O assunto do dia são continuações tardias. Eu mesmo cobri Estômago aqui no DELFOS quando ainda era um jovem foca. Lembro do dia em que assisti ao filme, o que é raríssimo para mim. Mas não lembro muito do filme. Na minha cabeça, era um longa de terror sobre canibalismo, mas isso não bate com a minha resenha supralinkada. Felizmente, Estômago 2 O Poderoso Chef traz de volta personagens e continua a história, mas é de certa forma independente.
CRÍTICA ESTÔMAGO 2 O PODEROSO CHEF
Raimundo Nonato, o protagonista do filme anterior, está preso, mas está usando seus superpoderes de cozinheiro para sobreviver e se dar bem com todo mundo. Enquanto os detentos genéricos comem comida ruim, os líderes comem pratos especiais. E aí entra tanto os criminosos como os diretores e funcionários mais privilegiados da cadeia.
Raimundo, chamado de Alecrim pelos colegas, tem uma vida confortável dentro do possível, servindo como o cozinheiro quase particular de Etc, o líder criminoso interpretado pelo Paulo Miklos e que já aparecia no filme anterior. As coisas começam a mudar quando um figurão da máfia italiana aparece por ali, e não se submete às regras da gangue brasileira.
O resultado é uma disputa por poder entre o Zé Povinho brasileiro e os chiquetosos italianos. Nosso amigo Alecrim fica no meio, com seus caprichos sendo disputados por ambos os lados.
DUAS HISTÓRIAS LINEARES PARALELAS
Assim como o anterior, Estômago 2 divide sua narrativa em duas histórias lineares paralelas. Mas o elo de ligação não é mais nosso amigo Raimundo, mas o Dom italiano. Sim, metade do filme se passa na Itália e é falado em italiano, com legendas. A gente acompanha a vida dele antes de ser preso, paralelamente às tensões crescentes com o eterno Titã na cadeia.
Eu mudei muito desde que escrevi a resenha de Estômago. Afinal, 16 anos se passaram. Mas uma coisa não mudou: eu ainda gosto mais de acompanhar uma única boa história por vez. Embora as duas histórias sejam suficientemente boas, não dá para negar que a parte que rola no Brasil é muito mais tensa e interessante. Assim, sempre ficava um tanto decepcionado quando o filme mudava seu foco.
TENSO E ENGRAÇADO
Dito isso, e pelo menos comparando com minha resenha, eu gostei mais de Estômago 2 em 2024 do que gostei de Estômago em 2008. Na verdade gostei muito do que vi. Achei o filme engraçado e tenso em doses iguais, o que é uma combinação deveras saborosa para o cinema.
Embora não seja mais o protagonista, João Miguel ainda rouba a cena. Ele transborda carisma e tem aquele tipo de rosto com o qual é impossível não simpatizar. O jeito que ele navega entre os criminosos mais casca grossa é genial em sua simplicidade, e acredito que por isso mesmo faz com que a turma perigosa vá com a cara dele.
O CAMINHO PARA O CORAÇÃO PASSA PELO ESTÔMAGO 2
O Paulo Miklos também se destaca no elenco. Já vi vários filmes bacanas com ele, e diria que até gosto mais dele como ator do que como músico. Aqui ele é capaz de fazer uma cara de psicopata que te deixa com medo dele, ótimo para seu personagem. Também é bacana a forma como o Dom italiano fala sobre a culinária brasileira, com um romantismo e apreço que nós não costumamos ter quando falamos de feijoada ou de casquinha de siri.
Então saí do cinema bem satisfeito com o que vi em Estômago 2. Fiquei até com vontade de reassistir ao filme anterior e ver se desenvolvo um novo apreço por ele depois de aflingido pela velhice e por cabelos brancos. Você diz que quer evitar que mais cabelos brancos apareçam na minha cabeça? Ora, então clique aqui e apoie o DELFOS no Apoia.se.
RECEITA DE BAURU
Não tem a ver com a crítica, mas quero registrar aqui que o filme passa uma receita de Bauru que quero experimentar. Então estou colocando aqui, caso você queira tentar em casa também.
Ferva água numa assadeira. Quando ferver, coloque uma colher de manteiga. Pegue três fatias de queijo (prato, mussarela e suíço) e misture um com o outro. Coloque no pão com os outros ingredientes que desejar. Vou tentar fazer assim que tiver uma oportunidade. E você?