Dio em São Paulo (15/7/2006)

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Leia mais sobre a voz do Metal:

– DVD – Holy Diver Live – Oh, don’t you see what I mean?
– Compre aqui o Holy Diver Live.
– Show do Dio de 2004 – Simplesmente Maravilhoso.
– DVD Evil or Divine – Um arco-íris no escuro.

Essa é a quarta vez que eu tenho o privilégio de assistir a um show do Dio. A primeira foi em um festival, se não me engano em 1997. As outras três foram as vezes seguintes que o cara tocou no Credicard Hall (duas das quais têm resenhas delfianas). Aliás, uma curiosidade é que o Dio é o primeiro a ter dois shows com resenhas do DELFOS. Um fato importantíssimo para nossa história, diz aí.

Se tenho poucas lembranças do show de 97 (já que conhecia muito pouco do cara na época), lembro que o show da turnê do Magica foi um grande e fedorento cocô, pois o cara decidiu tocar esse chatíssimo disco quase inteiro e na ordem. Por causa disso, no show de 2004, minhas expectativas estavam realmente baixas, mas o baixinho detonou (como você pode ler na resenha cujo link consta no início desta matéria). E agora, minhas expectativas para esta quarta apresentação eram as mais altas possíveis, até porque se trata da turnê do tremendão DVD Holy Diver Live.

Infelizmente, minhas expectativas foram frustradas quando vi o setlist que o baixinho mandou no Rio e em Curitiba. Poxa, ele tirou músicas tremendonas como Tarot Woman e Gates of Babylon para colocar chatices como All the Fools Sailed Away.

Mesmo assim, na cara e na coragem, fui cobrir o show com a melhor das intenções. Enquanto a assessora colocava a pulseirinha de imprensa no meu braço, reparei no setlist que estava na mesa. Gates of Babylon realmente não fazia parte dele e All the Fools Sailed Away ainda estava lá, mas tinham sido acrescentadas Mob Rules e Neon Knights, o que faria toda a diferença, pelo menos para mim, já que são duas das minhas preferidas (você pode ver uma imagem desse setlist na nossa galeria de fotos).

Como sempre, a assessora disse que eu poderia fotografar nas três primeiras músicas, mas acrescentou que durante “essa música” (falou isso enquanto fazia um sinal com caneta na Mob Rules), poderíamos fotografar novamente. Perguntei se haveria alguma coisa de especial nessa música e ela disse que não. “Curioso”, pensei com meus botões, mas rumei em direção à pista para aguardar o show começar. E demorou pra burro. Como se não bastasse minha ansiedade para curtir novamente uma das minhas músicas preferidas ao vivo (Stand Up and Shout) e a vontade de acrescentar ao meu portfólio fotográfico mais uma lenda do Metal – é uma sensação indescritível pensar que em dois anos de DELFOS já tive oportunidade de fotografar quase todas as minhas bandas preferidas (como essa e essa) – o atraso se tornou quase insuportável.

Pouco antes das 22:30, o tradicional aviso de segurança começou e lá fui eu em direção ao chiqueirinho dos fotógrafos, onde os próximos 10 minutos foram uma espera interminável. Finalmente, às 22:39, o show começou. A banda entrou calmamente no palco e iniciaram uma melodia lenta. Pouco depois, Ronnie James Dio entra andando e começa a cantar. Era Children of the Sea, do Black Sabbath, péssima escolha para se abrir um show, diga-se de passagem. Não pela música ser ruim (não é), mas porque um concerto de Rock deve começar rápido e empolgante, com uma música agitada como Stand Up and Shout ou Tarot Woman, que abre o show presente no DVD Holy Diver Live. Curiosamente, a faixa rápida e empolgante foi a segunda, I Speed at Night, seguida pela banguéavel One Night In the City. Aliás, uma curiosidade, o Dio é tão baixinho, que mesmo ele estando a um palmo da minha câmera, eu precisava dar zoom para que ele preenchesse o frame. Engraçado, não?

Então, em meio aos gritos da platéia chamando seu nome, o baixinho explica que ano passado eles tocaram o Holy Diver inteiro na íntegra, mas que não fariam isso hoje. Mesmo assim, gostariam de tocar algumas músicas desse disco. Obviamente, a platéia não reclamou e finalmente chegou o momento tão esperado por mim: Stand Up and Shout, que foi emendada na clássica Holy Diver e na menos conhecida Gypsy.

Aliás, acredito que, apesar de eu gostar mais da Stand Up and Shout, Holy Diver foi a mais divertida do show, com seu riff absurdamente bangueável e sua letra pegajosa cantada em uníssono por toda a platéia. Nessa hora até comentei com a Heloísa, minha assistente nesse show, que essa música era muito bangueável, ao que ela respondeu que Dio sempre é. Não diria que sempre é, já que músicas como Stand Up and Shout e Long Live Rock And Roll são mais “puláveis” do que “bangueáveis”.

Bom, depois dessa trinca, vem aquela parte chata e obrigatória em shows de Metal: o solo de bateria, que seguiu a velha fórmula apresentada por mim nesse texto com o acréscimo do novo clichê, a parte onde o baterista acompanha um playback orquestrado. Enfim, chato como sempre. E Simon Wright é um baterista que deixa muito a dever, na minha opinião. Tenho a impressão que ele ainda acha que toca no AC/DC, com suas levadas duras e sem graça.

Depois do solo, vem o primeiro acréscimo estranho ao setlist (em comparação com o DVD): Sunset Superman, música que, embora não seja chata, é completamente dispensável. De qualquer forma, a galera pareceu se divertir, acompanhando sua levada com palminhas sincronizadas, o que foi bem divertido. Palminhas são legais.

Hora de mais sucessos e Ronnie começa aquele discurso que ele sempre faz de “essa é a parte em que eu me sinto mal, pois essa música fala de pessoas que você não conhece e eu sinto que conheço cada um de vocês”. Sim, estamos falando da “pulável” Don’t Talk to Strangers, que sempre é uma das preferidas do público. Isso ficou bem claro no início da parte pesada, onde a galera acompanhou a letra junto com o baixinho vitaminado. Outra parte emocionante foi a segunda parte lenta, cuja sintomática letra “Don’t dream of women / they’ll only bring you down” foi cantada de forma muito forte por todo os caras que estavam no Credicard Hall. Pelo jeito São Paulo está em uma época de decepções amorosas. 😉

Rainbow in the Dark, talvez a música mais famosa do duende, é a próxima e seus tecladinhos fofos fazem a galera pular e agitar assim que a reconhecem. Curiosamente, embora os teclados sejam a parte mais famosa da música e a que todo mundo mais gosta, eu sempre admirei mais o riff de guitarra, que acho realmente muito bom. Claro, essa também foi cantada por todos a plenos pulmões, incluindo o famoso trecho de “Hey!”, onde a galera fica com os punhos para o alto enquanto Dio canta o refrão. Ah, sim, a iluminação nessa música (e, em geral, no show inteiro) estava muito legal e parecia até que o palco estava iluminado por um arco-íris.

A próxima, segundo o setlist, seria o solo de guitarra que daria início à parte realmente pentelha do show. Mas começaram a tocar uma música desconhecida, o que gerou algum estranhamento em mim, já que Ronnie continuava no palco. Pouco depois, ele e os outros membros saem e Craig Goldie fica sozinho. Ou melhor, fica acompanhado apenas por sua cara de quem comeu e não gostou que, aliás, deve ser uma boa companheira, já que os dois não se separaram por nenhum momento. Como sempre faço nas partes chatas de shows, aproveitei para ir ao banheiro. Infelizmente, parece que cada vez mais pessoas compartilham desse meu hábito e nesse dia encontrei um banheiro completamente lotado, inclusive com fila para conseguir entrar.

Quando voltei à pista, Craig ainda estava solando e o negócio estava extremamente chato. O som da guitarra ficou bem ruim o show inteiro, principalmente nas partes limpas, afinal, a distorção disfarça. Não satisfeitos com o tédio que estavam causando, ainda veio o solo de teclado, que foi uma das coisas mais bisonhas que já vi. Scott Warren, aliás, é um cara engraçado, um poser no sentido original da palavra (antes dos bangers não praticantes transformarem isso em xingamento. Digo isso porque ele está sempre tocando com uma mão só, enquanto faz caras e bocas e fica com o casaco voando graças ao ventilador. Deveras engraçado, eu diria.

Quando peguei o setlist, já imaginei que essa seria a parte mais chata do show, não apenas pelos solos, mas pelas duas músicas que os seguiriam. A primeira delas foi I, música do disco Dehumanizer do Sabbath, talvez um dos álbums mais desconhecidos que Dio gravou. E se era para colocar uma música do Dehumanizer, poderiam ter colocado TV Crimes, que é mais conhecida e mais legal ou então, e eu sei que eu já disse isso antes, mas aposto que você concorda comigo, Gates of Babylon.

A seguir veio a também chata All the Fools Sailed Away, talvez a mais bisonha a ser incluída no setlist. Durante essas duas, era possível ver um ou outro perdido cantando ou agitando, mas o sentimento geral era de tédio e sono (posso dizer que se não fosse essa parte, este show seria um grande candidato ao Selo Delfiano Supremo).

Porém, esse sentimento estava para se dissipar, já que daí em diante começaria uma seqüência de fazer inveja a qualquer banda de Metal clássico, com algumas das mais conhecidas, divertidas e empolgantes músicas do estilo.

Dio dedicou a próxima ao saudoso Cozy Powell, baterista com quem tocou no maravilhoso Rainbow e começaram a tocar Stargazer (e nesse ponto, o Bruno Sanchez começa a chorar). Não, não, estou brincando. Infelizmente, não tocaram Stargazer. Ao invés disso, Dio disse que sempre fazem a próxima música quando vêm para cá e mandam Man on the Silver Mountain na íntegra, ao contrário do que costumavam fazer em todas as outras vezes que os assisti, quando ela era unida em um medley com a Long Live Rock and Roll.

Mas a melhor parte estava por vir, embora não fosse surpresa para aqueles que assistiram ao Holy Diver Live. Trata-se de um pedacinho da linda Catch the Rainbow, que considero uma das baladas mais especiais já compostas, pois, embora seja cheia de emoção, não tem o clima radiofônico que costuma habitar as baladas de Rock. Pelo contrário, tem um viés extremamente místico e emocionante, como só uma dupla dinâmica como Ronnie James Dio e Ritchie Blackmore seriam capazes de fazer. Infelizmente, foi literalmente um pedacinho, pois em menos de um minuto, já tinham iniciado a divertidíssima Long Live Rock and Roll, uma aula de como o Hard Rock deve ser. Infelizmente, por mais uma péssima decisão da banda, repetiram a imbecilidade feita no já inúmeras vezes citado Holy Diver Live e, depois da primeira estrofe, emendaram o solo, cortando fora mais da metade da música. Depois do solo, veio a tradicional paradinha para a galera cantar e terminou com Dio falando “Long live São Paulo, and Brasil, and Rock and Roll”. Hell, yeah, eu não conseguiria dizer melhor.

E então veio uma música que consegue ser tão tremendona quanto chata: Heaven and Hell do Black Sabbath. O começo dessa música é maravilhoso, emocionante e foi acompanhado espontaneamente pelo público em um belo ô-ô-ô. Fazem uma paradinha e Dio agita mais um ô-ô-ô e a galera, é claro, corresponde. Por mim, poderiam ficar nisso a noite toda, pois foi um dos pontos altos do show. Mas the show must go on e então continuam a música, passando pelos melhores momentos (o refrão e a parte rápida) e os momentos mais chatos (a parte lenta e instrumental, que para mim parece mais uma enrolação do que qualquer outra coisa). Aliás, na metade da música, fazem mais uma paradinha para o pessoal gritar Heaven and Hell e, como sempre, iluminam Ronnie em uma satânica e assustadora luz vermelha.

Hora da empolgação e começa a rápida e empolgante We Rock. Passei um bom tempo da minha carreira de banger em dúvida se gostava mais dessa música ou da Stand Up and Shout. Hoje, embora já tenha decidido que gosto mais da segunda, a primeira ainda está entre as minhas preferidas do baixinho. Por este motivo, me uni à galera e cantei We Rock com todas as minhas forças.

A banda sai do palco por alguns segundos, só para cumprir a burocrática pausa para o bis e o duende fala ao microfone “Uno más?”. A galera, obviamente, diz que sim e começam a famosa The Last in Line. Estava com um tremendo clima de última música, mas como eu tinha o setlist, sabia que o melhor ainda estava por vir: Mob Rules e Neon Knights.

Ao final de The Last in Line, comecei a me dirigir novamente ao chiqueirinho. Admito que não estava com vontade de voltar lá e ficar fotografando durante duas das músicas que mais queria ouvir, afinal, segundo a assessora, não haveria nada de especial e eu já havia tirado mais fotos do que precisava. Mesmo assim, é melhor prevenir do que remediar e lá fui eu.

Quando estava chegando ao chiqueirinho, Ronnie disse que tinham um convidado especial. Meu coração de fã já pensou: “Putz, é o Tony Iommi”. Claro, não era. Ao invés disso, quem subiu ao palco foi Andreas Kisser, do Sepultura. Admito que achei essa participação meio nada a ver e até forçada, afinal, estávamos em um show do Dio, uma verdadeira lenda do Rock pesado. Fiquei pensando porque Ronnie chamaria Andreas e cheguei à conclusão de que este último deve ter mexido todos os seus pauzinhos para realizar o sonho de tocar com o duende. Aliás, sintomático o fato de a assessora de imprensa não ter considerado a participação do Andreas “nada especial”, não?

Bom, como já esperado, mandam a empolgante Mob Rules, com solos a cargo de Andreas Beijoqueiro. Terminando, todos agradecem, mostram uma bandeira do Brasil e etc e tal. A galera começou a pedir por Neon Knights e eu lá, no chiqueirinho, também ansioso para ouvir essa música e pensando “não precisa nem pedir, eles vão tocar de qualquer jeito”. Então a banda sai do palco. As luzes acendem, os roadies começam a desmontar o palco e os seguranças a nos expulsar do chiqueirinho com sua tradicional “gentileza”. E eu com a maior cara de ponto de interrogação, me sentindo como uma criança cujo doce tinha acabado de ser roubado.

Admito, foi uma decepção absurda. Só por causa disso, tirei meio ponto da nota. Já tinha visto bandas acrescentarem músicas ao setlist, mas excluírem foi a primeira vez. E logo Neon Knights, pô? E com a galera pedindo ainda? Achei isso uma atitude extremamente antipática de Dio e companhia.

Apesar da imensa decepção, foi um show muito legal, duas horas de pura diversão. Devo dizer que não me divertia e cantava tanto em um show há bastante tempo. Tivessem substituído as duas músicas chatas do meio pela Gates of Babylon e tocado Neon Knights, possivelmente teria sido um show perfeito. Infelizmente, preferiram optar por um show inferior à sua capacidade (embora ainda muito bom). Porque fizeram isso está além da minha compreensão, mas se você quiser especular, fique à vontade. O espaço para comentários é seu.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
dio-em-sao-paulo-1572006Data: 15 de julho de 2006<br> Local: Credicard Hall<br> Cidade: Sâo Paulo<br> Credito do Artigo: carlos@delfos.jor.br<br> Credito da Foto: Carlos Eduardo Corrales<br>