Centurião

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Uma coisa que a humanidade gosta de fazer são filmes de guerra. Tem de todos os tipos: no passado, no futuro, modernos ou em mundos de fantasia. Porém, todos os que consigo pensar que se passam no passado ou em um mundo de fantasia focam bem mais no aspecto épico do que no aspecto “guerra”. Centurião é diferente. Sem exagero, ele está para os filmes de guerra “passadistas” como O Resgate do Soldado Ryan está para a guerra moderna.

Com isso, quero dizer que ele traz ao cinema uma violência e uma realidade que normalmente obras envolvendo duelos de espadas não trazem. Temos aqui, por exemplo, um sujeito que arranca uma flecha enfiada em suas costas e a enfia no olho de uma mulher. Mesmo as populares cabeças decepadas estão bem mais horrendas, pois não são cortadas na altura do pescoço, mas na altura da boca. E acredite, esses centímetros fazem toda a diferença.

Como você já deve ter percebido, temos aqui um filme gore, que nada deixa a dever para coisas na linha de Jogos Mortais.

Mas e a história, Corrales? Já estamos no quarto parágrafo e nada de sinopse. Pois é, delfonauta. Eu decidi fazer você esperar um pouco, só por maldade mesmo. E sabe o que mais? Eu não estou satisfeito ainda, então vou fazer você esperar por mais um parágrafo inteiro, e só vou fazer a sinopse no quinto parágrafo, o que dá um total de três parágrafos extras de espera!

Sinto decepcionar, delfonauta, mas embora este seja o quinto parágrafo, decidi enrolar mais um pouco. Bwa-hahaha, como eu sou mau! Acho que vou começar a assinar como Carlos “Skulcrusher” Corrales.

Agora sim: estamos na época do Império Romano e toda a Europa está ocupada pela cidade italiana. Toda? Não, pois um pequeno povo resiste ainda e sempre ao invasor. O curioso é que aqui não decidiram ir com a história real – todo mundo sabe que os que resistiam eram os gauleses, que conseguiam isso graças à poção mágica – e decidiram que os tais rebeldes eram os pictos – e resistiam apenas graças à força de vontade e pintudice extrema, não a artefatos mágicos.

Inclusive, essa pintudice extrema é demonstrada logo no início do filme, em que os pictos dilaceram toda uma guarnição romana. Apenas um pequeno grupo de soldados escapa e, a partir daí, o filme muda. Agora são só os romanos fugindo e os pictos os caçando e matando – um a um e com requintes de crueldades. Sim, é basicamente um slasher, onde os pictos são a entidade mística invencível e os romanos são os adolescentes bonitos, roqueiros e emaconhados.

Particularmente, acho muito legal e criativo mostrar esse lado mais violento e cruel de guerras que normalmente são lembradas apenas como histórias heróicas e épicas. E o que temos aqui é um bom filme, embora deixe a dever em alguns pontos.

O que mais me incomodou foi a fotografia, escura e com as cores desbotadas, o que dá a Centurião a maior cara de filme dos anos 70. Opção estética do diretor Neil Marshall, que já mostrou ter influência dessa época em seus filmes anteriores, especialmente neste.

Eu respeito sua opção, mas particularmente gosto de cores vivas e brilhantes, esquema filme de samurai ou desenho da Pixar. E acho que, especialmente nesse caso, o contraste com o tom sério e violento do filme deixaria tudo ainda mais legal. Da forma que foi feito, deixou o filme simplesmente feio, sem acrescentar nada ao clima. A edição também é rápida demais – e somada às imagens escuras, deixa difícil entender o que está acontecendo em algumas partes.

Por fim, o fim! Ah, isso foi realmente decepcionante, pois eles tentam dar um desfecho romântico e bonitinho para um filme que nunca seria descrito com nenhuma dessas duas características. Sinceramente, sinto cheiro das mãos de um produtor nesse final. O Neil Marshall é um cara criativo demais para se render a tal clichezão por conta própria.

Gosto da proposta de fazer de Centurião um filme de guerra “passadista” diferente, trazendo influências de terror e dos anos 70. Especialmente, gosto dessas influências. Porém, os probleminhas citados acima, somados à condução da história não muito hábil (inclusive já tinha reclamado disso na resenha do trabalho anterior do cara), diminuem consideravelmente a nota.

Ainda pretendo ver os próximos filmes do cara, especialmente por causa do seu tremendão Abismo do Medo. Sacrifico sofás para que ele não se torne mais um Shyamalan – um diretor com só um filme realmente bom.

CURIOSIDADE:

– A estreia desse filme foi adiada na última hora para 26 de novembro. Última hora demais para atrasarmos a resenha, então divirta-se com um texto adiantado. =)

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
centuriaoPaís: Inglaterra<br> Ano: 2010<br> Gênero: Guerra / Slasher<br> Elenco: Michael Fassbender e Olga Kurylenko.<br> Diretor: Neil Marshall<br> Distribuidor: Playarte<br>