Ratchet & Clank

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Eu demorei para embarcar no vagão de Ratchet & Clank. Durante a geração do PS2, de alguma forma eu passei sem jogar nenhum dos jogos da dupla. Porém, quando fui comprar meu PS3, queria levar junto um joguinho bacana. Peguei na mão a caixinha de Tools of Destruction, que estampava no verso a frase “é como jogar um desenho da Pixar”, e isso me conquistou. Levei pra casa e me diverti pra caramba com o jogo, a ponto de quando o A Crack In Time estava para sair, em 2009, fiquei realmente empolgado para o lançamento.

Os anos seguintes não foram muito felizes para este que já foi um system-seller dos consoles da Sony. All 4 One simplificou bastante a jogabilidade para transformá-lo em um jogo cooperativo que lembrava muito a série Lego. E depois desse ainda saiu Full Frontal Assault, que trocava o gênero de ação e plataforma por um tower defense.

Parecia que a série tinha atingido seu ápice no excelente A Crack In Time e depois a Insomniac não sabia mais o que fazer com ela. Nem o divertido Into The Nexus conseguiu recuperar a pintudice de outrora, já que era um joguinho bem menor do que os AAA de antes. E com a Insomniac desenvolvendo o exclusivo de Xbox One, Sunset Overdrive, parecia que as aventuras do lombax Ratchet e do robozinho nerd Clank haviam chegado ao fim.

E LÁ VEM UM REBOOT! OU SERIA UM REMAKE?

Pois com o lançamento do filme baseado no jogo, que estreia no Brasil em 12 de maio, a Insomniac resolveu dar uma de Hollywood e injetar novo fôlego na franquia refazendo o primeiro jogo da série para o PS4. E, meu amigo, vou te dizer que é uma pena que nem todos os relançamentos sejam feitos com o mesmo capricho deste.

Ok, admito que não joguei o jogo original, mas os gráficos estão nada menos do que perfeitos. Não parece um jogo velho, parece um jogo feito para se aproveitar bastante do poder do PS4. Se no PS3 já era real a sensação de se estar jogando um filme da Pixar, isso aqui foi aumentado para 11.

Não só o jogo é lindo tecnicamente, como é um esplendor artístico, cheio de cores vivas, animação perfeita e, claro, explosões a rodo. Eu sinto muita falta de jogos mais cartunescos, coloridos e bem-humorados nos games da última década e fico feliz de ter um novo Ratchet & Clank para relaxar um pouco.

Isso ficou ainda mais forte porque, enquanto jogava este, estava jogando também o Dark Souls III. E os jogos se completaram de uma forma bem mágica. Afinal, Dark Souls é opressor, difícil, exige muita atenção. Ratchet & Clank é colorido, engraçado e relaxante. São dois extremos, cada um com muitas qualidades, e que mostram quão rica a produção de games contemporânea pode ser.

FERRAMENTAS DA DESTRUIÇÃO

Segundo release da própria Insomniac, este novo Ratchet & Clank é baseado no original, mas traz novos planetas, novos chefes e novas armas. Devo dizer em nome da transparência que, por não ter jogado o original, não sei dizer exatamente o que é novo em relação ao lançamento de 2002, mas como alguém que jogou e curtiu bastante toda a série Future lançada no PS3, posso dizer que infelizmente não temos grandes novidades.

Tem duas armas que não me lembro de ter visto antes: Pixelizer é uma escopeta que transforma seus inimigos em pixels que explodem depois de um tempo, fazendo um engraçado barulhinho de videogame antigo. A outra é Bouncer, uma arma que atira bolas que saem quicando na direção dos inimigos (e é excelente).

Tirando isso, não vi grandes novidades. Ratchet aos poucos vai adquirindo todas as habilidades dos jogos anteriores, como planar, jetpack e as botas magnéticas. Felizmente, isso significa que o personagem preferido de todo mundo, o robozinho Mr. Zurkon, também retorna, e com ele todo o trash talk que o acompanha.

O Mr. Zurkon sempre foi uma das coisas mais legais da série. Eu costumo ficar com ele ativo o tempo todo, nem tanto para ele me ajudar a matar os inimigos, mas principalmente porque ele me faz gargalhar com suas frases do tipo “Mr. Zurkon não precisa de energia para viver. Mr. Zurkon vive de dor!”. No entanto, mesmo o Mr. Zurkon não apresenta novidades, tendo quase todas as suas frases repetidas dos jogos anteriores.

PLANETAS E PLANETOIDES

A história mostra Ratchet como um Lombax que sonha em virar um soldado galáctico seguindo os passos do seu ídolo Capitão Qwark (outro dos personagens preferidos da galera). Ele conhece o robozinho Clank, que traz notícias de um plano maligno e ambos embarcam em uma aventura para avisar Qwark e sua trupe do perigo iminente.

Para quem conheceu a série nos jogos mais recentes, chega a ser estranho ver Ratchet como um jovem sonhador e não como o herói que ele se tornaria. Também é um tanto bizarro ver sua admiração por Qwark quando todos nós sabemos que o cara é um patetão covarde. E o que fazem com Qwark ao longo da história, que obviamente não vou contar aqui, é ainda mais estranho, apesar de ser algo tão clichê que já foi feito até com Victor Sullivan no primeiro Uncharted.

Felizmente, apesar de a história propriamente dita não ser muito boa, o roteiro traz excelentes piadas e é simplesmente um prazer assistir às várias cutscenes do jogo (o que inclui algumas cenas do filme).

Um outro aspecto que merece elogios é que a história é contada pelo próprio Qwark, que faz alguns comentários durante o jogo baseado nas suas ações. É bem engraçado, mas parece que a Insomniac acabou esquecendo de usar este artifício nas últimas fases.

PEQUENAS NOVIDADES

Uma coisa que melhorou bastante em relação aos jogos do PS3 é o controle. Agora você pode trocar de armas usando o direcional digital (embora você carregue na maior parte do tempo bem mais do que quatro armas). O sistema de mira também melhorou bastante.

Para completar, o jogo tem uma opção de câmera automática que pode ser muito bem-vinda para aqueles jogadores mais casuais que têm dificuldade de mexer nas duas alavancas.

Como sempre, há também os momentos em que você controla Clank, que são focados em puzzles de transporte de itens. Não são tão elaborados quanto os de A Crack In Time mas trazem uma bem-vinda variação ao gameplay.

HERÓIS DA GALÁXIA

Ratchet & Clank não traz grandes novidades para quem jogou A Crack in Time ou Tools of Destruction. Isso é até esperado, considerando que o que temos é um remake de um jogo mais antigo.

No entanto, o que é inesperado é que ele não parece um jogo velho ou datado. Quem nunca jogou algo da série obviamente não vai sentir falta das novidades que foram implementadas posteriormente, mas o lado bom é que, por ter sido totalmente refeito, ele não faz feio perto de outros jogos originalmente lançados nesta geração.

É um Ratchet & Clank mais simples e com menos variedade do que os posteriores (ou seria anteriores?), mas é muito divertido, muito engraçado e merece ser jogado. E se você nunca experimentou, é uma excelente hora para mergulhar de cabeça.

O filme de Ratchet & Clank estreia no Brasil semana que vem. Mantenha-se delfonado para a nossa resenha!

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
ratchet-clankAno: 2016<br> Gênero: Plataforma / TPS<br> Plataforma: PS4<br> Fabricante: Insomniac<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Sony<br>