Esta é nossa crítica A Última Festa, novo filme de Matheus Souza. É o diretor do excelente Apenas O Fim, que ganhou um lugar honroso na minha lista de Melhores Filmes de 2009, ao lado de presenças ilustres como 500 Dias Com Ela, Up – Altas Aventuras e Avatar.
Na época, a imprensa nerd costumava se referir a ele como um sucessor do estilo humano e focado em diálogos do Kevin Smith, influência que era muito clara no filme em questão. Porém, o sucesso de Apenas O Fim rendeu ao nosso amigo um trabalho na Globo, o que pode ter sido uma boa jogada financeira, mas significou que a obra dele nunca atingiu o potencial artístico que imaginávamos naquela época. Agora, neste início de 2023, Matheus Souza retorna com um novo filme: A Última Festa.
CRÍTICA A ÚLTIMA FESTA
A Última Festa se passa durante uma única noite. Mais especificamente, durante uma festa de formatura de ensino médio. Nesta noite, acompanhamos o grupo de amigos da foto, cada um se envolvendo em algum enrosco envolvendo romance e sexo.
Tem a menina que quer perder a virgindade até o final da festa. Outra está presa na ambulância com o namorado que bebeu demais. Outro, ainda, quer ficar com um moleque que considera a pessoa mais bonita do mundo. Por fim, a última está lidando com o fim de seu relacionamento e com uma gravidez não planejada.
A Última Festa é bem óbvio narrativamente. É bem claro desde o primeiro minuto como cada uma dessas histórias vai terminar e com quem eles vão ficar no final. E, de fato, não surpreende em nada. O que faz valer a pena é o texto, muito bem escrito, com pensamentos que muitas vezes são até profundos demais para a idade retratada.
MATHEUS SOUZA
É muito legal, por exemplo, ver em um filme a representação da divisão política do Brasil. A Última Festa não é especialmente político, a não ser que você considere a existência de personagens homossexuais uma estância política. Refiro-me a diálogos que retratam o fato de que o nosso país, e nossas famílias, estão ridiculamente divididos entre direita e esquerda. Uma personagem comenta isso, e logo em seguida diz que chamou um parente de fascista. Tem coisa mais Brasil 2023 do que chamar alguém com inclinação política à direita de fascista?
Apesar do texto excelente, algo muito me incomodou no roteiro, também de Matheus Souza. A coisa é totalmente estadunidense. A impressão que dá é que foi escrito por alguém que não fez ensino médio no Brasil, ou cujo único contato com essa idade envolve o que os EUA retratam em filmes como American Pie. A pressão para perder a virgindade na festa de formatura, por exemplo, é algo pelo qual eu nunca vi um adolescente brasileiro passando. Sim, a gente tem a pressão para deixar de ser virgem, mas não tem esse prazo tão pré-estabelecido quanto nos States.
Além disso, pelo menos na minha época, o ensino médio não era tão sexualizado quanto o que mostra aqui. A festa em questão é repleta de gente se pegando, todo mundo pensando em sexo e procurando por lugares isolados na escola para curtir um sapeca-iaiá. Talvez as coisas tenham mudado desde minha época (e acho que mudaram mesmo), mas eu me lembro de pouquíssimas pessoas que ficaram com outras da própria escola. Mesmo para a faculdade, esse nível de sexualização me parece fora da nossa realidade, mas estaria mais perto do que de fato vi acontecendo.
PROBLEMAS DO CINEMA NACIONAL
A Última Festa também sofre com problemas bem comuns do cinema nacional. As atuações são totalmente irregulares, indo do meramente ok ao “como aceitaram algo desse nível em um filme profissional?”. É bem o esperado em um filme da Globo, especialmente um estrelado por vários atores que saíram de Malhação. Mas incomoda mesmo assim. O texto excelente ao mesmo tempo salva e faz pensar quão legal seria este filme com um elenco de verdade.
Outro problema, também bastante comum no nosso cinema, é a mixagem de som. Não sei qual a dificuldade que filmes nacionais têm com mixar diálogos, mas eu acho muito mais difícil entender um filme falado em português do que um em inglês sem legendas, o que não faz sentido algum considerando qual é meu idioma nativo.
Isso prejudicou consideravelmente a narrativa para mim. Havia diálogos inteiros, sequências com 10 ou mais palavras, que eu sinceramente não conseguia entender nenhuma. Eu precisava mais de legendas em A Última Festa do que em boa parte das coisas estadunidenses que assisto, e estava na hora de o cinema nacional conseguir resolver isso.
O FIM DA CRÍTICA A ÚLTIMA FESTA
No final das contas, A Última Festa é um filme com problemas, mas ainda assim é bem legal. Quem gostou de Apenas o Fim, como eu e provavelmente você, certamente vai curtir este novo, ainda que não alcance as mesmas alturas do anterior. Poucos filmes brasileiros alcançarão isso, é claro. E o que importa é que A Última Festa é um longa nacional muito superior à média, que certamente merece ser visto.