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Tadinha, a Pixar não dá muita sorte com seus títulos nacionais. Coco, por exemplo, virou Viva – A Vida é uma Festa. E este Onward, que em português ficaria algo como Avante (que eu considero um título fantástico) virou algo que parece cinebiografia de cantor sertanejo. Apesar da adaptação fraca do título, você vai descobrir na nossa crítica Dois Irmãos que o filme é excepcional.

CRÍTICA DOIS IRMÃOS

E olha que, pelas imagens – e pelo título nacional – eu não esperava muito de Dois Irmãos. Sei lá, os personagens não pareciam tão carismáticos. Isso mudou assim que a sessão começou.

A história de Dois Irmãos se passa em um mundo exatamente como o nosso, onde as pessoas usavam mágica no passado distante. Porém, mágica era difícil de ser dominada. Desta forma, assim como na vida real, quando a tecnologia passou a avançar – e fazer facilmente o que a mágica fazia após anos de estudo – a magia foi abandonada. E esquecida.

Crítica Dois Irmãos, Dois Irmãos, Onward, Pixar, Delfos
“Eu sempre me emociono quando o Corrales fala bem dos nossos filmes.”, dizem todos os funcionários da Pixar.

Os Dois Irmãos do título são dois elfos cujo pai morreu há muito tempo. O mais novo sequer chegou a conhecer o progenitor. Pois a mamãe elfa tem uma surpresa: o papai deixou um embrulho com instruções para entregar aos pimpolhos quando estes tivessem mais de dezesseis anos.

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O presente era um cajado mágico, uma joia, e instruções para materializar o pai, possibilitando que eles passassem um dia com ele. O feitiço dá errado e, como você pode ver no pôster, só a parte de baixo do pai apareceu. Agora os irmãos vão se envolver em uma aventura em busca de uma nova joia que permita terminar a magia.

Crítica Dois Irmãos, Dois Irmãos, Onward, Pixar, DelfosE uma grande aventura será.

PERSONAGENS ADORÁVEIS

A essa altura dizer isso é chover no molhado, mas faz parte do âmbito de uma crítica de cinema falar dos personagens. E, como é tradição na obra da Pixar, eles são muito legais. Simpáticos e adoráveis.

Gostei especialmente do irmão mais velho, que traz ao cinema uma interpretação inédita de um headbanger e muito mais realista. Talvez seja melhor definí-lo como um nerdbanger. Além de ouvir o nosso tão adorado rock pauleira, ele é apaixonado por história, fantasia e RPG. Assim como eu e você. Nada daqueles roqueiros revoltados que costumam aparecer em obras menos capacitadas.

Até o pai é de uma simpatia considerável, especialmente quando levamos em conta que ele é apenas um par de pernas. Mas são pernas que andam, dançam e demonstram sentimentos com muita personalidade. É o tipo de personagem que deveria ser estudado em cursos de animação, pois é bem difícil criar alguém tão expressivo sem olhos – e pior ainda sem um rosto. O pai e seus movimentos deixam impossível não lembrar do clássico da Sessão da TardeUm Morto Muito Louco. O clima da narrativa, no entanto, é bem mais próximo de uma aventura do que de uma simples comédia.

UMA GRANDE AVENTURA

Aliás, fazia bastante tempo que eu não via um filme que me lembrasse tanto videogame. Pensei bastante em Zelda, mas na real o mais parecido com ele mesmo é Uncharted. Ou seja, uma aventura tradicional, bem humorada e com foco em personagens muito bem desenvolvidos.

Ao longo da aventura, os irmãos vão seguir mapas e solucionar enigmas, exatamente como é comum em jogos do gênero. Inclusive, um desses enigmas, em que eles devem seguir a direção para a qual estátuas estão apontando, eu tenho certeza que já vi em um jogo. Minha não confiável memória diz que foi em Zelda: Link’s Awakening, mas sinta-se à vontade se sua memória for melhor e quiser me corrigir.

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O irmão mais velho é um nerdbanger como você e eu.

Outra coisa muito bacana é como o jogo mistura na narrativa coisas fantásticas (em geral que existem há muito tempo) com as coisas mundanas da modernidade. A cena da taverna da Mantícora, por exemplo, foi capaz de me arrancar gargalhadas. E você sabe que isso não é tarefa fácil.

Por fim, apesar do clima divertido e cheio de piadas, Dois Irmãos não trai o “movimento Pixar”, e fez questão de colocar uma cena no final capaz de tirar lágrimas do meu sempre másculo e viril semblante.

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Fazer o quê? Eu ando em um momento da vida em que histórias sobre paternidade me emocionam (eu sou pai de uma linda mocinha de dois anos), e minha própria mãe morreu cedo demais. Desnecessário dizer que eu adoraria ter a possibilidade de passar mais um dia com ela.

Isso, claro, não é possível. As magias capazes de fazer isso foram há muito esquecidas no mundo real. Sobrou, pelo menos, a magia moderna do cinema. E esta, hoje, não decepcionou.