Delfonautas, sejam bem-vindos à primeira coletiva que cobri para o DELFOS. Eu confesso que estava ansioso, nervoso e empolgado para este momento, mas no fim deu tudo tão certo nessa minha primeira vez que nem pareceu ser tão dolorido quanto eu imaginava. O texto abaixo conta sobre os bastidores do jornalismo, meu primeiro encontro com o Corrales e alguns momentos tensos que passamos.
Tudo começou em uma emocionante reunião delfiana secreta sobre o Especial do Rock (que você confere a partir desta segunda-feira). O chefe perguntou se eu não topava ir a uma coletiva e ver um filme – eu ficaria encarregado dos textos e ele das fotos. Como eu já tinha negado algumas outras oportunidades pelo excesso de trabalhos da bendita faculdade, topei logo de cara, sem nem saber qual era o filme. O Ditador Supremo me deu os detalhes e ficou combinado de nos encontrarmos às 10h da última segunda-feira, na entrada do Shopping Iguatemi.
O CAMINHO DAS PEDRAS
O que mais me deixou nervoso sobre a experiência foi o medo de não chegar no horário. Sou de Santo André, que fica no ABC paulista, ao mesmo tempo perto e longe da capital. Não sabia quanto tempo levaria para chegar até lá e tinha medo de não conseguir entrar no raio do trem. Como a região do ABC é suburbana e tem mais gente do que deveria, muitas pessoas precisam trabalhar na capital e os trens ficam absurdamente lotados das 6h até umas 8h, pelo menos.
Isso me levou a chegar à estação às 7h20. Na hora de entrar no vagão, percebi que minha preocupação era infundada, já que no momento da minha indecisão quanto a infiltrar-me naquele bolo de gente, fui carregado para dentro pelas pessoas próximas. Outra coisa que pude notar é que neste horário a viagem é feita muito confortavelmente, já que não é necessário nem segurar em uma das barras para se equilibrar no trem.
Após entrar, a preocupação maior é de como sair (além de outro medo infundado de ter um ônibus caído de um viaduto na linha de trem, mas isso também é exagero da minha consciência). Da mesma forma, o processo de movimentação para sair é igual ao de entrar e sem perceber já estava fora do trem em direção ao metrô. Após mais uma baldeação e vários minutos de caminhada, cheguei ao Shopping Iguatemi às 8h45.
À ESPERA DO CORRALES
Após a felicidade de ter chegado mais do que a tempo e de estar um frio danado de bom (tipo uns 10 graus, e isso foi sem ironia, pois sou adepto do clima gelado), percebi que eu teria que descobrir algo a fazer pela próxima uma hora e quinze minutos. Lá pelas 8h50, liguei para o Corrales, na esperança de ele me falar que o shopping abriria às 9h ou que já estava chegando. Após me atender com um bocejo seguido de um sonoro “já?”, ele me disse com seu tradicional humor negro algo como “logo estarei aí. E esse logo é daqui a uma hora”. 0.o’
Na frente do shopping há uma banca. Comprei um jornal e logo me lembrei que é um inferno ler aquele troço. Nesse meio tempo, enquanto lia sobre o fracasso do Brasil contra Venezuela (não deveria ter visto aquela porcaria de jogo), um novo projeto de lei para a Previdência Social e alguns ataques de skinheads a pessoas pardas na Paulista, minha mente começou a criar paranoias sobre o Ditador, que eu ainda não conhecia pessoalmente. E se ele fosse um pedófilo psicopata sequestrador? Fique o delfonauta feliz em saber que tudo não passava de um delírio provocado por ter visitado a cidade mais fedida que eu conheço.
UM SORRISO, UM SHOPPING LUXUOSO
Mais ou menos às 9h50, percebi que um sujeito caminhava ao longe em direção ao Shopping e lembrava vagamente o Corrales. Como eu sou míope e as lentes dos meus óculos estão desatualizadas, fiquei em dúvida se ele havia sorrido para mim ou apenas estava rangendo os dentes de frio. Pouco depois, nos reconhecemos e nos cumprimentamos. Meu medo de ele ser algum lunático logo passou (pensando por outro lado, talvez ele estivesse com medo de eu ser um trüe disfarçado também).
Após uma pequena apresentação e conversa de menos de 10 minutos, o shopping abriu, entramos e começamos a procurar pelo cinema. Eu não tinha a menor ideia ou noção, então confiei na memória e senso de direção do Corrales. Grande erro. Após uma passada no banheiro e algumas mudanças de direção, encontramos o cinema na parte de cima do Shopping.
O que percebi do Corrales é que ele faz piadas a todo momento, mesmo quando parece um pouco sério. Eu tive que tomar cuidado para não cair nas pegadinhas dele. Também comentamos sobre o fato do shopping ser super luxuoso e de reles mortais como nós não estarmos acostumados a este tipo de coisa. Ele também é muito mais simpático e bem humorado pessoalmente, já que cada e-mail dele vem com alguma ameaça e propagandas sobre o DELFOS e pessoalmente isso só acontece frase sim/frase não.
Antes do filme, conversamos sobre o fiasco de Duke Nukem Forever, falamos sobre outros games, música e ele me deu várias dicas e explicações sobre como funcionavam as cabines. Lembro também de ter perguntado o que diabos era o tal de “brunch”, que estava marcado para as 12h. O Corrales me explicou que era uma mistura de “breakfast” com “lunch”, ou seja, haveria comidinhas depois da sessão. =D
Com pequenos sete minutos de atraso, fomos chamados por uma assessora para a sala de cinema. Recebi um press kit (que neste caso foi um CD com mais informações sobre o filme e outras coisas úteis, como fotos e pôsteres) e assistimos ao filme (amanhã você confere a resenha dele).
COLETIVAS, CÂMERAS, EVIL MONKEYS
Após sair da sessão, o nosso querido chefe reclamou do raio do bebedor que não funcionava e então ofereci uma garrafa de água que tinha na mala. Isso é importante para um momento de tensão que será abordado mais abaixo.
Era 12h20, hora do brunch. Basicamente, alguns doces e pãezinhos simpáticos e gostosos. Servimos-nos após guardarmos lugar em uma das mesas com nossas mochilas e degustamos a comida enquanto falávamos sobre o filme. Pouco tempo depois, o protagonista do filme, Bruno Mazzeo, apareceu pertíssimo de nós e o chefe saiu rapidamente com a câmera para fazer uma foto dele, justamente a que está em destaque lá em cima.
Depois da foto, ele deixou a câmera em cima da mochila, foi ao banheiro e pediu para eu tomar conta dos doces e pãozinho dele com a própria vida. O problema foi na volta: não sei bem como, mas o chefe acabou derrubando a câmera no chão. E a lente travou, deixando a câmera inutilizável.
Para piorar, após dar uma tampa das canetas que havia trazido para o Corrales tentar destravar a câmera, o assessor de imprensa da Paris Filmes nos chamou para a coletiva, meia-hora antes do horário marcado. Resolvemos entrar e, enquanto eu acompanharia a coletiva, ele tentaria dar um jeito no aparato tecnológico. Sugeri que ele guardasse os doces que ele não conseguiu comer em um saquinho e fomos lá, preocupados.
ENFIM, COLETIVA… MAS SEM FOTOS?
O chefe escolheu um local bom para sentarmos em que ele pudesse fazer fotos (mesmo não podendo fazê-las). A tampa da caneta não ia bem, então sugeri usar uma moeda. A moeda caiu, a coletiva começou e eu fui anotando tudo enquanto ouvia vários tipos de barulhos de liga/desliga/moedas/palavrões ao lado.
Na mesa estavam, da esquerda para a direita, Thelmo Fernandes, Serjão Loroza, Fabiula Nascimento, José Alvarenga Jr., Fernanda Paes Leme, Bruno Mazzeo, Augusto Casé e Augusto Madeira.
A primeira pergunta foi para Serjão Loroza, que faz um dos amigos de Bruno, chamado de Marconha. A jornalista quis saber como foi a experiência do ator em aparecer nu no longa. Serjão respondeu que confiava no diretor, apesar de ser tímido e também fez algumas brincadeiras, que rendeu algumas risadas. “Essa gordura toda é para me proteger da minha timidez”, disse. Ah, e a aparição nua já está rendendo bons frutos. “Já estou sendo convidado para a GG Magazine”, brincou o ator.
Enquanto isso, as tentativas do Corrales em consertar a câmera eram infrutíferas. Ele me perguntou se eu não tinha outra coisa que desse para usar. Procurei nos bolsos da jaqueta e ofereci alguns clipes de papel para ele. “Por que você tem clipes?”, perguntou o Corrales, com a cara mais WTF que você pode imaginar. Este foi o momento mais desconcertante da coletiva, já que nem eu sabia o porquê e comecei a gaguejar. Ele completou dizendo que só mulheres geralmente têm essas coisas úteis (como a garrafa de água), e de alguma forma chegamos à conclusão de que eu peguei a mania com a namorada mesmo (?!).
Coletiva a todo vapor (na verdade estava um pouco devagar, mas a tensão não ajudava), a próxima pergunta foi sobre a relação entre o filme e o seriado. Bruno respondeu que queria fazer uma história independente do programa e que não parecesse “um programa esticado”. Além disso, ele disse que houve uma preocupação em aumentar o público, fazendo um filme que não dependesse do conhecimento prévio sobre a série para entendê-lo.
O diretor José Alvarenga Jr. respondeu sobre quase a mesma coisa: como foi transpor Cilada da televisão para o cinema. Ele explicou que obtém inspirações de qualquer lugar e que na verdade dá para fazer muita coisa a mais no cinema. “Piadas do Cilada.com (eu) nunca teria como fazer na televisão”, afirmou.
Os barulhos de tec tec, liga/desliga e blasfêmias religiosas continuavam. Perguntei ao Corrales se ele tinha consertado a câmera: agora a lente se mexia (talvez devido aos clipes), mas o foco não funcionava. Eu falei para continuar ligando e desligando, que uma hora iria dar certo.
Mais ou menos neste momento, Bruno Mazzeo respondia sobre o uso dos nomes verdadeiros dos atores nos personagens do filme. A ideia foi criar uma proximidade e confundir as pessoas. Ele citou que o cinema estadunidense faz muito disso também. Fernanda Paes Leme e Fabiula Nascimento comentaram positivamente sobre essa escolha: Fabiula até agradeceu Bruno, já que seu nome ficará mais conhecido agora.
Veio uma pergunta longa, mas que resumindo é algo interessante: como competir com Carros 2 e Transformers: O Lado Oculto da Lua? O diretor José Alvarenga respondeu essa. “A gente não tem medo do cinema americano”, explicou, e ainda disse que o forte do cinema brasileiro é apostar na comédia, já que o cinema estadunidense tem muito aparato técnico e efeitos.
Neste momento tivemos uma sequência de perguntas sobre cinema brasileiro, distribuição e a origem do filme. O diretor explicou que o Cilada.com só surgiu porque Bruno Mazzeo quis realizar o projeto. O ator complementou que queria novos desafios e por isso parou com a série de TV. Ele também estava cansado de fazer o programa e aquilo estava cansativo.
O produtor Augusto Casé, em um dos poucos momentos em que falou, disse que eles estão apostando alto no filme. Serão em volta de 400 cópias de filmes. O Corrales me perguntou neste momento se eu sabia o quão absurdo esse número era. Eu não sabia, e ele disse que filmes como Homem-Aranha 3 costumam receber 500 cópias. Pelo papagaio de Satanás!
Veio então a pergunta clássica sobre a má qualidade dos filmes brasileiros em geral: é possível tirar essa ideia do público? “Eu acho que é possível quando se tem bons filmes com mais frequência”, disse Bruno Mazzeo. José Alvarenga complementou dizendo que no Brasil é difícil fazer cinema, mas que essa situação já mudou. “Acho que foi assim uns seis ou sete anos atrás”, declarou. Ele disse também que ultimamente há dois ou três filmes bons fazendo a diferença todos os anos.
Depois disso, José Alvarenga e Augusto Casé comentaram que quando eles apresentaram o filme às distribuidoras, eles já sentiam que tinham o corte certo. A reação do público às sessões teste também foram boas, já que as pessoas gargalharam com o Cilada.com. O diretor também apontou a diferença entre as sessões teste daqui e dos States. “(No Brasil) Elas não são feitas para mudar o filme, mas para ver como aproximar o público”, disse. No país norte-americano, várias cenas podem ser alteradas dependendo do desempenho nas sessões teste.
Nesse momento, uma jornalista de um programa humorístico da TV bombardeou os convidados com perguntas desconcertantes e sem noção. O destaque ficou para a atriz Carol Castro, que se saiu bem após uma pergunta um pouco arrogante. A jornalista comentou que ela estava muito quieta e pediu para falar alguma coisa. Dada a timidez da atriz, a jornalista perguntou “você não tem nada para falar”? A atriz respondeu apenas que as semelhanças entre ela e a personagem que interpreta, Mônica, não procedem. A atriz se referia ao mau hálito de Mônica. Isso rendeu algumas risadas e até alguns comentários dos atores de que já haviam contracenado com pessoas que tinham mau hálito.
Foi próximo do fim da coletiva que eu percebi que o Corrales havia conseguido arrumar a câmera e estava fazendo algumas fotos. Hell, yeah! A estratégia do clipe e do liga/desliga deu certo. Ou talvez tenham sido os xingamentos a Deus.
Para finalizar, os atores foram perguntados sobre a cafajestada de Bruno e a exposição da privacidade que o filme aborda. “Eu queria pisar mais no Bruno (durante o longa)”, disse Fernanda Leme, que faz a namorada traída do protagonista, arrancando algumas risadas de todos os presentes. Ela também falou sobre a reação da personagem quando ela põe o vídeo íntimo na internet após ser traída. “Eu sou a favor de contar até dez. A Fernanda sem dúvida não pensou ao fazer isso (postar o vídeo na internet)”, declarou, ao expressar que acha melhor a reflexão ao invés de vingança.
ATÉ MAIS, E OBRIGADO PELOS CLIPES!
Coletiva cumprida, resolvemos esperar o elenco se reunir para posar para as fotos. Durante este momento, uma jornalista de um veículo muito grande cumprimentou bem amigavelmente a atriz Fabiula Nascimento e os atores Thelmo Fernades e Augusto Madeira, que agradeceram a pergunta da jornalista, porque eles iriam ficar calados durante toda a coletiva (o que é verdade, já que os que mais falaram foram o Bruno Mazzeo e o José Alvarenga Jr.).
Os entrevistados não se reuniram para fotos, então saímos da sala de cinema (a coletiva foi realizada na mesma sala que exibiu o filme) e tentamos tirar algumas outras fotos. O Corrales pediu para Serjão Loroza uma foto, que ele tirou com os atores Agusto Madeira e Fabiula Nascimento, que você confere na galeria. Eu fiquei observando o que podia neste momento. Bruno Mazzeo foi entrevistado novamente, mas o Corrales preferiu tirar uma foto da Carol Castro, que é bem baixinha e até olhou para a câmera do Ditador Supremo.
Depois disso, fomos conversando até o ponto de ônibus onde o Corrales pegaria seu transporte. Ele teve a sorte de encontrar o veículo assim que chegamos, então tivemos que parar um assunto (eu acho que era sobre a imparcialidade no jornalismo, mas não lembro). Eu continuei até o metrô da nova linha amarela, que consegue ser mais luxuosa que a linha verde. Quanto dinheiro foi gasto nela, hein? Não seria mais simples desenvolver os espaços locais para todo mundo ter emprego onde mora? Damm, you, globalização, multinacionais, neo-liberalismo, governo brasileiro e pessoas que me xingam por mudar o assunto no final do texto!