A história é mais ou menos aquela que acontece com seu time do coração: anuncia a contratação de um grande craque, aquele que segundo o jargão especializado vai conduzir o time como um maestro. Pois bem, o cara chega e vai logo vestindo a 10. Jogo em casa: empate. Jogo fora: derrota. Clássico: derrota (com direito a torcida adversária fazendo aqueles versinhos característicos com a grande contratação do seu time). Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos isso que aconteceu com o Iced Earth. Contrataram um grande nome para o vocal, Tim “Ripper” Owens (o cara que teve a ousadia de substituir Rob Halford no Judas Priest e conseguiu trazer para si o respeito de toda a comunidade metálica) e produziram um disco completamente abaixo das expectativas. E como acontece com aquele seu time do coração, só resta relembrar as glórias do passado. Aquele timaço que foi campeão em 1936.
Em 1996, quando as adaptações das HQs para o cinema ainda não eram uma verdadeira febre, gerando imensas fortunas para os estúdios cinematográficos, o Iced Earth resolveu traduzir para a linguagem metálica a história de um dos mais complexos personagens já apresentados pelos quadrinhos : Spawn (por gentileza ignorem aquele filme medonho que tive o desprazer de assistir no cinema, pagando ingresso e tudo mais, seduzido pelo apelo que sem sombra de dúvida o personagem possui). Por sorte, parece que o tempo das sofríveis adaptações dos quadrinhos para o cinema já passou.
Capitaneado pelo chefão Jon Schaffer (sem dúvida um mestre na arte de criar bases extremamente pesadas), o Iced Earth de dez anos atrás primava pela construção de um excelente Power Metal; e é sempre bom lembrar que a metade dos anos 90 nos EUA foi a época do reinado do grunge e que a música pesada parecia estar com seus dias contados (de acordo com o discurso da grande mídia da época).
É impossível ficar indiferente ao trabalho de arte gráfica feito pelo próprio Todd McFarlane (criador do personagem) que, na verdade, simplesmente reutilizou o desenho feito para um dos gibis da cria do inferno. Gravado no mitológico Morrisound Studios, em Tampa (Flórida) e produzido pelo igualmente mitológico Jim Morris, o trabalho lançava mão de alguns artifícios que então eram ainda pouco explorados pelas formações metálicas. Um deles era a utilização de vocais femininos (alguém aí caiu da cadeira?), sem os exageros atualmente vistos. Aliás, os mesmos foram descritos (consta no encarte) como angelic voices (vozes angelicais) e foram executados por Kate Barlow, esposa do então vocalista Matthew Barlow. Dono de um vozeirão que poderia ser descrito como um misto de Paul Stanley (você sabe de qual banda) e Lemmy (você também sabem de qual banda), o cara estava muito longe de atingir o panteão das grandes vozes metálicas, mas era de uma eficiência a toda prova.
Um disco que, devido à sua sonoridade calcada num excelente Power Metal, ainda permanece atual devido a alguns detalhes que, com toda a certeza, fizeram diferença. Bases extremamente pesadas, que deveriam ser o beabá das bandas de Metal, um vocalista eficiente, um guitarrista solo que estava muito longe de ser um virtuose (Randal Shawuer) e um baterista apenas mediano (Mark Prator). Uma formação que, no geral, poderia ser descrita como apenas correta, mas que produziu um disco digno de constar entre os melhores trabalhos do Power Metal.