De todas as continuações que a Pixar tem lançado nos últimos tempos, creio que a mais esperada delas era a de Os Incríveis. Afinal, a animação de super-heróis do estúdio era simplesmente a melhor versão para as telas do Quarteto Fantástico!

Enfim, Os Incríveis 2 chegou, mas antes de entrar neste assunto, falemos primeiro do tradicional curta que antecede o prato principal. E ele tem tudo a ver com essa figura de linguagem gastronômica.

HUM, BOLINHO…

O curta-metragem da vez se chama Bao e conta a história de um bolinho chinês (ou dumpling, se preferir) que ganha vida e passa a ser tratado pela senhorinha que o fez como um filho.

Embora até tenha uma reviravolta sentimental no final, é mais um daqueles que é mais simpático do que propriamente bom. Ele se escora muito no visual bonitinho do design dos personagens e de suas expressões faciais e corporais, já que não possui diálogos.

Delfos, Bao

Sejamos francos, já faz um tempo que os curtas da Pixar estão dependendo apenas da fofura visual, porque a qualidade geral das narrativas já não anda a mesma de outrora. Talvez fosse o caso de dar um tempo nesses curtas até terem uma ideia realmente boa, mas acho que não vão querer quebrar a tradição do curta-metragem antes da atração principal.

Enfim, agora que cobrimos a entrada, passemos ao que todo mundo quer saber: Os Incríveis 2 é tão bacana quanto o original? A resposta eu dou no próximo tópico.

FAMÍLIA Delfos, Os Incríveis 2, CartazQUE COMBATE O CRIME UNIDA

Sem mais delongas, a resposta é não. Os Incríveis 2 é bacana, mas bastante inferior ao original. Talvez tenha sido vítima da atual fase do estúdio, que não anda mais tão criativo e com o nível sempre lá no alto como em outros tempos. Talvez tenha sido uma escolha equivocada da história. Talvez um pouco dos dois.

O longa acontece praticamente logo após os eventos do primeiro. Dois irmãos ricaços entram em contato com Beto e Helena Pêra, além do Gelado, com um plano para recuperar a moral dos vigilantes mascarados e assim revogar a lei que os torna foras-da-lei.

Para isso, querem usar a Mulher-Elástica como a principal figura da classe super-heróica. Assim, enquanto Helena sai em missões de vigilantismo, cabe a Beto ficar em casa e cuidar dos filhos, principalmente de Zezé, que passa a desenvolver um monte de superpoderes diferentes.

Esta sinopse lembra muito alguns motes de sitcoms antigas, com a mulher indo trabalhar e o homem ficando em casa e criando os filhos. Isso poderia até funcionar em programas da década de 1960. E embora a estética visual da animação até sugira que ela se passe numa espécie de anos 60 altamente estilizados, nós estamos no século XXI, onde essa suposta “inversão de papéis” simplesmente faz parte do cotidiano, não sendo mais motivo para fazer graça.

Delfos, Os Incríveis 2

Assim, o longa se centra muito mais no aspecto família dos protagonistas, muitas vezes deixando de lado as homenagens e brincadeiras com o gênero dos super-heróis que tanto tornaram o primeiro longa algo tão bacana.

Ainda há um supervilão a ser vencido, missões a serem feitas e resgates a serem… resgatados? Enfim, ainda há a parte da ação envolvendo pessoas superpoderosas. Mas faltou um recheio a mais para que essas situações fossem mais especiais e menos piloto-automático.

Ele ainda tem muitas coisas legais e engraçadas, principalmente quando envolve os superpoderes do Zezé, mas é inegável que tinha potencial para apresentar muito mais do que acabou por mostrar.

Delfos, Os Incríveis 2

SALVA O MUNDO UNIDA

O longa é simpático e sem dúvida vai diverti-lo durante sua duração. Mas o primeiro foi tão bom que aumentou muito as expectativas para esta continuação. E ela não conseguiu corresponder.

A mim, particularmente, o que mais incomodou foi mesmo essa mudança de foco de uma sátira/homenagem aos super-heróis para uma sitcom velha centrada em piadas datadas sobre um núcleo familiar. Se você conseguir conter as expectativas e não se incomodar com esse aspecto da construção de roteiro, é capaz que desfrute de Os Incríveis 2 muito mais que eu.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-os-incriveis-2Título original: Incredibles 2<br> País: EUA<br> Ano: 2018<br> Gênero: Ação/Animação<br> Duração: 118 minutos<br> Distribuidora: Disney<br> Direção: Brad Bird<br> Roteiro: Brad Bird<br> Elenco: Craig T. Nelson, Holly Hunter, Catherine Keener, Bob Odenkirk, Samuel L. Jackson, Brad Bird, Isabella Rossellini e Jonathan Banks.