Quando chegou o convite para a sessão de imprensa de Os Incontestáveis, eu comentei com o colega Carlos Cyrino que parecia um filme bem delfiano. Baseei esta minha constatação na seguinte frase, que veio no texto do convite:

“Bel e Mau, interpretados, por Fabio Mozine (baixista do Mukeka di Rato) e Will Just (guitarrista do The MuddyBrothers), são os anti-heróis protagonistas desse road movie movido a conhaque, rock pesado, humor ácido e psicodelia, que, sob uma superfície inconsequente e hedonista esconde fortes metáforas, compondo um grosso caldo crítico à estupidez do homem.”

Road movie, rock pesado e humor ácido. Três coisas que a gente aprecia bastante por aqui. Porém, poucas foram as vezes que esta combinação deu tão errado em um filme.

Os Incontestáveis, Road Movie, DelfosTODO COMEÇO COMEÇA DE ALGUM JEITO

A história é bem básica, típica do gênero. Os irmãos protagonistas estão viajando através da área rural do Brasil em busca de um carro que foi de seus pais. Sempre que eles parecem estar chegando perto, descobrem que o veículo foi passado para frente, e lá vão nossos amigos atrás da mais nova pista.

Sabe aquela frase “o importante não é o destino, mas a jornada”? É bem por aí. No caminho para o carro, eles vão conhecer um monte de personagens interessantes, cada um com suas histórias, objetivos e opiniões. No final das contas, encontrar e recuperar o carro acaba sendo secundário. É mais ou menos como fazer uma road trip pelo Brasil na vida real. Queira ou não, você vai encontrar pessoas exóticas e acabar conversando com elas.

E isso é legal. Trata-se de um gênero tipicamente estadunidense, que não costuma ser feito em outros países. E o fato de ser um filme nacional contribui para uma bem-vinda familiaridade, ainda que o aspecto rural do nosso país cause estranhamento para quem mora em grandes metrópoles.

A parte do rock pesado que fala na descrição entra na trilha sonora, com longos trechos das estradas brasileiras regadas apenas a rock instrumental. No entanto, não espere que os personagens conversem sobre ou façam qualquer referência a seus gostos musicais.

A PSICODELIA

A coisa funciona bem, pelo menos até chegar no terceiro ato. É neste ponto que entra a psicodelia da descrição. Eu não posso falar muito por motivos de spoiler, mas a coisa dá uma virada tão absurda que eu sinceramente esperava que o filme fosse terminar com um dos personagens acordando de um sonho.

Os Incontestáveis, Road Movie, Delfos

A coisa não faz sentido nenhum, personagens mudam completamente de atitude e a história simplesmente segue por um rumo pouco interessante que dá a sensação de que os roteiristas não tinham a menor ideia de como terminar. Ou vai ver foi quando escreveram esta parte que o conhaque subiu.

Talvez os criadores tenham uma influência de David Lynch, cineasta nonsense que também tem suas relações com o rock. Isso, no entanto, não me agrada nem um pouco. O final de um filme é algo muito importante. Como tal, teve um baque considerável na minha experiência e, por causa disso, fica muito difícil recomendar a assistida.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-os-incontestaveisAno de Produção: 2017<br> Duração: 83′<br> Classificação indicativa: 14 anos<br> Distribuidora: Livres Filmes<br> Estreia no Brasil: 9 de agosto de 2018<br> Diretor: Alexandre Serafini<br> Roteiro:Saulo Ribeiro e Alexandre Serafini.<br> Elenco: Fabio Mozine, Will Just, Fernando Teixeira, Tonico Pereira, Kelly Crifer, Markus Konká, Leo Pyrata, Marcio Miranda e Reginaldo Secundo.<br>