Depois da ótima surpresa que foi X-Men: Primeira Classe, todos ficamos aguardando pela sequência, que assumia a ambiciosa tarefa de ligar esta prequência à primeira trilogia, sabe-se lá como.
O filme estreia semana que vem, dia 22, e para dar um hype no lançamento, eles organizaram a X-Men X-perience, um evento que durou esta semana inteira. Na segunda-feira, houve a premiere oficial em Nova Iorque, com todo o elenco reunido, e no resto da semana, eles foram divididos para divulgar o filme em Londres, Moscou, Singapura, Pequim, Melbourne e, no caso desta quarta-feira, São Paulo.
Para a parte tupiniquim desta missão, foram designados os intérpretes das duas versões do Professor X: Sir Patrick Stewart, e James com brigadeiro McAvoy. O nosso generoso Ditador Supremo me convidou para ir com ele cobrir o evento, e apesar de nunca ter participado de nenhuma coletiva, eu aceitei, com um misto de histeria empolgação e pânico ansiedade. Senta que lá vem história!
TRAPALHADAS DELFIANAS
A cabine do filme aconteceu no Shopping Market Place, que por sinal é muito mais perto da minha humilde residência do que do Oráculo Delfiano. Sendo assim, vinte minutos antes do combinado eu já estava esperando pelo Corrales na estação de trem. Eu já conheço esse shopping de outros eventos, então quando ele chegou, fomos direto para lá.
Ao chegar ao cinema, nos deparamos com uma grande fila de jornalistas, que andava num ritmo desanimadoramente lento. Depois de esperar cerca de dez minutos – sem alcançar nem a metade da fila, por sinal – a assessora anunciou que não precisávamos confirmar a presença na lista, e poderíamos ir direto para a sala onde o filme seria exibido. Eu achei que com isso a fila simplesmente andaria livremente até lá, mas ao invés disso, todos começarm a convergir para dentro daquele jeito deliciosamente claustrofóbico. Apesar disso, pegamos lugares bastante razoáveis e vimos o filme, que me agradou bastante. Mas disso nós falaremos na resenha, semana que vem.
Terminada a sessão, nós teríamos de ir para um hotel a poucas quadras dali, onde a coletiva aconteceria. No entanto, ao sair do cinema, percebemos que os outros jornalistas estavam aguardando no que parecia outra fila, mas que não dava em lugar nenhum. “Se tem uma fila, deve ter alguma coisa boa”, comentou o sábio Ditador.
Apesar de sermos ambos tímidos demais para simplesmente puxar assunto com alguém e perguntar o que estava rolando, nós observamos, seguimos o fluxo e descobrimos que aparentemente, teria umas vans para nos levar até lá. Embarcamos prontamente em uma delas. A julgar por quão bem-informados nós estávamos, esta van poderia muito bem não ter nada a ver com o evento e nos deixar em algum lugar remoto, escuro e assustador de onde jamais voltaríamos; mas quando a própria assessora embarcou também, constatamos com alívio que se tratava do transporte certo e que não seríamos mais duas vítimas do mercado negro de órgãos.
No entanto, ao chegar ao hotel, o que encontramos? Outra fila. Dammit! Dessa vez era para pegar as credenciais e se servir dos comes e bebes disponíveis. Depois de esperar uns vinte e seis anos na fila, nos disseram que havia muito mais jornalistas do que o previsto, portanto seria só uma credencial por veículo. Até aí tudo bem, se não fosse pelo fato de que os seguranças não foram informados disso, e nos abordaram duas vezes dentro do auditório para perguntar pela minha credencial. Isso me deixou ainda mais apreensiva do que eu já estava, especialmente quando o Corrales teve de me deixar sozinha para ir para a área dos fotógrafos. Mas ainda demorou outros trinta e dois anos para a coletiva começar, e ninguém veio me expulsar do recinto, então tudo bem.
A COLETIVA
Enfim, o mediador subiu na plataforma – que estranhamente, era isolada por uma faixa, o que geralmente só acontece em eventos abertos para fãs –, se apresentou e chamou os dois, que entraram sorridentes e tomaram seus lugares. Eu tive um rápido treco por estar na presença do tremendíssimo Capitão Jean-Luc Picard, mas me recuperei a tempo da primeira pergunta.
Primeiro, o próprio mediador comentou que os dois atores estavam juntos na primeira e na última gravações, e perguntou como foi importante para eles se conhecerem e trabalharem juntos. James, com seu belo sotaque escocês, comentou que já era fã do Patrick desde os 10 anos, e que conhecê-lo foi muito importante para o desenvolvimento do Charles, mesmo não sendo a primeira vez que ele o interpreta. O Picard – digo, Patrick – nos cumprimentou com um “boa tarde” em português e então disse que do dia em que eles se conheceram, ele “só se lembrava do café da manhã. E é isso”. Mas depois completou, dizendo que a admiração era mútua, que ele já via o trabalho do James há muito tempo e que é sempre ótimo ter a chance de trabalhar com alguém que você admira.
Em seguida, perguntaram ao Patrick se ele se lembrava o que pensou quando foi contratado para o primeiro X-Filme, e o que ele tinha aprendido com seu personagem. Ele contou que ficou em dúvida se aceitava o papel, pois ele já era muito fortemente associado com outra obra de ficção científica, mas que Bryan Singer o persuadiu. E citou que admira o personagem por acreditar em negociação e diplomacia ao invés de violência, o que é raro em obras de ação e é o que o distingue de outros heróis.
A próxima pergunta foi feita por um menininho. Ele perguntou que poderes os dois gostariam de ter quando eram crianças. James revelou que era uma criança muito tímida e insegura, então gostaria de ter o poder de fazer as pessoas gostarem dele, ou o poder da confiança, ou ainda a invisibilidade. Para Sir Patrick, que já tem dois papéis icônicos como líder, perguntaram o que ele acha que faz um bom líder. Ele disse que principalmente a habilidade de se colocar no lugar dos outros ao seu redor, sentir suas necessidades, ver por seus olhos. Muito sensível. O assunto voltou em outra pergunta, e James também observou que o poder do Charles vem desta empatia, que é o início do amor. Que neste filme ele ainda se sente um turista no sofrimento dos outros, mas então começa a entender isto e a evoluir para o Professor X que nós conhecemos.
Eles ainda falaram de como foi fazer o mesmo personagem em momentos diferentes de sua vida. James disse que, para ele, foi complicado definir até onde eles poderiam levá-lo, para que no fim ele ainda ficasse reconhecível. Patrick disse que para ele foi diferente, pois a versão dele só tinha de olhar para trás, para coisas que já sabia, enquanto a de James não tinha esse conhecimento do futuro. Mas que deu muito certo, tanto que ele conseguiu ver a si mesmo no James. Ele quase disse “Picard” ao invés de Xavier nessa hora, mas se corrigiu. “Poderia ser também, não é? Star Trek: Days of Future Past”, ele brincou. James pareceu gostar da ideia.
Os dois constantemente elogiavam um ao outro. Sir Patrick disse que acha fascinante como atores grandes e talentosos que ele conhece, como o próprio James, dizem que tiveram infâncias tímidas e inseguras. James replicou dizendo que seu colega era um exemplo, não só por ser um excelente ator, que muda totalmente de papel para papel, mas também por ser uma pessoa generosa, que não julga, e que tem uma paixão e uma presença que são quase tangíveis. Em outro momento, Patrick disse que James tinha naturalmente o que ele trabalhou muito para conseguir, se divertindo e ao mesmo tempo fazendo um trabalho sério e de qualidade.
A próxima pergunta veio do repórter do CQC, que se aproximou, fez aquele gesto característico do Professor X, com os dedos nas têmporas, e fez sua pergunta “telepaticamente”. “Meu cliente não tem nada a declarar”, brincou o senhor Stewart. Já o James fez cara de indignado e disse que “sim, estou usando cueca!”.
E então veio outra pergunta clássica: se eles mudariam alguma coisa caso pudessem voltar no tempo. James disse que estava feliz com a forma que as coisas aconteceram, mas que talvez recusaria alguns filmes que fez (ele não citou nomes, mas eu tenho meus palpites) e voltaria para ver seu primeiro dia de escola, do qual não se lembra. Sir Patrick diria para seu eu mais jovem para se animar e se divertir mais. E por falar em passado, ele comentou que esta não é a sua primeira vez em São Paulo. Ele veio em 1962, quando tinha 22 anos, e diz que a cidade está bem diferente agora.
Também discutiram esse lado mais humano que James resolveu mostrar em sua versão do Xavier. Ele explicou que, apesar dos super-heróis terem seus “super problemas”, no caso dos X-Men, eles geralmente têm de escolher entre sofrer discriminação por sua verdadeira natureza, ou escondê-la, o que é uma experiência muito humana. E o Professor X parece sempre sereno e bem-resolvido, mas neste filme ele ainda é o mais humano deles. O mesmo repórter perguntou também qual era a cor da cueca dele, então ele se contorceu para poder conferir, e disse que era laranja. Sir Patrick questionou se isso era uma homenagem à Seleção Holandesa de futebol.
Quando perguntados se eles se aliariam ao Erik ou ao Xavier caso fossem mutantes, ambos concordaram que seria difícil resistir ao Magneto. “Além de tudo, ele tem a roupa mais legal”, comentou Patrick, que disse estar feliz que neste filme ele finalmente tem um traje bacana. Ainda falando sobre os uniformes, James disse que também curtia mais o do Magneto, pois o traje que ele usou no Primeira Classe era muito apertado e chegou a rasgar – “on my bum!” – durante as gravações. Sir Patrick então o repreendeu, pois falar mal do uniforme amarelo e azul poderia ser ofensivo por causa do uniforme da Seleção Brasileira. Eles então falaram um pouco sobre a Copa e, quem diria, Sir Patrick Stewart se revelou um grande fanático por futebol. Essa parte da conversa você pode ver por si mesmo como foi em gravação realizada por nós, olha só:
O próximo jornalista citou os rumores sobre filmes solo da Mística e do Gambit (este último pelo jeito será o Channing Tatum. Dammit!) e perguntou pela possibilidade de um para o Xavier. Ele também pediu uma explicação um pouco melhor sobre como o Xavier está vivo depois do que aconteceu em X-Men: O Confronto Final. Alguém tinha de perguntar, porque este novo filme também não faz nada para explicar isso.
“Eu odeio essa pergunta”, desabafou Sir Patrick. Ele citou a cena pós-créditos do X-3, nenhuma novidade para nós. Mas contou que ser vaporizado daquele jeito pela Jean Grey foi muito desconfortável. “É sério”, disse ele. “Tinha um cano enorme, jogando um jato de ar frio, com muita pressão, bem perto do meu rosto”, ele contou. Lá na galeria tem uma foto do momento em que ele mostrou como ficava seu rosto durante a cena. Sobre o filme solo, James disse que não daria muito certo, já que ele é um líder e um professor, não alguém que trabalha sozinho. “Teria de se passar durante as férias de verão”, ele brincou.
Em seguida, um jornalista perguntou ao Patrick se ele era tão otimista quanto Xavier na questão da intolerância, citando seu BFF, Sir Ian McKellen, e Ellen Page, outra do X-Elenco que se assumiu gay recentemente. Ele elogiou a coragem dos dois colegas citados, e disse que sim. Que realmente nós vivemos numa época de muito ódio e ressentimento, que coisas como o caso das garotas nigerianas fazem ele realmente não conseguir ler os jornais até o fim; mas que por outro lado, ele já tinha vivido para ver revoluções e transformações que nunca poderia ter imaginado (como a queda do muro de Berlim), então que tinha, sim, esperança.
Houve uma pequena pausa em que ambos autografaram uma revista de um repórter, e James aceitou um presentinho – uma corrente, que ele pôs no pescoço imediatamente – e a pergunta seguinte foi sobre a cadeira de rodas usada pelo Xavier, sobre a importância da representação de deficiências em filmes de super herói e como foi a preparação que eles fizeram para isso. Sir Patrick disse que foi um “modesto desafio”, já que os atores são acostumados a usar todo seu físico, e que quando parte disso é tirado, ele tem de encontrar outras formas de expressar o que se passa com o personagem. Você deve ter notado pelos trailers que o Charles jovem ainda anda neste filme, e não se preocupe, esta parte foi bem explicada. James comentou que foi interessante retratar este momento em que ele ainda estava em processo de superar e aceitar sua nova condição, uma fase pela qual todos que sofrem este trauma têm de passar.
A última pergunta foi a respeito das metáforas que os X-Filmes sempre trazem sobre guerras, e Sir Patrick observou que, apesar de tudo, na primeira e na última cenas de ação do Days of Future Past, mutantes dos dois “lados” estão lutando juntos e defendendo uns aos outros, e que isso é muito significativo. No final, o mediador ainda perguntou se James estava ansioso para ficar careca. “Na verdade, sim! Achei que ia acontecer ainda neste filme”, ele disse. “Parece que até tinha algo sobre isso no roteiro, quando eu dizia que estava perdendo o cabelo, mas acabou não rolando ainda“. Será que a careca vai cair bem nele também? 😛
O FUTURO ESQUECIDO
E então eles agradeceram, posaram rapidamente para as fotos, e se foram. Quando foi nossa vez de sair também, eu e o Ditador constatamos que não haveria transporte para voltar. Tivemos de usar nosso senso de direção mutante e nossa capacidade sherlockiana de dedução para achar o caminho de volta para a estação, mas nos despedimos sem maiores trapalhadas.
Apesar de um tanto estressante, posso dizer que a minha primeira experiência com coletivas de imprensa foi muito legal. Com certeza comecei com estilo. Mas ainda espero ter a oportunidade de conhecer também os Magnetos, especialmente Sir Ian McKellen. Um dia, quem sabe? 😛
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido estreia em 22 de maio. A resenha delfiana você confere já na próxima segunda-feira.