Dark Souls 3: Ashes of Ariandel

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Dizem que a história da série Dark Souls é muito rica. Dizem que tem por aí nas internets uma pá de vídeos e de textos explicando o que se passa nos jogos da From Software. Só que pelo jogo em si, você vê muito pouco da história. E, cá entre nós, eu não me importo. Ao contrário da maioria dos jogos, Dark Souls consegue uma proeza raríssima: o fato de que jogá-lo, por si só, rende histórias bacanas que são só suas. E, como já se tornou tradição, na resenha deste DLC, vou contar algumas das coisas que vivi enquanto eu visitava o “Mundo Pintado de Ariandel”.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO NEM SEMPRE É A QUE FICA

Após instalar o DLC, o jogo não acusa que ele está instalado e nem te mostra como acessar. Sinceramente, acho bem chatinho ter que procurar na internet como fazer para acessar algo que você comprou. Mas vamos lá que nem é tão complicado quanto o DLC de Bloodborne.

De preferência você precisa ter um save com o jogo já terminado. O recomendado é que seu personagem esteja entre os níveis 85 e 100. Eu comecei o DLC no nível 95 e terminei no 100, e devo dizer que foi bem difícil. Para acessar o DLC, você precisa se teleportar para a fogueira da Cleansing Chapel. Chegando lá, vai ter um novo personagem pertinho da fogueira. Ao falar com ele, você receberá uma missão. Aceite-a e você será teleportado para a nova área, Painted World of Ariandel, claramente uma referência ao Painted World of Ariamis do primeiro jogo.

A área na qual você aparece é bem grande, com vários caminhos possíveis. Curiosamente, eu não demorei muito para chegar na primeira fogueira (desconsiderando, claro, a que está no começo da fase), mas vários caminhos ficaram inexplorados. Aí, como eu sou obsessivo, resolvi me teleportar para a fogueira inicial e explorar as opções restantes uma a uma.

Aí eu admito que fiquei um tanto de saco cheio. Eu morria muitas vezes antes de terminar de explorar cada um dos caminhos. Sem exagero, eu devo ter ficado algo entre duas e três horas só aí, de tanto que morri. Isso me lembrou de quão abusiva é a relação de um jogador com Dark Souls. Quando você não está jogando, você se lembra da exploração, do visual cuidadosamente criado, da atmosfera… Daí você vai jogar e morre. E morre. E morre de novo. Logo, o tesão da exploração tão característica da série dá lugar à broxada das repetidas mortes (o que poderia até ser o nome de uma banda gótica). Sei que a dificuldade faz parte da série e tem gente que adora isso, mas eu mantenho a opinião que sempre repito aqui: eu gosto de Dark Souls apesar da dificuldade, não por causa dela.

A maioria dos caminhos levou a itens novos. Um deles me levou à mesma fogueira que já tinha encontrado horas atrás. Eu fiquei tão desgastado com essa primeira partida, na qual evoluí tão pouco em tanto tempo, que fui jogar Batman por alguns dias.

AS COISAS MELHORAM

Felizmente, esta foi a única vez que eu não me diverti com Ashes of Ariandel. Todo o resto da minha jogatina foi muito mais aprazível. Sim, morri adoidado, mas pelo menos fazia algum progresso a cada nova vida, o que não senti no primeiro dia.

O mundo de Ariandel é um lugar cheio de neve, penhascos que despencam e alguns novos inimigos. Nem todos os inimigos são novos, no entanto, muitos foram reaproveitados do jogo principal, o que me chamou a atenção, uma vez que a série costuma ter habitantes diferentes em cada um de seus mundos.

Também achei curioso que algumas matérias sobre este DLC reclamam que há muitas fogueiras. De fato, se você seguir o caminho principal, elas nunca estão muito distantes, mas o que leva alguém a reclamar de excesso de checkpoints? Ora, checkpoint é como espaço em HD: nunca é demais. Ainda assim, é verdade que a única vez que eu fiquei desesperado em busca de uma fogueira foi quando explorava os caminhos alternativos do início. O resto foi bem mais suave.

Até que o mundo de Ariandel é bem grandinho e variado. Acredito que é o maior mundo de Dark Souls 3, e seus cenários variam bastante entre ambientes fechados, abertos e até uma assustadora parte por um cenário escuro infestado de moscas gigantes que causam “perda de sangue”, um debuff desesperador que faz a sua vida diminuir sozinha por bastante tempo.

O mundo é grande o suficiente para eu ter me sentido satisfeito quando cheguei ao chefe principal. Não achei que foi curto demais, na verdade até achei bem mais longo do que esperava.

O PYROMANCER LOUCO

Quando cheguei ao chefe, obviamente morri na primeira tentativa, e percebi que tinha um NPC que não tinha encontrado: um tal de Livid Pyromancer Dunnel. Antes de enfrentar o chefe, resolvi usar um guia para ir atrás do sujeito. Cheguei lá e usei um ember para que ele aparecesse. Venci, peguei a magia nova que ele dropa e voltei para a fogueira mais próxima do chefe.

Como estava em forma humana, tinha alguns sinais para que eu chamasse outros jogadores para me ajudarem na luta. Chamei dois camaradas e fomos à porrada. Into glory ride!

Matamos o chefe sem muitos problemas. Daí rolou uma cutscene, que eu achei que era a animação final do DLC. Para minha surpresa, havia mais uma luta. Vencemos. E para minha surpresa maior ainda, tinha uma terceira. Veja bem, eu estava com dois coleguinhas que me ajudaram bastante e vencemos o chefe de primeira. Mas admito que se eu estivesse sozinho nessa luta que não acaba nunca, ficaria desesperado.

Como não estava, até que a dificuldade foi boa, possibilitando uma luta emocionante e épica, mas imagino que este chefe possa ser invencível quando tiver menos gente jogando. É só ver a dificuldade que foi matar aquele que tinha duas energias no jogo principal.

Outra coisa curiosa é que não há um final propriamente dito para esta DLC. Você mata o chefe, ganha um montão de experiência, aparece uma fogueira e… é isso. Não tem cutscene, não tem uma conclusão, é como matar um chefe qualquer, com a diferença que não rola um troféu após a vitória (este DLC não tem nenhum troféu).

COLOCAR OS OUTROS ANTES DE SI MESMO

Só que a jogatina não acabou aí. Tem mais um chefe escondido em um curto caminho secreto. Se você não quer saber como chegar nele, pule este parágrafo. Ainda aqui? Pois então, para chegar lá, é só você sair da igreja que fica antes do chefe principal, na direção daquela ponte (você com certeza se lembra dela). Ataque as cordas algumas vezes até a ponte cair, e depois desça pelas tábuas como se fosse uma escada normal. Daí até o chefe o caminho é claro.

Ao chegar lá embaixo (os efeitos do gelo tornam este cenário um dos mais bonitos do jogo), eu queria deixar uma mensagem para ajudar outros jogadores a achar a fogueira e sem querer deixei o meu sinal, o que possibilitava que outra pessoa me chamasse para ajudá-lo. Podia ter cancelado, mas pensei “ah, deixa aí” e continuei explorando. Não demorou para eu entrar no mundo de um camaradinha.

Como é tradição na série Souls, os jogadores costumam chamar outros para ajudar com os chefes, e foi para isso que meu novo amigo tinha me invocado. Ou seja, eu iria com ele lutar contra um chefe que sequer tinha visto ainda. Mas vamo que vamo!

Vencemos, o que como recompensa me tornou humano novamente. Isso possibilitou que eu chamasse outras pessoas para ajudarem no meu jogo, e foi o que fiz. Lutei de novo contra o chefe, agora valendo e, com a ajuda de dois amigos de dose única, vencemos o desgramado. Isso fez eu me lembrar como é legal ajudar outras pessoas a vencer um jogo tão difícil e depois disso passei algum tempo deixando meu sinal perto do último chefe (o temível Lord of Cinder) e ajudando várias outras pessoas a terminarem Dark Souls 3.

VAI ENCARAR?

Só que, quem diria, a jogatina não acabou aí ainda. Vencer o chefe secreto dá um osso que, se for usado na fogueira do Firelink Shrine vai abrir uma nova modalidade de jogo: um PVP como ele sempre deveria ter sido.

Uma das piores coisas em Dark Souls para mim é usar um ember porque você precisa de ajuda e acabar sendo invadido por um jogador hostil que, se me matar, faz com que eu perca o efeito do ember. Se eu não quero jogar PVP, ser obrigado a isso – e ainda me punir se eu perder, é muito chato. Eu até contei na minha resenha da única vez que invadi o mundo de outra pessoa, e como me senti mal ao matar o cara.

Porém, agora você pode jogar contra outros jogadores que estão realmente querendo sair na porrada com você, sem prejudicar ninguém. E isso é bem mais legal. Tem até alguns modos de jogo. Você pode escolher um “todos contra todos” de até seis jogadores, ou então batalhas em times, de dois contra dois ou três contra três. Claro, há duelos de um contra um também, se isso é o que você procura.

Infelizmente, isso não funciona exatamente como deveria. Tem um lag absurdo, que faz com que golpes que você deu só registrem vários segundos depois, e cause a sensação desagradável de que você está tomando ataques de jogadores que estão longe demais para te acertarem. A conexão sempre foi um problema na série, tanto no coop quanto no PVP e é um absurdo que até agora isso não tenha sido resolvido, uma vez que tantos outros jogos rodam multiplayers bem mais robustos de forma redonda.

E isso sem falar da possibilidade deveras real de cair a conexão. Na minha primeira partida em times, eu ganhei e ele chegou até a mostrar “You win!”, mas deu algum erro que desconectou a partida antes de registrar minha vitória. Eu fiquei um tempão jogando depois disso para tentar ganhar de novo e ver o que acontecia, mas eu só perdia. Quando finalmente ganhei, vi que não acontece nada. Não ganha almas, itens, nem nada do tipo, só desconecta.

Além dos problemas técnicos, há problemas de gamedesign graves também. Para começar, a única forma de saber se um jogador é amigo ou inimigo é tentando travar a mira nele. Poderia apenas diferenciar pela cor, azuis contra vermelhos ou algo do tipo, mas ele não só não faz isso, como teve uma vez que colocou os seis jogadores na cor vermelha.

Outro problema é o placar. O time que matar mais gente ao acabar o tempo ganha, o que é ok. Só que ele mostra apenas a pontuação do seu time, e não do adversário. A única forma de saber se você está ganhando ou perdendo é procurando por uma coroa que aparece na cabeça de quem está na frente.

O negócio é que mesmo assim o PVP é legal. Pela primeira vez eu me diverti jogando contra outros jogadores em Dark Souls, e isso é um grande passo à frente para a série. Só que a coisa ainda precisa melhorar muito para ser realmente algo viável. E não dá para entender porque fechar algo como isso como parte de um DLC (e só liberar depois que você mata um chefe secreto). Deveria estar disponível para todos, quem sabe assim extinguindo de uma vez por todas as desagradáveis invasões.

ARIANDEL É UM NOME BONITO, NÉ?

Assim, minha relação com Ashes of Ariandel começou turbulenta, com muitas mortes, mas terminou deixando aquele vazio de que não tenho mais Dark Souls novo para explorar. Também me lembrou quão legal é ajudar outras pessoas a vencer os chefes mais difíceis e até curti o seu falho porém divertido PVP em arena. É bastante coisa para um DLC, e é bom o suficiente para satisfazer aqueles que querem mais um pouquinho da abusiva relação que só Dark Souls é capaz de fornecer.

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