Quando recebi o convite para a coletiva de Zuzu Angel, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: quem é essa tal de Zuzu?
Zuleika Angel Jones, nascida em Curvelo (MG) em 1923, foi uma das maiores estilistas do país. Para se ter uma idéia, entre seus clientes estavam nomes como Joan Crawford, Kim Novak, Liza Minelli e Ted Kennedy. Mas como nada é perfeito, seu filho, Stuart, se junta ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (o popular MR-8) durante o regime da ditadura militar. O rapaz é preso, torturado e assassinado. Zuzu parte então em busca da verdade sobre o caso, só para encontrar um destino muito similar ao do filho.
Muito bem, esclarecida a questão, esta é a história verídica que será levada às telas – as filmagens começam em 6 de setembro e terminam em 3 de novembro – pelas mãos do diretor Sergio Rezende (de Quase Nada, Lamarca e Guerra de Canudos), com produção de Joaquim Vaz de Carvalho.
Além deles, estavam na coletiva de apresentação do projeto, Carlos Eduardo Rodrigues e José Carlos de Oliveira, representantes, respectivamente, da Globo Filmes e da Warner Bros. Pedro Farkas, o diretor de fotografia, solenemente ignorado pelos repórteres presentes, inclusive por este que traça estas humildes linhas; Elke Maravilha (essa dispensa apresentações), que foi amiga de Zuzu e fará uma participação especial no filme; e as atrizes Patrícia Pillar e Leandra Leal.
O produtor Joaquim Vaz de Carvalho abre a entrevista com dados sobre a produção. “O orçamento é de R$ 5,5 milhões (bem generoso para uma produção nacional), a Warner é a patrocinadora majoritária, mas há também o envolvimento da Petrobrás e da Infraero, entre outras. Serão duas semanas de filmagens no Rio de Janeiro, seis em Juiz de Fora e também haverá algumas cenas em Nova Iorque”.
A seguir, Sergio Rezende falou sobre seu envolvimento no projeto. Ele havia feito Mauá – O Imperador e o Rei junto com Joaquim. Nessa época, já havia a idéia de se contar essa história. Após concluir Quase Nada (o mesmo nome de uma dos maiores vilões da televisão), em 2000, Joaquim veio novamente com a idéia. “Achei que era o momento. Sou apaixonado pelo Brasil e Zuzu também era. Ela introduziu o Brasil na moda. É uma personagem fascinante e o filho (Stuart) também. O projeto me atraía, são grandes histórias e personagens”.
Para aqueles interessados na parte fashion da produção, Sergio promete fidelidade. Segundo ele: “os figurinos de Kika Lopes estão sendo acompanhados pelo Instituto Zuzu Angel (criado para preservar o legado da estilista). Foi tudo recriado”, complementa.
Patrícia Pillar recebeu a missão de protagonizar o filme na pele de Zuzu. Ela falou um pouco sobre o processo de composição de sua personagem: “É um processo riquíssimo. Gosto de me envolver com a história da pessoa (a personagem que interpreta). É um processo de muita pesquisa. Me apaixonei pela coragem dela. Ela era mineira, se separou muito cedo e tinha muita atitude!”. Lembrou ainda que “coragem é ação que vem do coração. Ela (Zuzu) tenta todos os caminhos”. Mas Patrícia disse que ainda está no processo de criação da personagem. Ela pretende construí-la aos poucos. Terminou declarando: “pra mim já é um marco. Está sendo avassalador. Conhecia a história superficialmente, comecei a conhecer mesmo agora”.
Sergio complementa dizendo que Zuzu não faz parte do imaginário popular, então Patrícia não será uma cópia dela, como Daniel de Oliveira (que, por sinal, fará aqui o papel de Stuart) fez em Cazuza – O Tempo não Pára.
Sobre o envolvimento das herdeiras de Zuzu na fase de roteirização, Sergio Rezende, que assina o roteiro junto com Marcos Bernstein, responde: “foi nossa fonte primária (de pesquisa). É uma família esfacelada (pelas mortes). As filhas fundaram o Instituto e foram importantes na fase de pesquisa”. Porém, embora seja um filme baseado em fatos reais, não espere por cem por cento de verdade. O diretor avisa que “o filme vai ter coisas que não foram exatamente assim, mas expressavam a verdade”. Ainda sobre a construção do roteiro, afirmou: “é a espinha dorsal. Ouvir críticas e opiniões durante a construção do roteiro é fundamental”.
Sobre sua opção pessoal por trabalhar com histórias verídicas (cito novamente Lamarca, Guerra de Canudos e Mauá), respondeu: “é a tendência do cinema desde que foi inventado”. Citou os filmes de Eisenstein, os westerns e os filmes de guerra como exemplos. E complementou explicando seu gosto por temas da história brasileira: “A Vera Cruz só explodiu quando fizeram O Cangaceiro e Sinhá Moça”. O público quer ver o Brasil no cinema nacional. É difícil competir com Hollywood no gênero deles. O legal é atrair o interesse e discutir o Brasil”.
A seguir, Elke Maravilha falou sobre sua participação no filme. Detalhe: ela será interpretada por Luana Piovani. “Tive o privilégio de ser amiga de Zuzu e estou fazendo o filme com gente romântica. Essa tchurma tá a fim de mostrar quem ama o Brasil (SIC)”. Elke conheceu Zuzu em 1970 e a compara com uma mãe da Praça de Maio do Brasil. Entre frases bonitas (“o drama chora e a tragédia pranteia”) e engraçadas (“sou cachaceira assumida”), ela avalia o trabalho de Piovani: “a Luana é uma gracinha. Ela está me estudando. Fisicamente é muito fácil (Elke acha que Luana é parecida com ela quando jovem)”, mas diz que não vai acompanhar o trabalho da atriz de perto, pois confia nela. Sobre o personagem que ela interpretará, disse: “me sinto homenageada. O Sergio inventou um personagem para mim. É uma cantora de cabaré alemã. Ela vai cantar uma música de guerra alemã”.
Um jornalista pergunta como o filme irá tratar as mortes de Stuart e Zuzu. Sérgio responde que o inquérito (da morte de Zuzu) primeiro concluiu se tratar de morte acidental. Mais tarde foi reaberto e chegou-se a assassinato. O filme também irá mostrar as torturas, mas avisa que o interesse não é chocar. “Não quero fazer da violência um espetáculo”, citando Kill Bill (aproveite para ler as resenhas do Vol. 1 e do Vol. 2) como exemplo. Pô, mas Kill Bill é tão legal…
Leandra Leal, que irá interpretar Sônia, a esposa de Stuart, ficou calada a maior parte da entrevista. Só foi acionada para falar um pouco sobre a sua personagem e sobre como será trabalhar junto com a mãe (Ângela Leal). “Eu não vou encontrar com ela nas filmagens. Minha mãe faz só uma participação”. Sobre sua personagem: “Sônia foi presa, depois vai para Paris. Quando Stuart morre, ela volta e morre em 73. Ela foi torturada…”. Conclui com uma frase que sintetiza bem o espírito da história: “Foi punk!”.
Complementou dizendo como se preparou para o papel: “Li um livro e vi um filme. Há poucas informações da vida privada dela (de Sônia)”. Sua personagem está em “poucas e pontuais cenas. Estou pensando em muitas coisas ainda. A personagem tem uma convicção muito grande, é uma pessoa forte”.
A coletiva termina com uma brincadeira de Patrícia Pillar respondendo a um jornalista que está fazendo um curso de corte-e-costura em preparação para o filme. Risos. Depois é hora das atrizes posarem para fotos e finalmente chega o momento de ir almoçar (oba!). Agora é esperar o ano que vem para conferir o filme e uma eventual coletiva de estréia.