Deadpool, o game

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Sabe, delfonauta, acho que eu nunca li um gibi do Deadpool. No entanto, o personagem tem roubado a cena com tanta frequência nos videogames que hoje eu até me diria um fã do sujeito. Desde participações em jogos como Marvel Vs. Capcom até aquele joguinho bacana do Homem-Aranha que tem uma fase inteira dedicada a ele, parece ser garantido que o Deadpool é sempre acompanhado de excelentes piadas.

Assim, quando ele estrelou um jogo já no final da geração passada, fiquei curioso para jogar, mas acabei deixando passar. Os reviews da época criticavam coisas como linearidade, o que eu até gosto em games, então sempre achei que poderia me render boas horas de diversão. Pois agora Deadpool traz o seu jogo para os consoles da nova geração, e eu consegui testá-lo para contar tudo para você nesta resenha.

OBJECTIVE: BE AWESOME

O jogo começa com Deadpool recebendo o roteiro para o seu videogame. Sem paciência para ler o negócio, ele sai improvisando e acaba se envolvendo em uma caça ao Senhor Sinistro, com participações de personagens como Wolverine, Cable e a Psylocke (com pizza!).

A história em si, escrita pelo roteirista de quadrinhos Daniel Way, é apenas uma desculpa para um monte de piadas envolvendo metalinguagem, clichês dos videogames e muito mais. E é a melhor coisa do jogo. Eu passei quase toda a campanha com um sorriso de orelha a orelha, isso sem falar dos vários momentos em que eu gargalhei alto.

A dublagem do Deadpool, a cargo do arroz de festa Nolan North (de Uncharted e tantos outros) é excelente. A quantidade de vozes diferentes que o personagem faz lembra bastante o divertido Freakazoid e é tão engraçado quanto.

Deadpool quebra a quarta parede o tempo todo, reclamando com o jogador por não jogar melhor e pedindo para você fazer upgrades para ele ficar ainda mais badass. Ele tem também duas vozes na sua cabeça, com as quais fica constantemente conversando e discutindo, gerando momentos totalmente nonsense.

Os outros personagens falam bem pouco e suas interpretações não se destacam, mas também não comprometem. Não dá dúvidas de que Deadpool é a estrela do jogo e sua personalidade e o roteiro engraçadíssimo carregam o jogo nas costas.

MAS E O JOGO EM SI, CORRALES?

Pois é, delfonauta perguntão. O jogo em si é um hack’n’slash dividido em fases e bastante linear, que alterna porradaria desenfreada com algumas brincadeiras com outros gêneros de videogames, como sidescrollers, jogos vistos de cima e outros. Sabe que eu até achei a campanha bem variada, pois a toda hora rola uma surpresa ou algo que tira do clima de porradaria.

Quanto à porradaria em si, não espere algo com a mesma classe de um DmC. Poucos jogos conseguem um gameplay tão bom, e Deadpool até tem um combate bacaninha, que diverte, mas não é exatamente inesquecível ou especialmente envolvente.

Há três tipos de armas que você pode usar. As espadas são as que equilibram velocidade e dano. Os sais são rápidos e fracos, possibilitando combos enormes. Por fim, os martelos são lentos e poderosos, e acabaram se tornando minha arma preferida.

Deadpool também usa armas de fogo. De revólveres a escopetas, passando por metralhadoras e um surpreendentemente eficiente fuzil de pulso, as armas de fogo podem ser usadas nos combos ou então para matar inimigos à distância, mas em geral eu sempre preferia o combate corpo a corpo.

VISUAL E SOM

Apesar de ser um jogo da geração passada relançada para a atual, devo dizer que os gráficos estão bem aceitáveis. Não estão no nível de AAAs como Rise of the Tomb Raider, é claro, mas este nunca foi um AAA. Ainda assim, ele está mais bonito do que os relançamentos de Uncharted, por exemplo.

O Deadpool especialmente, está muito bem feito, parecendo até uma action figure. Os outros personagens e os inimigos são bem menos caprichados e os cenários também carecem de um pouco mais de inspiração. Para você ter uma ideia, o jogo já começa no esgoto, e ao longo da aventura você vai passar por cenários igualmente batidos, como prisões.

Apesar de as músicas não serem especialmente marcantes, eu gostei da parte sonora do jogo. A ambientação é caprichada, os sons das armas são bem prazerosos e, claro, a dublagem do personagem principal é fantástica.

Em geral, devo dizer que eu estava me divertindo bastante com o jogo. Ele não chega a empolgar como um jogaço em nenhum momento, mas é tão divertido e engraçado que fica fácil recomendar. Até que…

TAM TAM TAAAAM

Até que você chega no final. Mais especificamente nos últimos quatro checkpoints do jogo. Nas próximas linhas eu vou elaborar o que você encontra nesses checkpoints, então se considera isso spoiler e não quer saber, pule para o próximo tópico.

Eu passei boa parte do jogo considerando ele fácil demais. Joguei na dificuldade Veteran, que é o equivalente ao normal, e tive problema apenas em uns dois momentos da campanha, e mesmo assim nada muito traumático. Até chegar nesse final.

Na tentativa de criar um final épico para o seu jogo, a High Moon resolveu terminar com uma longa batalha, dividida em dois checkpoints nos quais você tem que vencer, sem exagero, centenas de inimigos. É basicamente uma arena na qual não para de vir inimigos, o que é bem chato e repetitivo.

A primeira vez que eu morri nessa parte, eu achei que tinha dado um pau, pois eu voltei uns 20 minutos no jogo, de tão longo que era o checkpoint. E daí, quando você pensa que acabou, a batalha começa de novo, contra mais centenas de inimigos.

É um salto de dificuldade considerável. Antes disso, eu estava até empolgado em jogar de novo na dificuldade mais alta, mas depois disso, me desanimou totalmente.

Depois de muito tempo contra essas centenas de inimigos, eu consegui passar, e daí aconteceu outro clichê dos videogames que eu odeio: lutar contra todos os chefes de novo. Aqui é pior do que isso, no entanto, porque você tem que enfrentar todos eles ao mesmo tempo.

Por fim, o quarto checkpoint é o chefão final, que é uma batalha bem pouco inspirada também. Depois do que veio antes, ela até é relativamente fácil, mas a essa altura até o Deadpool está reclamando que está cansado, então você pode imaginar como o jogador fica.

Esses últimos quatro checkpoints fizeram com que o jogo deixasse um gosto azedo depois de terminar, exatamente o contrário do que deveria ser a intenção.

PISCINA MORTA

Assim, o que temos aqui não é um jogão de forma alguma. Em seus melhores momentos, Deadpool é um jogo divertido e engraçado, que rende uma jogatina de final de semana bem agradável. Porém, o final é tão ruim e tão frustrante que acaba tirando um pouco do brilho de tudo que ele fez certo antes.

De qualquer forma, recomendo o jogo não apenas para fãs do personagem mas para qualquer pessoa que goste da combinação games + humor.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
deadpool-o-gameAno: 2015<br> Gênero: Hack ‘n’ slash extremamente engraçado<br> Plataforma: PS3, Xbox 360, PC, PS4 e Xbox One<br> Fabricante: High Moon Studios<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Activision<br>