis ou outros clichês pentelhos do tipo. Você explora e pega coisas porque se importa com a história e com esses personagens.

O visual do jogo é lindíssimo, com um jeitão cel shaded que dá a ele um visual cartoon, embora a história não seja humorística. De qualquer jeito, em meio a tantos jogos com visual realista, é gostoso jogar algo que se deixa ser mais estilizado.

Algumas coisas no visual incomodam, no entanto. Por exemplo, é possível escalar por algumas formações de pedra, e essas pedras têm sempre o mesmo design, e a animação de escalação é sempre exatamente a mesma.

Além disso, tem algumas partes nos quais o personagem simplesmente se recusa a andar, mesmo não tendo nada bloqueando seu caminho. Não é nem o caso de uma parede invisível que limita o mundo do jogo. Era uma parede invisível que impede você de chegar aonde o jogo quer que você vá mesmo (a mais incômoda dessas fica próxima ao campo dos escoteiros).

ASSISTINDO O FOGO

Trata-se de um jogo curtinho, daqueles que dá para matar em uma tarde jogando sem pressa. E é sem pressa que você deve jogá-lo, simplesmente curtindo o visual e o silêncio da natureza (e por silêncio me refiro ao som de vento, animais e outras coisas que passam uma calma bem agradável).

Infelizmente, a resolução de seus conflitos é bastante decepcionante. Simplesmente o jogo coloca um monte de sementinhas e situações que dão a entender que um grande mistério está acontecendo no parque, mas no final das contas é algo muito menos interessante do que parecia.

Felizmente, a relação entre os dois protagonistas é tão bem construída que de forma alguma você vai se arrepender de ter passado esse verão (ou as poucas horas que ele dura) na companhia de Henry e Delilah.

Não deixe de conferir na galeria de imagens um fotolog do meu passeio por Firewatch.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
firewatchAno: 2016<br> Plataforma: PC e PS4<br> Fabricante: Campo Santo<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Panic<br>