Corrente do Mal é um daqueles raros filmes de terror que conseguiu acumular vários prêmios. Claro, não tem nenhum Oscar, Cannes, ou esses mais desejados, mas ainda assim sua página de prêmios no IMDB impressiona. E veja só, considerando a qualidade dos filmes de terror recentes, eu diria que é até merecido.
Ele tem um climão e uma proposta que remete aos filmes de fantasma japoneses, tipo O Chamado, ao mesmo tempo que faz referência aos clássicos do slasher que a gente tanto gosta.
Pois acompanhe comigo: após fazer sexo com um gatinho que conhecia há pouco tempo, Jay (Maika Monroe) é avisada que acabou de pegar uma maldição. Trata-se de um fantasma ou algo parecido que vai assumir a aparência de uma pessoa desconhecida (qualquer pessoa) e que vai seguí-la ininterruptamente. Se o fantasma encostar nela, ela está morta, e depois ele vai atrás do amaldiçoado anterior. É ou não é a pior DST da qual você já ouviu falar?
Felizmente, a tal entidade se locomove apenas andando. Ou seja, se você sair correndo ou dirigindo, dá para escapar numa boa. O problema é que não dá para relaxar por várias horas em algum lugar, pois o monstrinho sempre está andando na direção dela. Para se livrar da maldição, ela precisa transar com outra pessoa, e assim passar a maldição pra frente. E torcer para que o próximo repasse e assim sucessivamente até ficar muitas vítimas longe dela. É uma mistura de corrente (eu diria até uma… Corrente do Mal! Há!) com DST. E convenhamos, lembra muito a proposta de O Chamado e vários outros filmes de terror japoneses.
Ao fazer com que a maldição seja transmitida através do sexo, o filme também brinca com a tradicional “maldição” dos filmes de terror, que o monstro sempre mata quem faz um sambinha com a maracutaia. É batata, se você fizer sexo, o Jason te pega. Aqui a diferença é que o sexo é diretamente responsável pela transmissão.
O quanto você gostar da proposta vai determinar o quanto você vai gostar do filme. Se achou a ideia interessante, provavelmente vai achar o mesmo do longa. Se, por outro lado, achar que é uma ideia um tanto adolescente demais… bem, você está certo também. Afinal de contas, filmes de terror são feitos prioritariamente para o público adolescente.
O que interessa é que ele faz bem o que se propõe a fazer. É realmente desesperador ver uma pessoa desconhecida te encarando e andando na sua direção, ainda mais se você sabe que um toque dela pode te matar. O lado bom é que o fantasma aqui costuma assumir o visual de uma mulher pelada. É o que eu sempre digo, se uma assombração vai te matar, que ela pelo menos esteja com os peitinhos de fora.
E já que falamos de peitinhos, é considerável também a quantidade de pernas femininas que aparecem neste filme. Chega a chamar a atenção que todas as moças do elenco principal estão sempre de shortinhos e mesmo as coadjuvantes vivem mostrando as coxas. Este filme é para quem gosta de pernas o mesmo que um do Tarantino é para quem gosta de pés, então fica a dica.
Ainda na temática sexual, penso que a proposta poderia ter rendido mais. A maldição é passada para uma moça jovem, bonita, heterossexual e solteira. Se você mudar qualquer uma destas características, poderia ter rendido bem mais.
As coisas poderiam ficar bem mais complicadas simplesmente se o amaldiçoado fosse homem, ou feio/a, ou gay. Mas a ideia que eu acho que poderia ter ficado mais legal é se a maldição fosse passada para um homem casado que fez sexo fora do casamento. Os caminhos que a história poderia seguir, do tipo falar ou não para a esposa, transar ou não com ela ou fazer sexo fora do casamento de novo, são todos mais interessantes do que o “não quero passar a maldição para outra pessoa” que a protagonista vive aqui. E o pior é que ela é tão bonita que mesmo sabendo que vão pegar uma maldição, os personagens homens ainda fazem fila para descabelar o donut maquiado com ela. Eu, hein?
Apesar de seguir pelo caminho mais comum, considerei a temática interessante o suficiente e a condução da história igualmente competente. Não é lá muito criativo – especialmente se você já assistiu a O Chamado – mas é um arroz com feijão bem feitinho e um filme de terror divertido, o que já é mais do que se pode falar do que tem saído por aí no cinema de medo recente.