A parte inferior da capa do livro exibe, orgulhosa, a seguinte frase: “Mais vendido na lista do New York Times”. Você, caro delfonauta, acha que isso é por acaso? Claro que não, certo? Afinal, o assunto aqui é a autobiografia do Príncipe das trevas! Não Satã… Ozzy Osbourne!
Escrito pelo próprio (com a providencial “mãozinha” de um certo Chris Ayres), Eu Sou Ozzy conta, de forma muito engraçada, a trajetória do Mr. Madman no Black Sabbath e em carreira solo. Sob esse aspecto, o livro traz duas seções que distinguem as fases de sua evolução – por assim dizer – como artista:
Parte Um: No Começo
É o lado cômico do livro. Aqui, o cantor conta como foi sua vida pré-estrelato. Começa a narrativa já adolescente, em Aston, Inglaterra. Um lugarejo habitado por operários, onde viviam os Osbournes. Ozzy tentou ser ladrão, mas sua incompetência o fez parar na prisão.
Logo após a saída do xilindró, John Michael Osbourne tentou vários empregos. Foi abatedor de animais, afinador de buzinas, e teve um trabalho onde sua vocação para drogado começou a aparecer.
Ozzy abandonou todos os empregos comuns – de formas completamente bizarras, claro. Afinal, o que ele queria mesmo era ser um rockstar! A coisa não deu certo logo de início, mas o destino deu aquele proverbial empurrão, colocando-o frente a frente com um antigo conhecido dos tempos de escola: Tony Iommi.
O vai-e-vem que a formação sofreu até tornar-se sólida prenunciava o quão caótica seria a vida artística daqueles britânicos. A certa altura do campeonato, Iommy aceitou um convite para tocar no Jethro Tull, mas acabou retornando ao Black Sabbath por não gostar da idéia de ser um músico contratado (seu ego inflado em pleno funcionamento?).
O único show em que o bigodudo tocou com a trupe de Ian Anderson pode ser conferido no DVD Rock And Roll Circus, de 1968, em que o The Rolling Stones (leia Mick Jagger) foi anfitrião de um espetáculo circense, cujas atrações foram bandas de rock.
No meio de uma rotina regada a sexo, (muito mais) drogas e rock’n’roll, a banda seguiu gravando excelentes álbuns, mas Ozzy e o co-autor do livro encontraram outro fio condutor para dar liga à obra: a facilidade do vocalista para se viciar em QUALQUER COISA que o deixasse ainda mais louco do que já era. Veja bem, delfonauta, todos os integrantes do grupo eram viciados de carteirinha. Mas Ozzy Osbourne superava Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward juntos!
Parte Dois: Recomeço
O Black Sabbath já estava mal das pernas. Seus últimos álbuns não venderam tanto, e Ozzy – cada vez mais chapado – pisava na janta dos colegas de banda, que já nem se consideravam tão amigos assim. Foi aí que se deu a famosa cisão: Tony e os caras deram um tchau para o seu vocalista, que cedeu o posto para o tremendão Ronnie James Dio.
Falido e abandonado, Ozzy contou com a ajuda de Sharon, filha do empresário Don Arden, para se reerguer. Enquanto sua antiga banda lançava Heaven And Hell, poderoso disco com uma maravilhosa faixa-título, ele atacou de Blizzard of Ozz – disco cujo nome tinha em mente desde a época do Sabbath.
Depois da tresloucada Sharon, que posteriormente teria Osbourne agregado ao nome, uma figura extremamente importante para a carreira solo de Ozzy foi o fenomenal guitarrista Randy Rhoads. Ex-membro do Quiet Riot, Randy entrou para o novo grupo de Ozzy Osbourne sem se esforçar demais; apenas exalando seu indiscutível talento. Talento que até hoje o faz figurar na lista dos maiores de todos os tempos.
Se a primeira parte do livro pode ser considerada uma antologia de palhaçadas e situações bizarras, a segunda metade trata de assuntos sérios. Ou de como as comédias promovidas pelo Mr. Madman foram se tornando casos de polícia. Mas, ainda mais pesado do que o comportamento autodestrutivo de nosso protagonista, sem dúvida foi o acidente que vitimou Rhandy e Rachel (uma senhora que integrava a equipe do cantor).
Em uma das viagens da banda, Rhandy teria dito a Ozzy que não se interessava mais em tocar rock. Sua veia musical com certeza era clássica, e ele faria faculdade para seguir atuando no estilo. A decisão foi comunicada ao chefe exatamente no dia em que tudo aconteceu. E o relato de Ozzy sobre o retorno ao local do acidente constitui um momento de grande emoção.
No mais, roubalheira de empresários, vexames de um Ozzy que vivia chapado e, claro, canções que sempre estarão nos corações dos fãs, como Mr. Crowley e No More Tears (para citar momentos distintos de sua carreira solo). Mas se você acha que só disso é feito o livro, acredite: Ozzy Osbourne é o rockstar mais humano de todos. Reconhece que não há retorno, pede desculpas pelas pisadas na bola e, sobretudo, nunca disfarça suas inúmeras falhas.
Se os vícios de John Michael Osbourne foram o plot das páginas de sua biografia, o abandono dos mesmos significa um encerramento com chave de ouro. Ozzy cita o guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, com quem faz uma dupla de roqueiros cuja sobrevida é um mistério. De fato, é difícil imaginar algum entorpecente que os dois não tenham consumido.
No fim das contas, tudo o que o veterano do Heavy Metal (honraria que rejeita com veemência) gostaria era ser um pai e um marido decente. Mas, infelizmente, entre ele e suas famílias – seu primeiro casamento foi com uma mulher chamada Thelma, ainda na década de 1970 – havia a rotina desregrada de um roqueiro.
Seja pelo extinto reality show The Osbournes, pelo seu trabalho no Black Sabbath, carreira solo ou conjunto da obra, se você já era fã de Ozzy Osbourne, o livro Eu Sou Ozzy tem ótimas chances de fazê-lo admirar o sujeito ainda mais. Se, por ventura, você não aprecia seu trabalho como artista, pelo menos enxergará motivos para gostar dele como ser humano.