Oh Canadá (tirei a vírgula do vocativo para agradar ao mestre Google) tem uma proposta bem semelhante à do clássico brasileiro Memórias Póstumas de Brás Cubas. Leonard Fife (Richard Gere, Jacob Elordi), um cineasta famoso à beira da morte resolve contar sua história para um documentário sobre sua obra. A ideia dele é outra, ele quer confessar tudo que aprontou para sua esposa, de forma que fique imortalizado nas câmeras.
CRÍTICA OH CANADÁ
É uma boa ideia, especialmente se o cineasta tivesse tido uma vida digna de nota. Uma frase bem marcante do longa diz, mais ou menos assim: “quando você não tem futuro, o que resta é o passado. Quando seu passado é fictício, você é um personagem inventado”. Então a vida de Leonard Fife é cheia de mentiras. Mas ela simplesmente não é muito interessante.
O cara é um babaca, sem dúvida, mas nunca foi um vilão. Ele mentiu para as pessoas que amou sobre relacionamentos anteriores, mas nunca aprontou nada mais grave do que fugir de um casamento (e, claro, isso é grave, mas é leve perto do que costumamos ver no cinema). E isso é pouco perto do que o Machadão contou em Memórias Póstumas.
O filme também representa a mente frágil de seu protagonista através de uma narrativa não-linear, que os outros personagens classificam como fantasia. Isso deixa tudo muito confuso. Por exemplo, Richard Gere é o Fife mais velho, enquanto Jacob Elordi é sua versão jovem. Mas tem cenas da juventude onde quem aparece é Gere. E por que a Uma Thurman faz dois personagens distintos? Até onde pude perceber, são realmente duas mulheres, e o filme não é uma daquelas comédias do tipo “Eddie Murphy faz todos os personagens”.
No final das contas, quando tudo é contado e o filme termina, a sensação é de “só isso?”. Oh, Canadá carece de conflitos, e os poucos que tem são diluídos em sua narrativa confusa e sem graça. É um filme curto, mas simplesmente não tem muito a dizer. Melhor evitar.