Exclusiva: Ron Wasserman

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O artigo abaixo foi escrito por Mauro Barreto.

Os responsáveis pelo sucesso de uma obra – seja na televisão ou no cinema – estão também nos bastidores, e o público muitas vezes se esquece disso. É o caso dos compositores de trilhas sonoras, que ajudam a criar o universo fictício no qual mergulhamos ao sentar na poltrona.

Pude conversar com um desses profissionais: o norte-americano Ron Wasserman, responsável por momentos memoráveis na infância de muitos nerds que passavam as horas vagas (quando não estavam jogando videogame ou brincando de Comandos em Ação) assistindo ao falecido canal a cabo Fox Kids, nos anos 90.

Dentre os trabalhos mais conhecidos de Ron, podemos citar a música-tema do desenho dos X-Men (e não estou falando do Evolution, mas sim dessa mesma musiquinha que você está cantarolando mentalmente neste exato momento) e as trilhas das primeiras temporadas de Power Rangers, incluindo o famoso tema Go Go Power Rangers, uma das músicas mais Rock and Roll do entretenimento infantil.

Seja compondo as trilhas sonoras ou licenciando músicas de sua autoria para que sejam inseridas na edição, Ron já deixou sua marca em diversas franquias, incluindo séries, filmes e games. Dentre elas: V.R. Troopers, Smallville, Dragon Ball Z, Bob Esponja, Batman, Dino Squad, Sushi Pack, Flintstones, Atomic County, Cake TV, Death Sentence, Scooby Doo, America’s Next Top Model, Sweet Valley High, Mummies Alive, Monty Python, Ace Ventura Pet Detective, Cold Case, Roswell, Bones, Law And Order, Jack & Jill, Passions, The Sopranos, Sex In The City, The “L” Word, Joan of Arcadia, Dawson’s Creek, Ally Mcbeal e outros, dentre eles até mesmo projetos do Monty Python.

Neste bate-papo, Ron fala dos bastidores da indústria do entretenimento, desce a lenha na Disney, comenta sobre sua banda Fisher e o poder da divulgação via internet. Também tenta entender porque diabos as pessoas insistem em creditar o tema de Power Rangers ao guitarrista Buckethead.

Vamos começar com o básico: quantos anos você tem e onde você nasceu?
Eu estou na casa dos 40 agora (“YIKES!”) e nasci em Encino, California.

Desde quando você está envolvido com música?
Eu comecei a tocar aos três anos de idade e comecei a escrever música aos cinco. Minha primeira música publicada se chamava Ronnie’s Song e foi quando eu tinha cinco anos e meio. Depois disso demorou MUITO TEMPO para alguma coisa acontecer novamente. LOL!

Quais instrumentos você toca?
Teclados, bateria, guitarra, clarinete, órgão, melofone e percussão.

Quando e como você entrou para o negócio de compor músicas para TV?
Em 1990, um amigo me convidou para fazer um serviço de engenharia de som para ele na companhia Saban Entertainment. Eu pensei que fosse ser somente um trabalho pequeno, mas depois de escrever um monte de músicas tentando trabalhar como compositor (e não como engenheiro), eu finalmente fui contratado. Eu fiquei lá até 1995.

Esse seu amigo era Haim Saban, fundador da Saban Entertainment? Eu soube que ele vendeu a companhia para a Disney. Ele ainda trabalha no ramo do entretenimento?
Na verdade, o amigo que me conseguiu o trabalho foi Ron Kenan, que era presidente do departamento musical da Saban. Haim não trabalha mais no ramo de entretenimento. Ele agora chefia o Saban Capitol Investment Group.

Você teve algumas bandas antes de trabalhar com trilhas sonoras?
A única banda em que realmente me foquei foi a Fisher, que montei com minha esposa, mas nada aconteceu pra valer com esse projeto até 1998.

Como a banda foi criada e que tipo de música vocês fazem?
Fisher (Kathy Fisher, minha esposa e vocalista da banda) e eu nos conhecemos no departamento de música da Saban em 1990. Nós trabalhávamos com isso até 1997, quando eu decidi lançar um CD. Em 1998, conseguimos inserir uma música no filme Grandes Esperanças (dirigido por Alfonso Cuáron, com Ethan Hawke, Gwyneth Paltrow e Robert De Niro no elenco) com a canção intitulada Breakable, na qual eu estava trabalhando na mesma noite em que escrevi o tema de Power Rangers. Lançamos nosso CD em 1999. Nos tornamos rapidamente a banda mais baixada pela internet naquele ano. CNN, a revista Time e outros veículos escreveram matérias sobre nós, o que chamou a atenção das gravadoras. Na véspera de Natal, às 10 da noite, em 1999, nós assinamos contrato com a Universal/Interscope. Em 2000, nosso CD foi lançado por eles. Nós atingimos o primeiro lugar no top 40 das rádios com a balada de vocal e piano I Will Love You. Tudo estava indo bem, exceto a distribuição, que estava um tanto bagunçada. As lojas não tinham o CD em estoque. Nós brigamos com a gravadora por causa disso, e eles ficavam negando que havia algum problema. No início de 2001, nós deixamos a gravadora. Acredite em mim, as grandes gravadoras são formadas por pessoas que não entendem nada do negócio… é por isso que eles estão em uma situação terrível agora. Nós lançamos alguns CDs independentes depois disso e fizemos um disco de covers que foi lançado este ano. Nós temos uma base de fãs consideravelmente grande, e funciona como uma “máquina bem lubrificada”. Nós vendemos bastante e não precisamos nem fazer turnês. É como uma situação dos sonhos. Para ouvir nossa música, é só visitar o nosso site. Nós costumamos chamar nosso estilo de “Pop Artístico”.

Quais são as metas da banda agora?
Não tenho certeza. Eu gostaria de fazer algo com uma instrumentalização mais obscura, totalmente emotiva. Algo sem utilizar (quem sabe) os arranjos comuns.

Como você descreve o negócio de composição de músicas para televisão? As pessoas sabem bem pouco sobre isso, uma vez que é algo que fica nos bastidores. Como funciona?
É um negócio extremamente competitivo e desgastante. Geralmente, se você estiver na “lista de compositores” de uma produtora, você pode receber uma ligação para trabalhar em algum projeto que eles estejam desenvolvendo. Você então sugere sua idéia e, com alguma sorte, é chamado. Então você passa a fazer revisões no material até o último minuto e se o projeto finalmente for ao ar, você está dentro. Leva anos para você se estabelecer e deve estar sempre se reinventando para ficar atualizado.

O que você pode dizer sobre a carreira de compositor de trilhas para os jovens que gostariam de viver fazendo música?
A única maneira é começar como assistente (um escravo) de um grande compositor e lentamente traçar seu caminho até a posição de compositor. Você tem que estar disponível 24 horas por dia, sete dias da semana (mesmo depois de conseguir alguma notoriedade no ramo) e estar preparado para ser demitido a qualquer hora. É um negócio extremamente pequeno e novatos não conseguem ir em frente sem antes pagar os seus pecados. Em média, um compositor de trilhas para TV consegue trabalho no ramo por volta dos 35 anos de idade, pelo que tenho visto.

Você gosta de assistir desenhos animados, seriados de heróis e essas coisas para as quais você compõe?
Pra ser honesto, eu nunca assisti a um único episódio de algum seriado para o qual eu escrevi trilhas. Quando o episódio vai ao ar, eu já vi muitas vezes aquilo no estúdio e fico um pouco cansado de ver. No mais, eu acho que seria muito crítico com o meu trabalho e ficaria infeliz. É melhor pensar que ficou tudo “brilhante”. LOL!

Mesmo não sendo tão famoso quanto um músico popular, algumas de suas canções se tornaram ícones Pop da década de 90, como o tema de Power Rangers e o do desenho dos X-Men. Você tem consciência do impacto que essas músicas tiveram na vida de muitos jovens ao redor do mundo? De onde veio a inspiração para compor “Go Go Power Rangers”?
Eu estou consciente disso, e sempre fui extremamente honrado pelo tema de Power Rangers ter se tornado uma influência para as pessoas com o passar dos anos. É estranho, mas a indústria como um todo não percebe, ou não liga, para o impacto que as músicas-tema e as trilhas fazem na televisão. A inspiração veio da correria para terminar a música, porque eu estava trabalhando em uma música da minha banda Fisher naquela mesma noite (como dito em uma resposta anterior). Então eu terminei o tema de Power Rangers em cerca de duas horas e meia, do início da composição até a mixagem final. Eu sempre trabalhei melhor sob prazos curtos… Também foi totalmente sorte!

E com relação ao tema de X-Men? Sempre que penso nos Mutantes lembro da música, e conheço muitos fãs que gostariam que o diretor Bryan Singer tivesse usado o tema no filme para os cinemas.
Eu também estava com esperanças de que eles usassem a música no filme, mas os estúdios de cinema costumam menosprezar qualquer um na indústria da TV, então é raro acontecer alguma transição dessas da TV para o cinema.

O diretor de cinema Louis Leterrier utilizou o tema musical da série de TV do Incrível Hulk no filme de 2008. O que você achou do resultado disso? Quero dizer… e se diretores de cinema tivessem uma relação mais confortável com o material feito para TV?
Achei ótimo ele ter usado a música. Foi uma decisão muito esperta, na minha opinião. Eu gostaria que fosse sempre desse jeito.

Você acha que fazer música para TV exige mais habilidades técnicas ou inspiração e criatividade?
Eu acho que é totalmente criatividade. Apesar de que UM MONTE de coisas novas são baseadas em loops, samples e arquivos de sons, mas ao menos em programas para o público infantil você tem que ser muito criativo. A técnica é somente uma parte do processo. Eu gasto 10 horas por semana atualizando softwares, comprando novos plugs, sons, organizando meus arquivos, ouvindo coisas…

Como é o seu processo de composição? Você procura assistir a algumas cenas do programa para se envolver com o universo fictício para o qual você está compondo?
Geralmente não há nada para assistir, já que a maioria das trilhas que compus foi criada antes que houvesse qualquer animação finalizada. Eu geralmente recebo uma folha com uma breve descrição da história, e, se tiver sorte, algumas fotos dos personagens. Então cabe a mim aparecer com o que eu acho que é adequado ao programa.

Eu imagino que você tenha seu próprio estúdio… Quais equipamentos você usa para compor e gravar?
Eu uso Pro Tools como minha principal ferramenta. Tenho um Mac Pro Quad Core 4.0 e um PC VisionDaw para Gigastudio feito por encomenda. Tudo funciona via ethernet e fibra óptica. Um monitor Apple Cinema de 30 polegadas bem na minha frente. Eu não gosto de usar um monte de monitores (apesar de já ter feito no passado). Eu gosto de ter só um, então eu posso me focar em tocar e gravar, e não ficar me virando toda hora e ter que ficar arrumando a posição dessas coisas. Eu tenho cerca de 1.5 terabytes de samples. Alguns arquivos comerciais e outros pessoais. No Mac, eu tenho todos os RTAS VI já feitos e vários plugs VST que eu utilizo com o conversor VST2RTAS. Para os loops eu uso Ableton Live, e tenho cerca de 186 mil loops (lembre-se que eu venho acumulando esses arquivos há muito tempo). Eu estou construindo um novo quarto e começando a comprar novos instrumentos. Glockespiel, clarinetes, vibrafones, órgãos antigos, melofones e tudo mais que for barato e útil. Eu estou começando a usar mais instrumentos reais em meu trabalho atualmente. Eu acho que estou um pouco cansado de todos os samples.

Que tipo de música você gosta de ouvir? Você tem bandas ou artistas favoritos?
Eu escuto absolutamente tudo, então eu nunca tive favoritismos estabelecidos. Eu sou uma dessas pessoas que muda constantemente a estação de rádio até ouvir alguma coisa que me prenda. Eu me foco intensamente na produção e meio que armazeno aquilo na minha cabeça. Eu acho que é por isso que eu consigo compor em tantos estilos diferentes com uma certa facilidade. É porque eu escuto tudo o que for possível.

No Japão, alguns compositores que fazem música para animações e séries de TV adquirem status de verdadeiros popstars. Podemos citar Hironobu Kageyama como exemplo. Todo ano, cantores japoneses como ele se apresentam em shows ao vivo como o “Super Hero Spirits”, assistidos por um enorme público. O que você acha desse cenário, tão diferente do ocidente?
Isso é maravilhoso. Eu com certeza gostaria que isso acontecesse aqui nos Estados Unidos, mas a não ser que você seja empacotado como a Britney Spears e a mídia adote você como um artista, você é invisível neste país. A maioria das pessoas aqui nem sabe quem são Hans Zimmer ou John Williams.

Você já pensou na possibilidade de fazer shows apresentando músicas produzidas para séries de TV? Hoje em dia, com convenções de quadrinhos e eventos do tipo, isso atrairia um bom público…
Para ser honesto, eu não sou bem o tipo de pessoa que poderia liderar uma banda. No estúdio, eu posso refinar e criar até eu conseguir uma performance de mim mesmo que eu realmente goste. Ao vivo eu nunca poderia fazer isso. Eu tenho certeza disso por causa da minha banda Fisher. Nos apresentamos em programas de TV, como o de Jay Leno, com milhões de pessoas assistindo. Eu fico escondido tocando piano, nervoso pra caramba, e minha esposa, na frente do palco, fica calma e focada. Ela realmente tem aquela “coisa” que faz dela uma grande performer ao vivo.

Voltando a falar de Power Rangers, durante a segunda temporada da série, foi lançado o álbum Mighty Morphin’ Power Rangers – A Rock Adventure (lançado no Brasil com o título “Power Rangers – Rock Aventura”, com os dubladores da série cantando as músicas em português). O disco misturava as músicas com uma história, resultando em uma espécie de “ópera rock”. Ele foi lançado em muitos países e vendeu muito bem. Como foi a produção desse álbum?
Originalmente, o CD teria somente as músicas. Essa era a minha idéia, mas a Saban começou a ser muito pressionada por… hummm… vamos chamar de “grupos políticos” que diziam que a música era trabalho do diabo e era muito violenta. Para acalmar esses cabeças-ocas, a Saban decidiu que colocar diálogos nas músicas iria diminuir o elemento maligno do Hard Rock. Então, me deram uma fita de áudio com diálogos e me disseram para transformar o CD em uma espécie de livro de histórias. Ele vendeu cerca de 500 mil cópias, eu acho… Eu nunca recebi um número exato dos contadores da Saban… por que será?

Quais instrumentos você tocou na trilha sonora de Power Rangers? Você também foi o produtor?
Com exceção de algumas partes de guitarra solo aqui e ali, eu escrevi, toquei, gravei, mixei e produzi todas as faixas. Acredite em mim, era muito mais fácil fazer tudo sozinho naquela época, já que as datas de entrega eram malucas. Eu tinha que entregar uma música nova e trilhar um episódio por semana. Também compus para as séries VR Troopers, X-Men, Sweet Valley High e outros projetos que eles tinham naquela época. A agenda era insana.

Como você se sente a respeito da franquia Power Rangers?
Eu não sei. Eu assisti a alguns episódios atuais. A produção com certeza é muito boa. As histórias parecem boas… mas a música é ruim. É muito diferente agora do que era quando eu trabalhava no programa. Na nossa época, era tudo meio cafona… bobo, estúpido e exagerado. Mas ambas as eras são muito boas. No entanto, para reiterar, a música agora é fraca… mas essa é a Disney, pessoal!

Em quais temporadas dos Power Rangers você trabalhou?
Eu trabalhei nas temporadas Mighty Morphin’, Space, Turbo e SPD. Eles também usaram minhas trilhas nas temporadas Alien e Zeo.

Qual foi o impacto na sua carreira depois do sucesso de Power Rangers?
Eu estava muito ocupado trabalhando e a Saban fazia de tudo para me esconder de todo mundo, evitando que eu tivesse alguma idéia de deixar a empresa. LOL!

Existe uma grande confusão na Internet sobre quem teria criado o tema de Power Rangers. É possível ver muitos sites, tags de mp3 e vídeos no Youtube mencionando o guitarrista Buckethead como compositor do tema. Como você acha que essa confusão começou?
Eu não faço idéia. Eu acho que ele deve ter tocado na versão da trilha sonora do filme, não foi? Eu não estive envolvido nisso, nem fui convidado para o estúdio para ver a banda regravar o tema. Mais uma vez, a Saban me escondeu o melhor possível.

Na verdade, havia sim uma nova versão de Go Go Power Rangers na trilha sonora, creditada a The Power Rangers Orchestra. O encarte do álbum dizia que essa “orquestra” era formada por Eric Martin do Mr. Big nos vocais, Tim Pierce na guitarra, John Pierce no baixo, e Matt Sorum do Guns N’ Roses e Velvet Revolver na bateria. Buckethead não teve nada a ver com essa música. No entanto, gravou um solo de guitarra para outra faixa da trilha sonora, intitulada Firebird, de autoria de Graeme Revell. Então é realmente um boato muito estranho… Você não foi convidado para a regravação da música-tema, mas a trilha sonora contém uma faixa bônus de sua autoria, intitulada Cross My Line. Essa música foi feita exclusivamente para o filme?
Sim. Cross My Line foi feita para o filme.

Nós também podemos encontrar na Internet músicas da trilha de Power Rangers com o artista referido como Aaron Waters ou The Mighty RAW. Esses são seus pseudônimos? Qual o motivo disso?
A Saban pensou que se Ron Wasserman fosse creditado por fazer tudo, o público iria achar isso muito estranho. Então, me disseram para inventar um pseudônimo. Meu nome do meio é Aaron, e “Wasserman” significa “homem da água” em alemão. Então, eu adotei o nome Aaron Waters. Algum gênio do marketing então adicionou o The Mighty RAW no último momento, criando ainda mais confusão.

Você chegou a conhecer o elenco de Power Rangers? O que você pode nos dizer sobre eles?
Eu conheci os atores em um dia em que eles apareceram no meu estúdio depois de uma reunião que eles tiveram na Saban. Eles eram todos pessoas legais, mas eu era tão importante pra eles quanto um faxineiro, então eles não interagiam muito comigo. No entanto, os caras que interpretavam Bulk e Skull apareciam toda hora e eram duas das pessoas mais divertidas que eu já conheci. Absolutamente simpáticos, calorosos e totalmente humildes.

Você já assistiu a alguma das séries “super sentai” originais do Japão?
Nunca assisti.

Como foi o seu retorno à franquia Power Rangers na temporada SPD?
Eu estava entusiasmado com a SPD. Eu realmente esperava que a Disney deixasse o show ter a trilha sonora de Rock novamente, mas eu vi que isso não ia acontecer um ano depois, quando ouvi o tema da temporada Mystic Force, que era rap.

Por que você deixou a franquia novamente após SPD e como é o seu relacionamento atual com a Disney?
Eu coloquei na Internet os temas rejeitados que eu tinha produzido para Mystic Force. Alguns dos fãs realmente gostaram das minhas múiscas e ficaram furiosos com a Disney por mudar drasticamente de Rock para Pop e Rap. Eu acho que essa resposta realmente irritou a Disney e eu nunca mais fui convidado para fazer algum trabalho para Power Rangers novamente. Sinceramente, eu não ligo. A Disney não é meu ideal de lugar para trabalhar e eu realmente não me adequo ao mundo deles. Eu tenho noção do quanto eles são uma ENORME companhia e têm um monte de programas de sucesso, mas eu não faço o estilo deles e também não acho que eles fazem o meu.

Você produziu trilhas para a adaptação norte-americana do anime Dragon Ball Z. O que exatamente você produziu? No Brasil, a série foi ao ar com as músicas originais japonesas dubladas em português. Você compôs novas músicas de abertura e encerramento para a versão dos Estados Unidos?
Eu fiz somente as trilhas de fundo (music score). Umas trilhas muito obscuras e etéreas. Eu trilhei os 26 primeiros episódios que foram ao ar nos Estados Unidos. Eu também acho que eles usaram minhas trilhas nos episódios seguintes.

Quais dos seus trabalhos o deixam mais orgulhoso?
Obviamente os temas de Power Rangers, porque eles inspiraram crianças a tocar guitarra e escrever músicas. Também a música I Will Love You, da minha banda Fisher, por todos os relacionamentos que salvou, os funerais e casamentos em que foi utilizada e principalmente pelas poucas pessoas que declararam que foram impedidos de cometer suicídio porque sentiram um momento de esperança ao ouvir a música. Estes são os dois trabalhos principais, mas eu sinto orgulho de qualquer música que compus que tenha tocado ou ajudado alguém. Não há melhor recompensa que eu possa receber.

Você também faz músicas para videogames. Poderia citar alguns títulos em que você trabalhou? E o que você acha desse ramo de trabalho?
Quando eu fiz essas trilhas, era uma coisa que estava começando a explodir. Eu trabalhei em Ace Ventura Pet Detective e dois jogos de Monthy Python. Ambos para PC, por volta de 1997. Eu não estou certo se eu estaria interessado em compor para games agora (nunca diga nunca), porque eu realmente, realmente, amo trabalhar com televisão para, você sabe, jovens e crianças. Talvez eu fique BEM MAIS empolgado com games quando meu filho (que agora tem quatro anos) começar a jogá-los.

Sobre esses jogos de Monty Python, como foi a experiência de trabalhar com esta franquia?
Foram dois jogos: “Meaning of Life” e “Complete Waste of Time”. Eu trabalhei com alguns dos integrantes do elenco: Eric Idle e John Cleese. Eles eram brilhantes pra CA*****! Eu me contorceria para trás e beijaria meus calcanhares para poder trabalhar com aquele grupo novamente!

Quais são seus trabalhos mais recentes e futuros?
Esse está sendo um ano de transição para mim. Há grandes mudanças acontecendo na indústria de animação. Posso citar uma companhia em particular para a qual eu fiz toda a música deles: DIC. A empresa foi vendida e todo mundo que eu conheço que trabalhava lá foi demitido. Eu estou vendo essas coisas acontecendo, então eu estou começando um novo negócio com um amigo muito próximo e, embora eu não possa falar muito sobre isso agora, se tudo ocorrer como planejado, eu estarei com um monte de novas músicas em alguns programas nas temporadas de 2009 e 2010. Está sendo um ano mais lento do que o comum para mim, porém eu escrevi o tema de uma organização chamada Mommy and Me, trilhei um jogo online do Batman para a Warner Brothers, licenciei algumas faixas (da minha banda Fisher) para televisão e, mais recentemente, estive compondo para o Bob Esponja – o que tem sido muito divertido, porque estilisticamente a música é muito diversificada. As primeiras músicas que fiz para essa série foram Hard Rock. Eu não posso falar sobre o contexto em que aparecem porque os episódios ainda vão ser lançados até o final do ano.

Que música feita para uma trilha sonora você gostaria de ter feito? Cite algumas músicas que você realmente admira.
Os temas de Friends, Jimmy Nêutron, The Secret Show, Os Sopranos… só consigo pensar nestes agora.

Qual compositor de trilhas sonoras você mais admira? Existe alguém com quem você gostaria de trabalhar?
Uma vez que todos os grandes nomes têm “compositores fantasmas” escrevendo material para eles, não consigo citar muitos nomes. Eu admiro as trilhas que Hans Zimmer fez, especialmente para O Código Da Vinci. Aquilo foi arrasador. Eu achei a trilha do filme dos X-Men excelente também… Michael Kamen.

Você poderia falar um pouco mais sobre essa história de “compositores fantasmas”?
São os caras que ficam escondidos por trás dos grandes nomes e escrevem uma boa parte do material produzido. O compositor, que leva o crédito, então filtra e faz alguns ajustes nessas composições. Como mais poderia um cara compor para 10 filmes por ano, além de outros projetos? Eles simplesmente não têm tempo para fazer todo esse trabalho.

Se você pudesse escolher qualquer personagem ou série para compor uma música-tema, o que você escolheria?
Eu adoraria escrever um tema para a Marvel ou para a DC Comics. Eu acho que as histórias deles são excelentes, e gostaria do desafio de escrever um grande e gordo tema orquestrado para um herói.

Você sabia que existe outro Ron Wasserman, que também é casado com uma mulher chamada Kathy? Olha só (ou esse na verdade é você também?).
Não, esse não sou eu. No entanto, Ron e eu trocamos e-mails algumas vezes somente para dizer “oi”.

Encerrando essa entrevista, por favor diga algo para o público do DELFOS, nossos leitores brasileiros que admiram o seu trabalho!
Eu estou profundamente honrado que alguns de vocês saibam quem eu sou, e tomaram algum tempo de suas vidas para ler essa entrevista. Eu só posso esperar que vocês tenham gostado de alguns dos meus trabalhos no decorrer dos anos e eu certamente vou trabalhar para criar mais músicas no futuro que respeitem vocês. Obrigado.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Ron Wasserman, visite seu site oficial.

 

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