Deadlight: Director’s Cut

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No final dos anos 80 e início dos 90, histórias definitivamente não eram o forte dos videogames. Tínhamos basicamente uma premissa. Algo como “sua mina foi raptada! Vai salvar ela!” ou então “tem um malvadão fazendo malvadezas e ele precisa ser impedido!”.

Nessa época, saíram alguns jogos mais, na falta de uma palavra melhor, “sérios”, que traziam uma história propriamente dita e cutscenes totalmente animadas. Desses, dois se destacaram: Out of this World (também conhecido como Another World) e Flashback.

Eram em seu cerne jogos de plataforma, mas eles tinham realmente um roteiro envolvido, além de cenas totalmente cinemáticas. Se hoje a gente se diverte com tremendices como Uncharted, foi em jogos como estes que a tendência de “uau, parece um filme!” começou, e não por acaso eles começaram a ser chamados como jogos de “plataforma cinemático”.

ENTRA DEADLIGHT

Deadlight foi lançado em 2012 como um exclusivo de Xbox 360 (posteriormente lançado para PC) com o objetivo de homenagear estes jogos. Quando ele saiu, eu já não tinha mais um Xbox 360, e acabei não jogando. Felizmente, ele está sendo relançado hoje para Xbox One, PS4 e PC, e eu tive a oportunidade de experimentá-lo até o fim. E gostei muito – MUITO – do que joguei.

A primeira coisa que você vai reparar é quão bonito ele é. Sinceramente, se eu não soubesse que ele é um jogo da geração passada, eu acreditaria fácil que ele foi feito com os novos consoles em mente.

Seu visual é ao mesmo tempo estilizado e realista. Os cenários são realistas e detalhados, enquanto você vê apenas as silhuetas dos personagens. O resultado é artisticamente impressionante. Nos meus primeiros momentos com o jogo, eu até andava mais devagar, só para ter mais tempo de admirar o nível absurdo de detalhes. A qualidade e realismo dos cenários lembra os relançamentos recentes dos Resident Evil clássicos.

Você começa o jogo indefeso, tendo que escapar dos zumbis (chamados de sombras na história) usando a inteligência. Coisas como fazer barulho para atrai-los até uma armadilha ou levá-los até um obstáculo que faça com que eles caiam e você possa aproveitar para passar.

Não demora para você achar um machado, o que permite que você vença os miolentos na força bruta. No entanto, há aqui um medidor de “fôlego” semelhante ao que temos em Dark Souls, e cada ataque drena consideravelmente a barra, tornando bastante difícil vencer mais do que um ou dois inimigos na porrada, exigindo ainda que você use a cabeça (e não estou sugerindo que você dê cabeçadas nos zumbis! Não faça isso!).

Eventualmente, você vai pegar algumas armas de fogo também. A munição nunca vai ser suficiente para que você jogue Deadlight como se fosse um shooter, mas é fato que conforme suas opções de defesa avançam, você acaba precisando pensar menos. Como este não é um jogo de ação, devo dizer que o início do jogo é bem mais forte do que seus níveis mais avançados.

CINEMÁTICO

A história não é especialmente criativa. Você e um grupo de sobreviventes ouve uma mensagem falando de uma zona segura e resolvem ir até lá. A influência de Extermínio é mais do que clara, sem falar que no segundo ato tem uma cena e um diálogo que é literalmente uma repetição de um momento famoso dos primeiros capítulos de The Walking Dead.

Mas sabe? Tudo bem! O próprio Flashback trazia referências bem fortes a coisas como Blade Runner e O Vingador do Futuro, então admito que até achei legal esses aspectos, dando a ele um nível de trueza extra e aproximando-o ainda mais dos jogos que homenageia.

A narrativa ainda se apropria de algo bastante usado no primeiro Max Payne: aqueles pesadelos jogáveis onde você vê o que aconteceu à família do protagonista.

Basicamente, a jogabilidade de Deadlight envolve alguns pilares: escalar, explorar, solucionar puzzles e um pouco de combate leve. No entanto, em sua tentativa de ser cinemático, ele apresenta algumas perseguições nas quais você deve sair correndo, e estes são os momentos mais chatinhos, pois qualquer errinho causa sua morte e exige começar a sequência de novo. O momento em que você é perseguido por um helicóptero, em especial, é o mais baixo de sua campanha.

A campanha é bem curtinha. Para mim durou cerca de três horas e meia. Eu comecei e terminei o jogo no mesmo dia, jogando com calma e saboreando cada minuto. Poderia ser mais longa, mas ao mesmo tempo prefiro que seja curta e boa na maior parte do tempo do que se fosse expandida com momentos mais chatos.

BRINDES E DIRECTOR’S CUT

Esta nova versão de Deadlight vem com o subtítulo Director’s Cut. Isso não significa que sua campanha é estendida. O Deadlight de 2016 vem com os tradicionais bônus de relançamento, como resolução em 1080p, algumas novas animações e controles repaginados.

O principal adendo é o modo Survival, que coloca você em um cenário pequeno com o objetivo de se manter vivo pelo máximo de tempo possível. Não é exatamente minha xícara de chá, mas gostei de ter um troféu chamado Thriller para quem conseguir sobreviver por mais tempo do que dura o clipe famoso em que Michael Jackson encara zumbis.

Aliás, este é um toque que achei muito legal: cada um dos troféus do jogo tem o nome de uma música famosa dos anos 80, e eles são incrivelmente apropriados para seus objetivos. São referências a bandas bacanas como Van Halen e Megadeth, que deixam bem divertido destravar cada um deles.

Outro brinde que tem são alguns joguinhos eletrônicos que você pode encontrar pela campanha e jogar depois de coletá-los. Manja aqueles joguinhos de mão dos anos 80, que você comprava uma maquininha que trazia um único jogo bem simples? Pois é, demorou para um videogame fazer uma referência a eles, e aqui temos três jogos extras. Não que você vá gastar muito tempo neles, mas vale pela memória afetiva.

UM JOGUINHO QUE É UM JOGÃO

Em alguns aspectos, Deadlight é um joguinho. É 2D, é simples e é curtinho. Em outros, como nos gráficos e na atmosfera e em todo o cuidado envolvido na sua criação, é um jogão. Em uma época com tantos remasters, este é o tipo de relançamento do bem, pois possibilita que um jogo que saiu como exclusivo seja jogado e conhecido por mais pessoas. Eu gostei muito de ter tido a oportunidade de jogar, e recomendo fortemente a compra por qualquer um que goste de clássicos como Flashback e Out of this World e não tenha jogado Deadlight em 2012.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
deadlight-directors-cutAno: 21 de junho de 2016<br> Gênero: Plataforma cinemático<br> Preco: US$ 19,99<br> Plataforma: Xbox One, PC e PS4<br> Fabricante: Abstraction Games e Tequila Works<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Deep Silver<br>