Eternal Strands é ambicioso. Apesar de ser um jogo independente, feito por um pequeno time, ele pega mecânicas de jogos muito mais endinheirados. Muito aqui lembra, especificamente, Monster HunterDragon’s Dogma, embora algumas batalhas com monstros gigantes sejam deliciosamente remanecescentes de um Shadow of the Colossus. Infelizmente, esta é a única vez que vou usar uma variação de delicioso neste texto.

A ROTINA DE ETERNAL STRANDS

Eternal Strands, Yellow Brick Games, Delfos
O visual é legal, mas o mission design precisava de mais cuidado.

A rotina é bem semelhante à de Monster Hunter. Há um punhado de mapas, e estes mapas não são fases, mas mundos abertos medianos, com vários caminhos e pontos de interesse. Você escolhe um deles e vai numa expedição para cumprir missões, e depois volta para a base para guardar o loot conquistado e fazer os upgrades equivalentes.

Há dois enormes problemas nesta rotina. O primeiro é que em geral as missões são pura perda de tempo. A maioria delas envolve coisas como “mate inimigos comuns até seis deles droparem o quest item“. É coisa que Destiny e outros jogos de serviço fazem para encher linguiça, mas embora a campanha seja quase totalmente composta de missões assim, Eternal Strand não é um game de serviço. Outro exemplo? Colete várias plantinhas que só podem ser vistas à noite. Se isso não te animou, Eternal Strands simplesmente não é para você.

O SEGUNDO PROBLEMA MERECE UM INTERTÍTULO PRÓPRIO

O segundo problema, e talvez o mais importante, pois foi o que me fez parar de jogar, é que não parece haver uma forma de voltar para o acampamento quando uma missão é cumprida. Tem uns portais de fast travel, mas eles ficam bem distantes (dificilmente um mapa tem mais de um) e você precisa ativá-los antes de usar, e não basta interagir com eles. Um exemplo: eu atravessei um mapa, literalmente de lado a lado, e o objetivo da missão estava do lado de um desses portais. Mas para ativá-lo, eu precisava de um upgrade num poder que ainda não tinha. Resultado: tive que voltar por todo o caminho só para poder sair dali e completar a missão. E depois de ter o upgrade, voltar tudo de novo para ativar o portal.

Eternal Strands, Yellow Brick Games, Delfos
As missões de história de Eternal Strands dificilmente são mais interessantes do que um fetch quest bem básico.

No começo do jogo, uma personagem falou que ia me dar um equipamento que permitia voltar ao acampamento, mas nenhum tutorial apareceu e não tem nada que eu possa usar ou ativar no meu inventário. Talvez exista uma forma de sair, mas eu não consegui descobrir, e é o tipo de coisa que quando a gente está jogando antes do embargo e não tem para quem pedir ajuda, como foi meu caso aqui, parece sem solução. Devo dizer que se o jogo não fosse tão focado em fetch quests e vai e vem através de mapas muito maiores do que deveriam ser, eu talvez tivesse ido mais longe na campanha. Quiçá até terminado.

UPGRADES EXTREMAMENTE COMPLICADOS

Tudo aqui é extremamente complicado. Há uma infinidade de moedas, só para o jogo dizer que tem um sistema de crafting. E é bem comum você querer um upgrade e não poder fazer porque te falta uma moeda que não tem ideia de onde encontrar. Some isso a inimigos com vidas quase infinitas e, mesmo no easy, a demora para vencer qualquer bichinho padrão só contribui para o tédio.

Eternal Strands, Yellow Brick Games, Delfos
As batalhas contra bichos gigantes são o melhor do jogo.

Talvez o mais interessante do jogo sejam as brigas contra criaturas enormes, que puxam diretamente de Dragon’s Dogma. Dragões, estátuas gigantes, esse tipo de coisa. Nestas batalhas, você pode escalar livremente pelo inimigo e atingi-lo até sua stamina esvaziar e você cair. É muito legal subir nas costas de um dragão e ficar apunhalando o desgramado enquanto ele voa. Lembra que citei lá atrás o Shadow of the Colossus?

Estas batalhas também têm um tantinho do clássico de PS2, pois se você atacar o bicho nos lugares certos, pode ganhar loots melhores, usados para adquirir novos superpoderes. Meus melhores momentos com Eternal Strands foram estas lutas, mas curiosamente, elas parecem existir como “caçadas”, objetivos opcionais para adquirir loot que vira novos poderes. Ou seja, em geral não fazem parte da história. Na história parece que o objetivo é sempre procurar plantinhas ou algo parecido.

ETERNAL STRANDS É PERDA DE TEMPO

Eternal Strands, Yellow Brick Games, Delfos
Nada diz perda de tempo como querer sair do mapa depois de cumprir a missão e ter que matar um bicho que está te seguindo há quilômetros.

Já falei isso antes, mas quanto mais velho fico, mais quero jogos que me divirtam imediatamente, sem dar a sensação de estar perdendo tempo. Este não é o caso de Eternal Strands. O jogo é bonito e dá para ver o trabalho que deu para nascer. Mas cada vez que o jogo te avisa que você pegou plantinhas suficientes e precisa voltar o mapa inteiro para poder sair é uma lembrança de que poderia estar fazendo algo mais produtivo com a minha vida. Tipo olhar tinta secar ou grama crescer. Taí, duas atividades muito mais produtivas do que continuar jogando Eternal Strands.