O cinema de terror está repleto de crianças assustadoras. Isso me tranquiliza, pois significa que não sou o único com pavor daquelas coisinhas que conseguem ser ao mesmo tempo fofas e malvadas (igual a hipopótamos).
Hoje conhecemos um casal que, apesar de ter dois pimpolhos, decide adotar uma garota. Eles escolhem Esther, a simpática potato da foto ao lado. Eles não sabem, contudo, que ela é evil. E não apenas high school evil.
Não sei exatamente dizer o motivo, mas durante toda a projeção, não conseguia parar de me lembrar de A Mão que Balança o Berço. E isso é estranho, porque eu nem lembro direito desse filme. Então aproveito para bagunçar a ordem tradicional e falar primeiro dos defeitos, depois das qualidades e depois dos defeitos de novo. Eu sou criativo bagarai, diz aí! Viu só, Hollywood? É possível mudar suas próprias fórmulas de vez em quando! 😛
O primeiro problema que você vai reparar é como as coisas demoram a acontecer. Desde a adoção da Esther, ela começa a tomar algumas atitudes para que você pense ser “o início da crueldade dela” ou o sinal de que tem algo estranho com a moça. Porém, eu não consigo ver nada de estranho em uma garota que tranca a porta do banheiro ao tomar banho. Aliás, isso me parece perfeitamente natural.
Em outro momento, o filho do casal atira com uma arminha de paintball em um pombo e o deixa aleijado, agonizando no chão. Esther aparece, dá uma pedra para o moleque e fala para ele acabar com o sofrimento da pobre ave, pois é responsabilidade dele. Ora, quem está sendo cruel aí? O moleque que fez algo por pura maldade ou a mina cheia de compaixão pelo bichinho fofo?
Uma cena deveras patética é ver a absurda preocupação da mãe com o fato de que a garota falou um palavrão. Convenhamos, não tem nada de fuckin’ errado em soltar um motherfuckin’ fuck de vem em fuckin’ quando.
Obviamente, em determinado momento a crueldade da garota realmente aflora e daí vem também a melhor parte do filme. Se você é especialmente sensível em relação a maldades dirigidas a infantes, prepare-se para muitas cenas fortes. Rola até uma roleta russa entre as duas meninas, o que é enervante. Aliás, cenas fortes não faltam aqui e posso dizer com convicção: foi apenas por causa delas que a nota aí do lado está com tantos dragões cuticutis. Se tivessem uma quantidade mais viril de bolas para realmente matar um dos infantes, sem dúvida eu arranjaria mais Alfredos. Porém, da forma que está, não importa quantas maldades sejam feitas para as crianças, elas sempre escapam sem nenhum arranhão. Assim, cadê o perigo, a emoção e o sentimento de inevitabilidade, essenciais em qualquer bom terror?
Infelizmente, depois do meio pintudo, o final volta a enfraquecer tudo, com as péssimas e velhas formulinhas. Inclusive, considerando que o vilão do filme é uma menina, é incrível que eles tenham conseguido seguir os dois principais mandamentos de Hollywood. A saber:
– Não matarás crianças;
– Sempre matarás o vilão ao final do filme. Se não fizer isso, o ator que o interpretou morrerá.
Como conseguiram cumprir os dois? Ora pois, isso eu não hei de contar aqui, mas a solução é ao mesmo tempo genial e patética. Genial, pois realmente fizeram isso com algum sentido. Patética porque mostra quão preso Hollywood está a suas próprias fórmulas e quanto medo têm de ousar e fazer algo diferente.
No final das contas, A Órfã é um filme mediano que se destaca da maioria por ter bolas para mostrar coisas horríveis sendo feitas a crianças. Tivesse mais bolas a ponto de deixar as crianças se arranharem ou, quem sabe, até morrerem, seria excelente por quebrar totalmente os padrões do comportado cinema de medo atual.