Coletiva Capitães da Areia: Cecília Amado, Carlinhos Brown e outros

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Fazia tempo que eu não escrevia nada para o DELFOS. O último texto que havia escrito até então para este prestigioso site foi a resenha de Namorados Para Sempre. Eis então que o Corrales me oferece a missão dupla de cobrir a cabine e a coletiva de Capitães da Areia enquanto ele se incumbiria de fotografar a entrevista. Bom, quanto ao filme, você lê a resenha completa amanhã. Contudo, devo dizer que não senti a menor falta de cobrir coletivas.

Isso porque eu as acho um evento bem chato. São sempre os mesmos tipos de perguntas, as mesmas respostas anódinas, e geralmente as grandes emoções acontecem antes ou depois do evento, nunca durante. E sempre sem qualquer relação com ele. Para mim, entrevista boa tem que ser no one on one e, se possível, pessoalmente. Pronto, agora que já abri esse texto reclamando, podemos passar para a coletiva em si.

A PREPARAÇÃO ESTILO THE FLASH

Como é de praxe, antes é exibido o filme e a coletiva é armada depois. Contudo, nesse dia houve um atraso considerável no início da sessão por conta de problemas técnicos com a cópia e, como a coletiva ia acontecer imediatamente depois e dentro da sala de exibição, achamos que o pessoal do Unibanco Arteplex ia acabar enxotando todo mundo antes, para não atrasar a programação normal do cinema.

Porém, assim que terminaram os créditos finais, a equipe da Imagem Filmes fez a arrumação mais rápida que eu já vi. Sério, em uns cinco minutos, os caras arrumaram as mesas, os banners e a equipe já estava pronta para entrar. Ah, se ao menos todos fossem eficientes como esses caras, o Brasil seria outra coisa…

QUEM ESTAVA LÁ

Estavam presentes para falar com os jornalistas a diretora Cecília Amado; o codiretor e diretor de fotografia Guy Gonçalves; Carlinhos Brown, responsável pela trilha sonora; e os atores Ana Cecília Costa, que interpreta a prostituta Dalva; Jean Luis Amorim, vulgo Pedro Bala, o líder dos Capitães da Areia; Robério Lima, o Professor, outro dos principais Capitães e Ana Graciela, a Dora, interesse romântico tanto de Pedro Bala quanto do Professor.

A COLETIVA

Os trabalhos começam com a diretora Cecília Amado, que é neta de Jorge Amado (mas você já devia estar desconfiando de algum parentesco), contando como foi adaptar uma das obras de seu avô, especialmente no ano de seu centenário (na realidade, o centenário mesmo é ano que vem, mas os eventos comemorativos começaram já em 2011).

“Foi ótimo realizar o filme junto com o centenário do meu avô. A missão da família é trazer Jorge para as novas gerações e dialogar com jovens que esqueceram quem é Jorge Amado”.

A seguir, o trio adolescente é perguntado sobre como foi dar vida a seus respectivos personagens e se já haviam lido o livro antes. Todos os três admitem que só foram ler como preparação para seus personagens. Quanto à primeira parte da pergunta, Jean diz que “dar vida a esses personagens foi fácil” além de ser “super importante”. Ana Graciela afirmou ter se identificado com a personagem e diz admirar Dora, pois ela tem uma atitude corajosa. Já Robério concluiu dizendo que tentou chegar no patamar do Professor.

A diretora contou depois um pouco sobre seu primeiro contato com o livro: “tinha 14 ou 15 anos, fiquei absolutamente apaixonada, tinha um sentimento de liberdade e abandono, esse querer descobrir tudo da vida, comum aos adolescentes. Chorei muito quando acabei de ler”.

Sobre o processo de adaptação e as oficinas de atuação (todos os adolescentes do filme são não-atores), revelou que a obra estava com os direitos presos (ela até brincou que, mesmo sendo da família, os direitos não são automaticamente dela). Quando os direitos foram liberados, assistiu a um ensaio de teatro da obra no Rio de Janeiro e pensou em como ela ficaria no cinema com atores baianos. Comprou então os direitos, fez pesquisa antes de começar o roteiro e foi conhecer os Capitães no Projeto Axé, o qual frequentou por três anos. Optou por não-atores porque é um método corriqueiro nessa idade (entre 17 e 20 anos). Ela conta que, para a seleção do elenco, foram feitas 1200 entrevistas, de onde 700 candidatos chegaram às fases de improvisações e desses, 90 foram para as oficinas de atuação. A partir daí, fez sua seleção pelo método da observação.

Quanto às filmagens em si, como deviam representar o rito de passagem para a adolescência, foram feitas em três etapas, totalizando nove semanas ao longo de nove meses.

A próxima pergunta foi sobre a divisão de trabalho entre os dois diretores. Guy conta que eles se conheceram num set, namoraram e casaram (isso que é família unida). Completa dizendo que sua experiência é com a parte de fotografia, mas “nesse filme se estendeu além disso, Cecília me convidou para codirigir. O roteiro é o que me motiva a mergulhar mais na dramaturgia, estabelecendo e criando regras”. A patroa conclui: o filme “foi feito bem a quatro mãos. Sem separação entre a parte de filmagens e de atores. Com os dois no set, o Guy dava bronca (nos atores) e eu passava a mão na cabeça”.

Depois chega a hora de Carlinhos Brown falar. E, rapaz, como ele fala. Uma mera pergunta sobre a trilha do filme serviu de pretexto para ele fazer praticamente uma minibiografia. A seguir, colocarei trechos selecionados de sua resposta, senão só terminaria esse texto no ano real do centenário do Amadão.

E, por falar em Amadão, Charlie Marrom começou falando sobre o autor: “trata-se de um autor especial, é muito familiar, a cultura na Bahia se divide em família, não encontrei dificuldades (com a trilha) por se tratar de um texto musical. Cecília tinha direção da música que queria. Eu me reencontro com a canção no filme”.

Aproveitou para falar um pouco mais sobre seu trabalho no cinema: “foi minha porta de entrada como solista. Começou quando Cacá Diegues me convidou para fazer a trilha de Black Orpheu, filme que não aconteceu. Depois fiz Navalha na Carne, Duendes da Xuxa, fiz trilhas para teatro, Velozes e Furiosos 5, os cineastas estão me convidando bastante”.

A curiosidade voltou para o trio de não-atores e eles responderam o que faziam nos projetos sociais antes do filme. Jean é músico e tem oito anos de projeto. Ana Graciela estudava, seu sonho era fazer medicina e virar pediatra e Robério já fazia teatro na comunidade. Todos os três pretendem seguir a carreira de ator depois da experiência no filme.

Como Ana Cecília Costa ficou calada todo esse tempo, perguntam-lhe como foi ver o filme pela primeira vez (sim, ela viu junto com a gente) e sobre sua personagem. “Fiquei emocionada. Estou muito honrada de ter sido escolhida para fazer a Dalva. A Dalva é a mulher de Jorge Amado (no sentido figurado), foi um trabalho de processo muito mais que de filmagem, de escutar, contracenar, tinha uma preocupação em não ser o elemento estranho”.

Como sua personagem é uma prostituta, falou um pouco sobre o erotismo envolvendo suas cenas. “É um jogo erótico. Sexo é uma coisa delicada, mas pra esses personagens não”.

A seguir, o trio adolescente responde se trabalhar no filme causou uma nova reflexão sobre a questão dos meninos de rua. Robério responde que “particularmente, não”. Ana Graciela opina que “em alguns sentidos muda (a reflexão). Viver um pouco do que os personagens viveram no livro faz sentir o que as pessoas de rua passam”. Jean concluiu afirmando: “pra mim não mudou muita coisa. Se você passar no Pelourinho, vê muito esse descaso das pessoas com eles”.

Com isso, a coletiva foi encerrada, pois o tempo programado já estava estourado, mas ainda sobraram alguns segundos para a tradicional sessão de fotos, cujo resultado você confere em nossa galeria.

CONCLUINDO

Após o término, nada muito digno de nota aconteceu. Só o Corrales achou que eu tinha ido embora silencioso feito um ninja e sem avisar enquanto ele fotografava a galera, mas eu apenas aproveitei a oportunidade para ir ao banheiro. Aliás, muito injustificada essa minha fama de ir embora bruscamente. Quero aproveitar a oportunidade para dizer que eu não faço isso!

Agora falou pra vocês, que eu vou embora…

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