Ah, Paris… A Torre Eiffel, a culinária, o idioma que você fala fazendo beicinho, o PSG, e zumbis! Pois é, A Noite Devorou o Mundo leva o gênero Z para a cidade luz e de quebra ainda dá um toque mais intimista ao gênero.

Sam passa no apartamento de uma ex-namorada para pegar suas coisas. Só que ela está dando uma festa no apê e ele acaba pegando no sono por lá mesmo. Enquanto ele puxa um ronco, acontece o apocalipse zumbi. E quando o truta acorda, o mundo acabou e os mortos caminham sobre a terra, especialmente nos arredores do prédio. Pra piorar a desgraça, são zumbis da variedade rápida.

Delfos, A Noite Devorou o Mundo, CartazNessa situação difícil, ele decide que sua melhor chance de sobrevivência é ficar no prédio mesmo, checando quais apartamentos são seguros e quais estão populados pelos zumbis. E também vasculhando os apês seguros atrás de comida e outras coisas que podem vir a lhe ser úteis.

Isso torna o longa muito mais um drama de sobrevivência do que um survival horror propriamente dito. E eu gostei disso. Afinal, ele tem uma pegada muito mais pé no chão, com um protagonista mais próximo da realidade. Ele não é o cara que vai sair na rua com uma shotgun nas mãos distribuindo headshots. É o sujeito que fica na dele, racionando comida enquanto espera a situação mudar, batalhando muito mais com a loucura da solidão que com os infectados.

Essa pegada mais “pé no chão”, se posso usar esse termo, com um personagem com atitudes muito mais próximas do que uma pessoa normal realmente faria numa situação dessas, dá todo o diferencial do filme. Afinal, é o cotidiano do cara, vivendo um dia de cada vez, inventando maneiras de passar o tempo e lidando com os pequenos problemas que vão surgindo e com sua própria psique.

A NOITE DEVOROU O MUNDO

Mas se por um lado essa pegada mais intimista é a força do filme, ele também pode espantar uma parcela que queira um filme mais padrão do gênero, mais movimentado e com mais sustos. Nesse caso, não é aqui que esse pessoal vai encontrar isso.

Delfos, A Noite Devorou o Mundo
Quem nunca quis tocar tambor na varanda durante um apocalipse zumbi?

Claro, ainda é um filme de zumbis, e Sam vai se deparar com eles em alguns momentos, mas esta não é a tônica da coisa. Por conta disso, algumas pessoas podem achá-lo paradão e com pouco avanço da narrativa. Particularmente, eu gostei do ritmo dele, embora também tenha detectado alguns problemas.

Para um cara tão sensato como Sam, a léguas de distância do nível de inteligência dos protagonistas de filmes de terror, em dois momentos ele toma atitudes que destoam muito dessa construção de personagem. Não dá para entender porque ele fez tais coisas. Também cai em alguns clichês como a tradicional sequência de pesadelo, mas no geral isso pode ser relevado e o resultado final ainda é bem bacana.

Me surpreendi positivamente com A Noite Devorou o Mundo. Quando assisti, sabia somente que era um filme de zumbis, e gostei da forma mais realista e intimista com que foi conduzido. Se você curte os filmes Z, especialmente os que saem do padrão, vale a assistida.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-noite-devorou-o-mundoTítulo: La Nuit a Dévoré le Monde<br> País: França<br> Ano: 2018<br> Gênero: Terror<br> Duração: 93 minutos<br> Distribuidora: California Filmes<br> Diretor: Dominique Rocher<br> Roteiro: Jérémie Guez, Guillaume Lemans e Dominique Rocher<br> Elenco: Anders Danielsen Lie, Golshifteh Farahani e Denis Lavant.