A vida é cruel. É especialmente cruel viver assim. No entanto, como é bom se surpreender positivamente com um filme. Eu até esperava que Como é Cruel Viver Assim fosse bacaninha, mas realmente me diverti bastante com ele, a ponto de fazer algo que nunca faço: recomendá-lo com força já no primeiro parágrafo.

COMO É CRUEL VIVER ASSIM

Obviamente, não vou encerrar o texto por aqui. Afinal, você pode querer saber mais sobre ele. Pois a sua história é algo até relativamente comum nos filmes estadunidenses: acompanhamos uma galerinha em precária situação financeira que resolvem sair dessa sequestrando um milionário.

Como é Cruel Viver Assim, Julia Rezende, Delfos

Nenhum deles tem experiência em crimes, mas eles têm alguns contatos no submundo a quem pedir ajuda. Ainda assim, como é bem definido por um dos personagens, “sequestrar sem saber o que está fazendo é como não saber fritar um ovo e querer fazer um banquete para 200”.

E é daí que vem a graça do filme. Não exatamente da inaptidão dos protagonistas, mas da sua imensa falta de foco. É aí também que entra o excelente texto, com diálogos afiados que definitivamente não são comuns no cinema nacional.

Como é Cruel Viver Assim, Julia Rezende, DelfosO texto e a entrega das piadas são tão bons que me lembrou a série 30 Rock. Ao contrário da criação da Tina Fey, aqui o humor não é especialmente nerd, mas os diálogos rápidos e coloridos acabam sendo daquele tipo “piscou, perdeu a piada”. E, como um nerd hiperativo fã de Sonic, isso muito me agrada.

Permita-me dar um exemplo: em determinado momento, os pseudosequestradores estão analisando o caminho, e um deles, chamado Primo (Silvio Guindane, responsável pelas melhores piadas), reclama que não é de raiz usar GPS quando você está levando o sequestrado para o cativeiro. Se você riu disso, é bem provável que se divirta tanto com Como é Cruel Viver Assim quanto eu.

CINEMA NACIONAL

Algo que separa este de um filme do Spike Lee ou do Quentin Tarantino com temática semelhante é justamente o fato de ser um longa brasileiro. Boa parte dos diálogos fica especialmente engraçada por representar bem a nossa cultura. Por exemplo, sempre que os protagonistas vão se referir a sua vítima, eles não usam adjetivos como “milionário FDP” ou algo assim. Não, ele é sempre o “Seu Ronaldo”, demonstrando bem a tradicional cordialidade intrínseca ao nosso país.

Para não dizer que ele é perfeito, admito que me decepcionou um pouco pelo fato de, digamos, o sequestro em si demorar demais para acontecer. Eu esperava que boa parte do filme fosse mostrar as consequências do ato, mas aí foi mais algo da minha expectativa mesmo. A ideia do filme claramente é mostrar o planejamento da coisa toda.

Como é Cruel Viver Assim, Julia Rezende, Delfos

Como é Cruel Viver Assim é o terceiro filme nacional que eu assisto em sessão de imprensa em menos de uma semana. E o mais legal é que os três são bastante diferentes, em temática e gênero. Este é o mais divertido deles, ainda que eu também tenha gostado muito de O Animal Cordial. Torço para que isso seja prova de que nosso cinema está realmente expandindo seus horizontes: e ficando bem melhor no processo.