Acredito que uma unanimidade no cinema nacional é que não temos filmes mais pop. Por um lado, temos um monte de coisa que busca prêmios. Por outro, porcarias comerciais como Juntos e Enrolados. O cinema brasileiro carece de filmes divertidos sem serem burros. Inteligentes sem serem pedantes. Enfim, o tipo de filme que nós, apaixonados pela cultura pop, gostamos. Não à toa, quase qualquer brasileiro citaria Tropa de Elite imediatamente ao lembrar de um filme nessa categoria. E todo mundo pensar no mesmo filme demonstra como este nicho é vazio. Pois esta é nossa crítica O Mestre da Fumaça, que visa atender exatamente a este público.

CRÍTICA O MESTRE DA FUMAÇA

O Mestre da Fumaça tem a saborosa proposta de misturar comédia stoner (pense em Segurando as Pontas) com filmes chineses de kung fu. É uma mistura que eu, particularmente, não me lembro de ter visto. Todos já vimos muitas histórias de mestres de artes marciais que se movimentam como bêbados. Mas chapados é minha primeira vez.

Na prática, O Mestre da Fumaça é muito parecido com uma versão mais adulta de Karate Kid. A ameaça aqui é maior, uma promessa de vingança que mataria três gerações da mesma família. Mas para lidar com isso, nosso herói precisa aprender o estilo secreto do kung fu da fumaça.

Assim, a história segue bem aquela formulinha que conhecemos. Primeiro conhecemos a ameaça, daí vem o treinamento, e por fim a batalha final. Inclusive há cenas diretamente tiradas de Karate Kid, como quando o Daniel-San da vez reclama que está só virando um chapadão, apenas para que o O Mestre da Fumaça revele tudo que ele estava aprendendo enquanto curtia uns beques.

A MALDIÇÃO DAS TRÊS GERAÇÕES

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O golpe do bong é destruidor.

Infelizmente, O Mestre da Fumaça sofre da eterna maldição dos filmes nacionais: as atuações. Todos os atores estão muito ruins. Não há nenhuma exceção de alguém que esteja aceitável, mas há destaques negativos. O próprio Mestre da Fumaça, quando fala em português, é quase incompreensível. O Brock, personagem que fala exclusivamente em inglês, também não parece ser nativo – ou mesmo fluente na língua.

Acredito que isso deve ter sido algo difícil na produção do filme. Afinal, já é difícil encontrarmos bons atores no Brasil. Encontrar bons atores que saibam lutar para as câmeras, então, deve aumentar a dificuldade para o 11. A boa notícia é que as lutas são realmente legais.

A batalha final, inclusive, me lembrou Mortal Kombat, com os heróis lutando contra os minions enquanto o “Shang Tsung” fica lá atrás, assistindo e esperando sua vez chegar. As lutas também são filmadas no estilo moderno, mais Marvel do que filme chinês de kung fu.

MODERNIDADE X TRADIÇÃO

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A batalha final parece saída de um videogame.

Com isso quero dizer que os diretores abusam dos cortes. Cada soco e chute vem com um corte. Particularmente, prefiro cenas de luta em plano sequência, como se costuma fazer na China. Mas sei que isso deixa a produção bem mais difícil. Afinal, os atores precisam saber lutar (ou dançar fingindo que é luta). Com cada soco sendo um plano, acaba sendo mais simples para os atores e coreógrafos, embora sacrifique muito em estilo, pelo menos para mim.

Claro que não posso dizer se isso foi de fato uma opção para facilitar ou simplesmente para ser mais moderno, então encare isso apenas como uma descrição das cenas de luta. O bacana é que, mesmo com os cortes em excesso, a maior parte delas é bem legal.

Assim, O Mestre da Fumaça não é um longa que se destaca dentro do cinema pop. Seu destaque é justamente o fato de ser um filme pop feito no Brasil. É bacaninha e divertido, mas nada que vai mudar sua vida. Não que essa seja a intenção, afinal, é um longa claramente de entretenimento. E se dá razoavelmente bem nisso.