Shrek Terceiro

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A série Shrek é, possivelmente, uma das melhores séries do cinema – ao lado de Homem-Aranha, é claro. E, assim como a franquia aracnídea, a terceira parte da fábula do ogro vem dividindo opiniões. Alguns dizem que é a melhor da trilogia. Outros, que é a pior. A minha opinião sobre o amigão da vizinhança, você leu aqui e, ao final desse texto, você saberá a minha sobre a paródia dos contos de fadas.

Aliás, falando nisso, a idéia para o mundo de Shrek é sensacional. Acho muito tremendão isso de criarem um lugar onde todas as criaturas e personagens dos contos de fadas e histórias de fantasia (o que, aliás, foi copiado no universo de God of War, dessa vez tendo a mitologia grega como ponto de partida) convivem e juntar isso a músicas contemporâneas, referências da cultura pop e, é claro, muito humor nonsense da melhor qualidade. Todas essas tradições continuam presentes na terceira parte da franquia, intitulada Shrek Terceiro – aliás, esse título é genial!

Aqui, o rei sapo está morrendo. Shrek é o sucessor de direito no trono de Tão Tão Distante. O ogro, é claro, não está muito feliz com as responsabilidades que isso acarretaria, pois almeja simplesmente voltar ao seu fétido pântano. Diante da recusa do gigante esmeralda, o rei fala que existe outro sucessor. E ele se chama Arthur Pendragon.

Pronto, o trio ternura formado por Shrek, o Burro e o Gato de Botas já tem uma nova missão – procurar o futuro Rei Arthur. Enquanto isso, a rainha e Fiona (que está grávida) ficam em casa, fazendo essas coisas que mulheres fazem – tipo tricotando, tomando chá e trocando presentes (e, sim, eu só falei isso para colocar um pouco de polêmica aqui).

Paralelamente, o Príncipe Encantado ainda quer o trono do reino e não vai poupar esforços para alcançar seu sonho. Assim, vai para o bar dos vilões e convence todos eles a se vingar de seus antagonistas. Isso significa que ele forma uma turma de vilões de fazer inveja à Irmandade de Mutantes, contando com capangas contratados do porte de Capitão Gancho, o Cavaleiro Sem Cabeça e a Rainha Má, apenas para citar alguns exemplos.

A força de todos os filmes da franquia está justamente que seus personagens são conhecidos e queridos por todas as pessoas, de qualquer idade. Pô, existe alguém que realmente NÃO GOSTE dos Três Porquinhos ou do Pinóquio? São personagens com um carisma inabalável pela importância que tiveram nas infâncias de todos nós. Até mesmo os vilões são legais. Quem não se diverte com o Capitão Gancho ou com o Lobo Mau (que nessa série faz parte da turminha do bem e é até amiguinho dos porquinhos – ah, sim, e ainda não tirou a roupa que roubou da vovozinha)? Além disso, aqueles com um repertório mais avançado em contos de fadas podem encontrar alguns personagens realmente tirados do fundo do baú em versões “anteriores” às que conhecemos. Por exemplo, a Guinevere (a esposa do Rei Arthur) aparece aqui como uma daquelas gostosas do colegial que não dá bola para seu futuro macho. Lancelot (o melhor cavaleiro do futuro rei) é um atleta popular que tira sarro do coitado e assim por diante. Isso sem falar de alguns que estão ali apenas para recompensar aqueles que prestam atenção em detalhes – procure, por exemplo, pela Chapeuzinho Vermelho ou pelo Bambi.

Apesar dessa força, contudo, Shrek Terceiro sofre de alguns problemas bem chatos e bem clichês – principalmente o maldito valor da amizade onipresente em filmes infantis. Aquela partezinha triste no meio já estragou o primeiro e piorou o segundo – por que diabos ainda insistem no erro? Por que todo roteirista de desenho acha que, em algum momento, os protagonistas devem brigar, se separar e uma musiquinha triste rolar em seguida? Ninguém gosta disso!

Além desse problemão básico, a história também dá uma esfriada depois que os heróis encontram Arthur. Ao contrário da maior parte dos personagens que aparecem aqui, o mago Merlin me decepcionou, pois foi muito mal aproveitado. Poxa, originalmente ele é um mago meio doidinho – as piadas praticamente se escrevem sozinhas. O cara é muito mais engraçado em sua versão não-cômica de Excalibur do que aqui. E isso é um absurdo dada a qualidade de todas as outras versões (já até disse antes que a paródia do Gato de Botas tornou o personagem mais popular do que ele jamais foi), e tornado ainda mais grave quando constatamos que sua voz foi dublada por um dos Monty Python mais divertidos, o Eric Idle.

E já que estamos falando de elenco, outro Monty Python aparece aqui – trata-se de John Cleese, reprisando seu papel como o rei. Ao contrário de Idle, contudo, seu personagem só aparece em uma cena – e é simplesmente a cena de morte mais divertida do cinema, ou pelo menos das que eu consigo me lembrar no momento. Também temos, é claro, Mike Myers e Cameron Diaz como o casal de ogros, mas, novamente, quem rouba a cena é Eddie Murphy e Antonio Banderas, respectivamente o Burro e o Gato de Botas. É incrível como o Burro parece ter sido simplesmente criado para Murphy, já que é até difícil dizer qual dos dois é mais chato – o ator ou o personagem. O Burro, contudo, é chato de um jeito adorável, o que o torna um personagem muito legal e divertido. Já Eddie… bem, digamos que eu só quero ver os trabalhos futuros do cara dentro dessa franquia.

Uma coisa legal em Shrek Terceiro é que os coadjuvantes (o verdadeiro charme da série) ganham papéis maiores aqui. Alguns, como o Capitão Gancho, são mais bem desenvolvidos, outros são completamente novos, como as princesas clássicas Rapunzel, Branca de Neve, Cinderela e, é claro, a mais engraçada, a Bela Adormecida. Ok, a Branca de Neve e a Cinderela já tinham aparecido antes, mas agora elas contribuem para a história, não são apenas uma piadinha visual.

No geral, este é um longa deveras divertido. No início, você chora de rir. No final, idem. E no meio tem um trechinho mais morno que chegou a me deixar meio entediado. De qualquer forma, é diversão garantida para qualquer um que goste de humor nonsense e/ou histórias de fantasia. A franquia Shrek é uma aula de como fazer paródias e os contos de fada são um material tão rico e tão apropriado para isso que eu fico até triste em pensar que só vêm mais dois filmes com essa turma por aí (sem contar o spin-off do Gato de Botas). Shrek Terceiro não é melhor que o segundo e não tem o elemento surpresa que beneficiou o primeiro. Mas ainda assim é bom o suficiente para estar na minha lista de melhores do ano (pelo menos até o momento) e vale o ingresso nem que seja para ver de novo a carinha de coitado do Gato de Botas ou os Três Porquinhos falando com sotaque alemão.

Curiosidades:

– Logo no início do filme, é feita uma referência ao longa Monty Python em Busca do Cálice Sagrado quando um carinha usa cocos para fazer o barulho de cavalos correndo.

– O diretor Chris Miller foi a voz do pingüim Kowalski em Madagascar. O cara é um tremendo fã de Monty Python e teve orgasmos múltiplos ao fazer sua semi-reunião particular do grupo, ao trabalhar com John Cleese e Eric Idle no mesmo projeto. Ok, a parte dos orgasmos múltiplos eu inventei, mas que ele deve ter ficado bem feliz, deve. 🙂

– O colégio Worcestershire, onde os heróis encontram Arthur, é habitado pelos tradicionais grupinhos do colegial. Com a pequena diferença que os nerds são muito mais maldosos que os atletas – Hell, yeah!

– E só para não falar que eu não coloquei uma curiosidade exclusivamente delfiana, esta resenha tem 8413 toques. A sua vida nunca mais vai ser a mesma depois de saber disso, diz aí!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
shrek-terceiroPaís: EUA<br> Ano: 2007<br> Gênero: Comédia<br> Artista: Livre<br> Produtor: Aron Warner, Andrew Adamson, Johnson H. Williams<br> Diretor: Chris Miller / Raman Hui<br> Distribuidor: UIP<br>