Django Livre

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Amigo delfonauta, 2013 mal começou e não existe maneira melhor de saudar um novo ano cinematográfico (e esta é minha primeira resenha escrita este ano) que com um novo longa de Quentin Tarantino, visto que Django Livre estreia hoje nos cinemas tupiniquins.

O diretor continua passeando por gêneros diferentes, explorando suas diversas referências e fazendo a mistureba pop que já é sua marca registrada. Após homenagear os longas podreira em À Prova de Morte e fazer seu filme de guerra em Bastardos Inglórios, agora é a hora dele saudar nada menos que o faroeste em Django Livre, principalmente o subgênero conhecido como western spaghetti, popularizado pela dupla Clint Eastwood e Sergio Leone.

THIS IS DJANGO FREEMAN

A história é simples. Os caminhos do caçador de recompensas Dr. King Shultz (Christoph Waltz) e do escravo Django (Jamie Foxx) se cruzam por acaso, mas eles acabam ficando amigos e King liberta Django. Este, por sua vez, só tem um objetivo: encontrar sua esposa (Kerry Washington), que foi comprada pelo cruel fazendeiro sulista Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Eventualmente todos esses personagens vão se encontrar e as balas vão voar.

Enquanto isso não acontece, contudo, ainda há bastante filme, e muitas oportunidades para Tarantino desenvolver seus personagens, apresentar seus característicos diálogos verborrágicos e sensacionais e criar inúmeras situações que, se não contribuem necessariamente para o andamento da trama principal, por outro lado são incrivelmente divertidas.

Esse filme, aliás, lembra muito Bastardos Inglórios pela similaridade dessa estrutura, onde muito do que é mostrado não necessariamente influi no desenvolvimento da história. E, embora isso, friamente falando, seja supérfluo, essas partes são justamente as que mais entretêm.

Sabe como no filme onde Hitler é assassinado por judeus estadunidenses, os Bastardos não são o principal componente do longa e até aparecem pouco? Neste acontece algo parecido. Django, apesar de batizar a produção, não é o melhor que ela tem a oferecer. Sim, meu amigo, novamente Christoph Waltz rouba a cena e dá um show.

Mais uma vez ele constrói uma figura de fala mansa, cheia de maneirismos e ares excêntricos, bem parecida com o Coronel Hans Landa. Mas dessa vez seu personagem é do bem, então você pode torcer por ele sem culpa alguma. Seu personagem e sua interpretação são tão poderosos que em muitos momentos é fácil esquecer que o roteiro foi todo construído em cima do Django e me peguei pensando que esse filme devia mesmo era levar o nome do Dr. King Shultz.

São as sequências em que ele lidera a ação, seja caçando algum bandido, seja na construção de seu relacionamento com Django ou treinando-o como seu parceiro, que a película encontra seus melhores momentos.

VOCÊ SABE O QUE É UM CAÇADOR DE RECOMPENSAS?

E se há humor, como não poderia faltar (os diálogos na cena das máscaras são antológicos), muito sangue e vários momentos tensos, onde a possibilidade de algo sair horrivelmente errado é sempre bastante real, há também defeitos.

Para começar, tanto Leonardo DiCaprio quanto seu personagem são completamente subaproveitados. Ele só protagoniza de fato uma cena boa (toda a parte do jantar), o que é muito pouco. Seu Calvin Candie é, de longe, o pior vilão já visto em um filme do Tarantino, e não me refiro ao seu nível de maldade, mas de personagem mesmo.

Segundo, Tarantino abusou na metragem deste longa. Nada contra filmes grandes, desde que sua duração se justifique. E há aqueles que defenderão que quanto mais Tarantino tivermos, melhor. Mas aqui dava para cortar meia hora de projeção sem dó, porque a sequência que tem cara de clímax acontece nessa marca.

Mas aí o filme continua, esticando-se desnecessariamente, perdendo muito de sua força e todo esse trecho acaba funcionando mais como um frio anticlímax, pois o melhor já ficou para trás faz tempo. Como roteirista experiente que é, Quentão Tarantino deveria ter feito o simples e encerrado sua história no ponto que pedia naturalmente por isso.

Este aqui talvez seja o filme mais problemático do diretor, tanto em termos de roteiro (há alguns outros problemas menores) quanto em estrutura. E ainda assim, um Tarantino defeituoso é muito superior à média do que é despejado nos cinemas semanalmente.

É provável que Django Livre não figure entre sua escolha de trabalhos favoritos dele, mas é um longa que merece ser assistido. Pode ir ao cinema sem medo. Não é tão bom quanto trabalhos anteriores do cara, mas sua parcela de diversão está garantida.

CURIOSIDADES:

Jonah Hill faz uma ponta na hilária cena das máscaras feitas de sacos.

– Essa alguns podem considerar spoiler, embora não tenha nenhuma informação relevante. Esteja avisado ao selecionar: Eu achei bizarro, na cena do jantar, quando a mão do Leonardo DiCaprio começa a sangrar do nada. Acontece que, num dos takes, ao bater na mesa, ele cortou a mão numa das taças e preferiu continuar filmando. Isso é que é dar o sangue por um filme! E eu tinha que encerrar com uma piadinha infame.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
django-livrePaís: EUA<br> Ano: 2012<br> Gênero: Faroeste<br> Duração: 165 minutos<br> Roteiro: Quentin Tarantino<br> Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Walton Goggins, Dennis Christopher, James Remar, Michael Parks e Don Johnson.<br> Diretor: Quentin Tarantino<br> Distribuidor: Sony<br>