Faz um bom tempo que eu quero experimentar a série Shantae. Trata-se de um dos raros casos de jogos de plataforma 2D old-school com visual não pixelado. Pois amanhã será lançada a edição especial intitulada Shantae: Half Genie Hero: Ultimate Edition. Trata-se daquela tradicional edição game of the year, que reúne em um só pacote o jogo completo, com todos os DLCs lançados para ele. Eu tive acesso a esta edição e finalmente pude ver se o joguinho dessa dançarina de dança do ventre era tão legal quanto parecia.
SHANTAE HALF GENIE HERO É BONITO BAGARAI!
Eu já era bastante interessado no jogo só pelo gênero e pelo seu visual. Dá uma olhada como ele é bonito:
Pois se suas screenshots já são bonitas, ele fica ainda melhor em movimento. Não só o design dos personagens é muito bonitinho, a animação também é praticamente perfeita. Eu chego a ficar pessoalmente ofendido ao constatar que é possível fazermos jogos 2D com um visual assim, e as desenvolvedoras parecem se limitar a fazer gráficos com cara de Nintendinho.
Eu sei que é bem mais simples fazer gráficos em 2D, mas sem exagero, eu vi menos imperfeições e probleminhas no visual de Shantae: Half Genie Hero do que no mais recente God of War. Isso aqui é simplesmente um desenho animado, com tudo de bom que vem com esta estética.
E sabe o que é melhor? A música é igualmente fantástica. Bem composta e em áudio de alta qualidade, é daqueles jogos que, como costuma acontecer nos da Nintendo, você joga cantarolando as canções.
MAS E O JOGO?
Ok, o audiovisual é perfeito. Mas e o jogo? Bom, o jogo é… irregular. A princípio, ele é muito legal. Trata-se de um plataforma imediatamente familiar para quem curtia o gênero na época do Super Nintendo, com um level design caprichado e jogabilidade que beira a perfeição.
Shantae pode usar magias ou então atacar seus desafetos com cabeladas. E o jogo é cheio de pequenos toques charmosos. Por exemplo, para aumentar a força da sua cabelada, você deve comprar um shampoo.
Além disso, a heroína faz dança do ventre e, como na vida real, isso possibilita que ela se transforme em outras criaturas, cada uma com habilidades específicas.
Estas criaturas, uma mais fofa que a outra, possibilitam coisas como afundar na água, escalar paredes ou voar. Elas são necessárias para progredir nas fases mais avançadas e para encontrar segredos. Inclusive, próximo ao final do jogo, quando você é obrigado a alternar entre elas e decidir qual a mais apropriada para a situação, a coisa fica emocionante e muito divertida.
Todas as fases do jogo são legais, mas é fato que quanto mais longe você está – e com mais transformações na bagagem – melhores elas vão ficando.
MAS ENTÃO QUAL É O PROBLEMA?
Boa pergunta, voz da minha cabeça. As fases são praticamente perfeitas. O problema é o que você faz entre elas. Depois de cada fase, antes de abrir a seguinte, Shantae: Half Genie Hero te obriga a voltar aos estágios anteriores para encontrar segredos com suas novas habilidades.
É o tipo de coisa relativamente comum em metroidvanias e até alguns jogos divididos em fases, como o primeiro Castlevania: Lords of Shadow, já fizeram coisas assim. É aquele esquema de você ver passagens bloqueadas por pedras e depois ganhar um poder que quebra pedras, manja?
Só que estes jogos costumam deixar a possibilidade de voltar lá como algo opcional. Shantae: Half Genie Hero não é tão bonzinho. Depois de cada fase, você vai precisar revisitar as anteriores e encontrar um item ou uma área antes de poder continuar a história. É, infelizmente, um saco. Especialmente porque depois de cada missão, você é obrigado a entrar novamente em todas as anteriores.
Há apenas seis fases, e o jogo provavelmente duraria cerca de duas horas se permitisse ser jogado no estilo Super Mario. Mas seriam duas horas fantásticas, dignas do Selo Delfiano Supremo. Ao invés disso, você vai ser obrigado a explorar cada cantinho de cada missão, fazendo o jogo durar…
INFLADAS SETE HORAS
Daí, quando você finalmente libera a última fase, o jogo te dá duas opções. Vá em frente ou visite tudo novamente para pegar todos os colecionáveis (e assim conseguir o final bom). Eu normalmente ignoraria essa pentelhação, mas em meio a tanta repetição, eu já tinha pegado todos os itens necessários, com exceção de dois. Então acabei buscando um guia e indo direto no que me faltava.
O fato é que é realmente uma pena que um jogo tão legal acabe sendo estragado pela necessidade de parecer mais longo do que ele realmente é. Isso, aliás, vem sendo uma constante na indústria de games.
MAS E O CONTEÚDO EXTRA?
Além do jogo principal, Shantae: Half Genie Hero traz cinco campanhas extras. Nelas, você pode jogar com outros personagens (como a vilã ou alguns amigos), ou mesmo com variações da Shantae.
Cada uma dessas campanhas traz diferentes habilidades que alteram dramaticamente o gameplay. Há, por exemplo, o modo Ninja, que permite coisas como correr pelas paredes e teleporte e deixa a jogabilidade com um sabor daquele divertido Ninja Gaiden de Game Gear. Em outra, você tem controle sobre as plataformas, interferindo diretamente no cenário e nos desafios.
Porém, todas elas acontecem nas mesmas fases do jogo principal, repetindo inclusive os chefes. E por mais que elas sejam boas, depois de repetir tanto estes estágios, eu definitivamente não aguentaria jogar por todos eles mais cinco vezes.
Lado bom? A maioria dessas campanhas funciona de forma mais tradicional, mais no estilo Super Mario, de uma fase depois da outra. Assim, acredito que seja até possível se divertir mais com elas do que com o jogo principal, já que o timing é bem melhor.
É mais ou menos como rola com as campanhas adicionais de Shovel Knight, para citar um jogo mais recente que você provavelmente conhece. Os novos personagens trazem novas cores e sabores ao jogo, mas no final das contas é o mesmo jogo.
Um dia eu vou sentir vontade de jogar Shantae: Half Genie Hero novamente, e provavelmente esta será uma boa hora para eu experimentar estas campanhas adicionais desta Ultimate Edition.
Para quem ainda não jogou Shantae: Half Genie Hero e pretende adquirir esta versão Ultimate, eu sugiro escolher a campanha alternativa que lhe parece mais interessante e jogá-la primeiro. A não ser, claro, que a repetição do jogo principal descrita aqui lhe apeteça.