Este parece ser o ano em que o cinema brasileiro está expandindo consideravelmente seus horizontes, trazendo ótimos filmes com temáticas que normalmente só se via na gringa. Uma dessas temáticas é a de serial killer, abordada pelo filme de hoje. Esta é nossa crítica O Segredo de Davi.
CRÍTICA O SEGREDO DE DAVI
Davi (Nicolas Prattes) é um caboclinho que gosta de ficar escondido filmando as pessoas. Eu sei, creepy. Mas vai ficar ainda mais creepy quando ele resolve elevar a coisa a um novo grau e passar a matar os observados. Enquanto filma as mortes, claro.
O que inicialmente parecem crimes não relacionados acabam se mostrando profundamente ligados ao passado de Davi. Qual é este passado? Isso, meu amigo, você só vai descobrir assistindo.
Por ser contado totalmente da perspectiva do assassino, O Segredo de Davi acaba se afastando das tradicionais histórias do gênero, protagonizadas por policiais. A coisa se aproxima um bocado da série Dexter, e não apenas pela escolha de personagem principal.
A condução do filme, e a própria história que ele conta, me lembraram bastante a primeira temporada de Dexter.
MATA-MATA
Tecnicamente, o filme é irregular. Do lado ruim, temos as atuações, tradicional mácula dos filmes nacionais. Elas nem são tão ruins quanto as que vemos em novelas da Globo, mas ficam bem abaixo do padrão internacional e mesmo do que vimos em filmes nacionais recentes.
Do lado bom, eu gostei muito mesmo da direção e da estética em geral. O diretor Diego Freitas faz um excelente uso de cores, ora optando por tons vivos e ora escolhendo altos contrastes. Os planos são igualmente estilosos, com closes frequentes e que incomodam intencionalmente, deixando as cenas tensas ainda mais desconfortáveis.
Infelizmente, são nas cenas tensas que as atuações mais falham. O ator principal até convence quando o filme aborda sua latente homossexualidade, mas quando tem que fazer cara de mau, a coisa desanda totalmente.
O bicho também pega quando o filme começa a flertar fortemente com o nonsense. E não com o nonsense legal, mas com aquele jeitão David Lynch mesmo. No final da sessão, tudo fica bem explicado, então não chega a full Lynch mode, mas poderia passar sem essa. Especialmente sem as conversas com presuntos. Quem o Davi pensa que é? Ezio Auditore?
UM PASSO À FRENTE
No final das contas, O Segredo de Davi acaba marcando mesmo pelo fato de ser uma produção nacional com uma temática diferenciada. Isso é extremamente saudável para o nosso previamente monotemático cinema nacional. No entanto, há um abismo de qualidade entre O Animal Cordial (para compará-lo a um lançamento recente do mesmo gênero) e ele.
O Segredo de Davi não é ruim. Aliás, é de mediano para bom, e traz ainda uma estética apurada que justifica a assistida na tela grande. Mas em 2018, o cinema nacional contou histórias melhores sobre assassinos.