Tem dois lados da produção cultural. Há o lado endinheirado e o lado indie. Destiny 2 está plantado bem forte do lado do blockbuster.
Ambos têm seus charmes. Quando o orçamento é menor, é comum as coisas serem mais pessoais e emotivas. Ao mesmo tempo, com dinheiro a rodo, é possível fazer coisas que não dá para fazer apenas com uma boa ideia na cabeça. Uma música com voz e violão tem um efeito bem diferente de uma orquestra completa.
Destiny 2 é o absurdo extremo nessa direção. É uma experiência audiovisual completa, cheia de atores famosos, cenários técnica e artisticamente impressionantes e uma trilha sonora gravada por uma quantidade absurda de instrumentos, indo do eletrônico ao orquestrado. Dessa forma, acaba servindo como um exemplo de next-gen gaming e como uma experiência bombástica para todos os sentidos.
TRÊS ANOS DE HEROÍSMO
A comunidade ficou um tanto chateada com o fato de que seus equipamentos do jogo anterior não viriam para o novo. Particularmente, eu prefiro assim, mas a Bungie deu um jeito bem legal de reconhecer os esforços dos jogadores antigos. Você pode continuar com seu personagem de sempre, e isso vai afetar os diálogos.
Jogue com alguém que salvou o mundo anteriormente e seus atos serão lembrados com frequência durante a nova aventura. Crie um novo e você será um novo herói, chegando agora no mundo de Destiny.
Além disso, ao escolher seu personagem do primeiro jogo, você será brindado com uma série de memórias, lembrando algumas de suas principais conquistas e os jogadores com quem você participou delas. É muito legal rever os nomes de pessoas com quem você não joga há alguns anos, bem como ver quais foram as primeiras jogadas com pessoas que se tornaram amigos ou membros do seu clã.
APERTE X PARA UMA NOVA AVENTURA
É com essas palavras que Destiny 2 encerra sua viagem nostálgica pelos três últimos anos. Ao apertar X, você entrará de cabeça em Destiny 2. E, meu amigo, prepare-se para uma verdadeira aventura. Uma viagem como apenas os games de alto orçamento conseguem proporcionar.
Destiny 2 começa com um ataque dos Cabal à Torre. Aquela que foi sua base e porto seguro nos últimos anos agora está sendo atacada e destruída. Todos os guardiões são chamados para proteger a base. Tente não ser afetado ao ver este lugar em ruínas e, especialmente, ao encontrar o bom e velho robô faxineiro, ainda cumprindo sua missão de manter a Torre limpinha.
A presença do robô logo na primeira missão dá a tônica do que esperar de Destiny 2. Trata-se de uma continuação, sim, mas de uma que ouviu bastante o público. Verdade, ao analisar superficialmente, talvez você não perceba tantas diferenças. Basicamente, temos aqui as mesmas quatro facções e meia de inimigos (cabal, decaídos, colméia, vex e os requentados possuídos). Embora haja novos adversários em cada uma delas, são basicamente estes cinco tipos novamente.
Há quatro planetas, mas eles também lembram bastante o que já vimos no primeiro jogo. Basicamente, o cenário representa a facção que a domina. Onde tem uma grande concentração de cabal, por exemplo, temos bases militares e máquinas, enquanto onde há colméia, o cenário é mais orgânico e nojento.
Os planetas agora, com exceção da Terra, são coisas como Titã, a lua de Saturno. Então não rola mais aquele impacto do anterior de quando você visitou a Lua ou Marte pela primeira vez. Isso não significa que o jogo não seja lindo. É difícil ficar mais do que alguns minutos sem tirar uma foto de algo.
IGUAL, MAS MUITO DIFERENTE
Aí que está, essa impressão de que Destiny 2 é mais do mesmo não seria exatamente equivocada, mas seria superficial. O jogo e suas mecânicas de fato se mantiveram virtualmente iguais. E não tinha porque ficar diferente. Destiny sempre teve o melhor gameplay da categoria, e isso continua sendo verdade.
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A Bungie claramente não se preocupou em reinventar a roda. Ela já tinha inventado uma roda que funcionava muito bem no jogo anterior. A questão era deixá-la mais redonda. E aí entram as melhorias muito bem-vindas que foram feitas. Quem acompanhou os últimos três anos de Destiny sabe bem quais foram as reclamações feitas pelo público, e a Bungie ouviu todas elas.
Destiny era um jogo um tanto punitivo. Você precisava investir muito tempo nele para receber algo em troca. Não mais. Jogue Destiny 2 e você vai fatalmente ser recompensado. Sem exagero, durante a mesma sidequest (aqui chamada de “aventura”), eu fui recompensado com um engrama exótico e um lendário.
Jogar Destiny 1 era passar raiva. Eu tive a sorte, por exemplo, de faturar a Quebra-Gelo e a Vex Mythoclast no mesmo dia, mas nunca consegui meu sonho de consumo, o canhão de mão Fatebringer, que era o único da categoria que tinha dano elemental.
Pois em Destiny 2, você consegue canhões de mão, rifles ou qualquer outro tipo de arma que lhe apeteça com dano elemental com bastante frequência. Uma das armas que imagino ser a mais legal do jogo é um canhão de mão solar chamado Sunshot que é oferecido como recompensa em uma das missões da história (você pode escolher outras duas armas ao invés dela, mas como um entusiasta dos canhões, eu não recomendo fazer isso).
O que torna o Sunshot tão especial não é simplesmente o fato de ele ter dano elemental. Além do poder tradicional dos canhões de mão de Destiny, ele faz com que inimigos mortos por ele explodam, causando um dano de área considerável e tornando-o, basicamente, um lança-granadas. É como um dos personagens do jogo fala: “explosões deixam tudo melhor”. Não dá para discordar.
DESTINY 2: UM JOGO EXÓTICO
Enquanto jogava a campanha de Destiny 2, li alguns textos sobre as novas armas disponíveis, e duas exóticas me pareceram bem legais. Uma delas era a supracitada Sunshot. A outra era Borealis, um Sniper que pode alternar entre os três tipos de danos elementais ao bel prazer do usuário. “Ok, essas serão meus sonhos de consumo que eu provavelmente nunca vou realizar”, pensei com meus botões.
Você já sabe que a Sunshot eu peguei fazendo a campanha. A Borealis, por outro lado, veio naturalmente, num engrama exótico encontrado após um evento público. Contraste isso aos meses de desejo e dezenas de horas que gastei no primeiro até conseguir a Quebra-Gelo e o fato de eu nunca ter conseguido a Fatebringer.
Internet afora, parece que o grande objeto de desejo dos jogadores é uma sidearm chamada The Rat King. Consegui-la parece ser bem difícil, pois exige completar o assalto do anoitecer, um dos desafios mais difíceis do jogo, com um limite de tempo bem apertado. Mas é algo que depende de habilidade, e não de simples sorte e sacrifício para os deuses da Bungie.
O jogo ser mais mão aberta com suas recompensas faz com que você passe mais tempo aproveitando as coisas legais que ganhou, ao invés de ter que lidar com a frustração de matar o maldito templário pela vigésima nona vez e não ter ganhado o maldito Fatebringer.
Isso é possibilitado pelo fato de que as exóticas não são mais fixas, o que antes significava que elas eram recompensas que vinham apenas no endgame. Agora elas vêm apropriadas para o seu nível.
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Eu fiz a campanha na maior parte do tempo overleveled, pois passei um bom tempo no crisol e nos eventos públicos. Assim, quando me ofereceram o Sunshot, ele vinha com um dano de 155, enquanto todas as minhas armas estavam acima dos 200. No entanto, bastou eu dar um canhão de mão genérico mais poderoso para ele comer (o que custa caro, mas é fazível) e ele se tornou minha arma principal. Todo canhão de mão que vem agora serve apenas para o meu Sunshot comer, e eu não me vejo mudando isso no futuro. Na screen lá de cima, você pode perceber que minha arminha está com dano 250 e, enquanto escrevo isso, ela já está com 265. E ela começou com modestos 155.
PVP
Além de uma campanha longa e elaborada, ainda temos o Crisol, o popular PVP de Destiny, que volta sem muitas novidades. Você pode escolher duas categorias, Quickplay ou Competitive, e isso afeta os tipos de jogo que vai jogar. No quickplay, por exemplo, as partidas podem ser Team Deathmatch, enquanto no Competitive, serão uma variação dele com limite de vidas.
Como o delfonauta dedicado sabe, eu gosto bem mais de um bom PVE, mas admito que passei umas boas horas matando e morrendo no Crisol. E veja só, ganhando ótimas recompensas pelos meus esforços.
A CAMPANHA DE DESTINY 2
Mas voltemos à campanha e à minha afirmação de que a Bungie ouviu as reclamações da comunidade. A história de Destiny 2 não vai ganhar prêmios de originalidade. Após o ataque da torre, os guardiões perdem a luz e os três líderes da Vanguarda se espalham pelo espaço. Por esta sinopse, você já deve ter uma boa ideia do caminho que tudo vai seguir.
No entanto, se o anterior tinha personagens legais que sofriam por um roteiro incompreensível, aqui é tudo um prazer. Há muito humor em Destiny 2. Não, não se trata de uma comédia, como os clássicos adventures da Lucasarts, mas temos aqui uma ficção científica descompromissada que não tem medo de tirar sarro de si mesma para fazer você rir. O destaque, como sempre, vai para Nathan Fillion e seu Cayde-6, que é praticamente uma metralhadora de piadas e tira sarro de uma das frases ruins mais lembradas do jogo anterior quando exclama “I don’t have time to explain what I don’t have time to understand“.
Além da história, a campanha é simplesmente uma delícia. Temos aqui um jogo de mundo aberto com missões que têm a qualidade de um jogo linear. E, na verdade, Destiny 2 é linear por um bom tempo, com uma missão abrindo depois da outra, e ocasionalmente com algumas sidequests popando. Estas sidequests costumam levar você para lugares já visitados, mas ainda assim valem ser feitas.
Conforme você avança, no entanto, começa a ter mais opções. Logo, além das missões da história e sidequests, vai ter patrulhas, assaltos e desafios. E tudo, tirando as patrulhas, que continuam chatas, é bastante legal.
Este é um texto que estou escrevendo após terminar a campanha. Ainda há muita coisa a ser vista. Diziam no jogo anterior que o Destiny real começava quando a campanha terminava. Só que Destiny 1 tinha uma campanha que, embora boa, era bem curta, e sofria bastante ao tentar aumentar um jogo de dez horas para um de trezentas.
DESTINY 2 É UM JOGÃO EM TODOS OS SENTIDOS
Eu estou há uma semana jogando Destiny 2 quase todo o tempo que posso, e tirando os eventos públicos, não repeti nenhum conteúdo. A campanha agora tem sustância. Sustância suficiente para justificar a compra do jogo mesmo para quem não tem interesse no grinding que vem em suas atividades de endgame.
Este era meu caso. Se você falasse comigo semana passada, antes do lançamento, eu diria que queria uma campanha bacana, mas não tinha interesse em jogar Destiny 2 como joguei o primeiro. Agora, que terminei a campanha, estou doido para voltar ao PS4 e ver o que mais tem lá para eu descobrir. Ainda tem muito conteúdo que eu não experimentei, e é bem provável que volte a escrever sobre ele por aqui no futuro.
O fato, no entanto, é que, ao terminar a campanha, já estou perfeitamente satisfeito com o que o jogo me ofereceu. Lembrando do anterior, aliás, penso que me divertiria mais se começasse uma campanha com as outras duas classes do que se investisse meu tempo nas atividades de alto nível, como a raid ou o assalto do anoitecer. Isso é algo que vou estabelecer no futuro.
A questão é que, mesmo que você seja um jogador single-player que goste de campanhas bem elaboradas e um gameplay FPS divertido, Destiny 2 é um jogão. Ele também é um jogão caso você esteja mais interessado no coop/competitivo ou no lado RPG da coisa. Seja o que você procura, Destiny 2 é um jogão em todos os sentidos e merece sua compra.
