Que o grande e invencível Tyr abençoe a retrocompatibilidade. É graças a ela, e ao serviço Games With Gold do Xbox One, que eu pude revisitar nesta virada de ano Castlevania Lords of Shadow. Eu tenho os jogos no PS3, mas como você sabe, não dá para jogá-los no PS4. Assim, aproveitei que o Mirror of Fate fez parte da Games With Gold em dezembro, e o primeiro Lords of Shadow passou por ali uns meses atrás, para revisitar a série, em parte pela primeira vez.

Inclusive, em minha empolgação, fiz algo que sempre fui contra fazer: comprei os DLCs do primeiro Lords of Shadow no Xbox One. Não tenho o jogo oficialmente no console, posso jogá-lo apenas enquanto for assinante da Gold, mas resolvi comprá-lo lá, afinal, é o videogame que está em uso atualmente. Vamos falar um pouco sobre a minha experiência.

CASTLEVANIA: LORDS OF SHADOW – MIRROR OF FATE

Mirror of Fate foi originalmente lançado para o 3DS no início de 2013, e mais tarde no mesmo ano, para Xbox 360 e PS3. Sua história serve de setup para a que seria contada no decepcionante Lords of Shadow 2.

Castlevania: Lords of Shadow 2

Lembro de como me decepcionei quando joguei Lords of Shadow 2 e vi que ele não contaria a história de como Gabriel se tornou Drácula. Desde então, deduzi que esta história tinha sido contada no Mirror of Fate, e por isso contei os dias desde o anúncio até finalmente poder jogá-lo no Xbox One.

Não é o caso, no entanto. Em Mirror of Fate, Gabriel já é Drácula, e você joga cada ato do jogo com um personagem tentando caçá-lo. Estes são o herói original do Nintendinho Simon Belmont; seu pai, Trevor; e o herói do clássico dos clássicos, Symphony of the Night, Alucard.

TRUEZA

Se o primeiro Lords of Shadow não tinha muito do que tornou Castlevania famoso, o mesmo não pode ser dito de Mirror of Fate. Este tem os heróis famosos caçando Drácula em seu castelo, e trata-se do mais puro metroidvania 2D. E devo dizer, gostei muito dele. Muito mesmo.

Uma coisa que achei bacana é que cada ato – e cada personagem – tem um mundo diferente a ser explorado. Mesmo quando as histórias se cruzam, e você passa por locais que já passou, isso é feito em outro cenário. Há algum backtracking, como manda o gênero metroidvania, mas esta característica mantém isso no mínimo.

Ele também traz de volta o combate, combos e poderes que tornaram o primeiro Lords of Shadow tão legal, e ainda apresenta armas secundárias, remanescentes do que os personagens usavam em seus jogos clássicos. Simon, por exemplo, pode jogar seus clássicos machados em arco. Alucard, por outro lado, se transforma em lobo e névoa.

Castlevania Lords of Shadow, Castlevania: Lords of Shadow, Konami, Cabeça fria
O combate é um dos pontos fortes da série.

Se Lords of Shadow fez uma reimaginação completa da série Castlevania, mantendo muito pouco além do nome, Mirror of Fate traz, em 2013, um excelente e muito bem feito Igavania. E os valores de produção são incríveis, considerando que se trata de algo feito para um portátil com hardware pouco potente.

CASTLEVANIA LORDS OF SHADOW

Após terminar Mirror of Fate, eu fiquei com muita vontade de jogar o primeiro Lords of Shadow. Felizmente, graças à Games With Gold, ele já estava no meu HD. Após uma breve pesquisa, descobri que a transformação do Gabriel em Drácula é contada nos DLCs deste jogo. São dois, e cada um estava custando 19 reais. Já que o preço era mais baixo do que uma pizza, resolvi comprá-los para finalmente conhecer a história.

Os dois DLCs aparecem na seleção de fases como os capítulos 13 e 14, mas para acessá-los, é necessário terminar a campanha. Sem problemas, uma vez que eu já pretendia fazê-lo.

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Castlevania: Lords of Shadow foi um jogo que eu joguei muito no PS3. Assim, lembrava-me bem dele.

DE VOLTA A 2010

Quando o comprei, em 2010, lembro de ter lido um guia que sugeria que você o jogasse no difícil para conseguir os troféus mais rápido. Fiz isso, e foi uma péssima decisão. Apanhei pra caramba, mas fui forçando minha progressão, mesmo sem estar me divertindo. Fui até o castelo dos vampiros, e daí desisti, e baixei a dificuldade. Foi a melhor coisa que fiz.

Na época do lançamento, muita gente comparou Lords of ShadowGod of War.

God of War de cabeça fria

Jogando hoje, agora com mais repertório, tanto de Castlevania quanto de games em geral, percebo que sua principal inspiração parece ser Devil May Cry. Ele é dividido em fases, mas a maioria das fases começa exatamente onde a anterior terminou (ainda que aqui não seja possível voltar para o cenário da outra). Além disso, o caminho da história eventualmente faz com que você passe em uma fase mais avançada por um lugar pelo qual passou várias fases atrás.

Outra coisa digna de nota é que, embora seja um jogo de ação considerado linear, ele não é como God of War, e várias de suas fases são pequenos dungeons, envolvendo exploração e vai-e-vem para abrir o caminho e progredir.

Ainda no estilo Devil May Cry, a dificuldade é claramente tunada para você jogar do início ao fim no normal, pegando os upgrades disponíveis. Depois de terminar, o jogo espera que você volte para as fases anteriores em dificuldades mais altas, mais poderoso e com novas habilidades, para pegar os itens que antes eram inacessíveis. Desta forma, o jogo nunca fica frustrante, como foi quando tentei ir desde o início no difícil. Aliás, a dificuldade média é perfeitamente tunada, exigindo que você domine os pormenores do combate sem interromper de forma irredutível seu progresso.

DOIS MIL E DEZ

Outra coisa que me incomodou lá na época de outrora são os desafios, liberados apenas depois de você jogar a fase pela primeira vez. Eles são muito chatos, envolvendo limites de tempo, resolver puzzles em número limitado de “mexidas” ou outras limitações pentelhas.

Ao longo das minhas muitas jogadas de Castlevania: Lords of Shadow, eu acabei fazendo e vencendo todos estes desafios, mas odiei cada minuto. Esta é provavelmente a platina mais difícil que já conquistei, e é o tipo de coisa que nunca mais vou fazer na minha vida. Inclusive, jogando agora, no Xbox 360, eu simplesmente ignorei todos os desafios, e dane-se se minha lista de conquistas do game vai ficar relativamente vazia.

Jogando Castlevania Lords of Shadow em 2019/2020, e ignorando este pormenor, percebi que o jogo é simplesmente incrível. É um nível de produção impressionante, incluindo atores famosos, como Patrick StewartJason Isaacs, e uma orquestra com 120 instrumentos.

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Poucos jogos na geração atual tiveram o nível de investimento que vemos em Lords of Shadow. Mesmo sendo um jogo de dez anos atrás, ele ainda parece uma superprodução. O visual, aliás, ainda impressiona. Os personagens humanos mostram a idade, é verdade, mas os cenários e inimigos beiram a perfeição e estão entre os mais bonitos já feitos nos games.

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O primeiro Lords of Shadows é um dos jogos mais bonitos já feitos.

Digo mais, jogar Lords of Shadow hoje demonstra quão pouco a tecnologia de gráficos parece ter evoluído do Xbox 360 ao Xbox One X. Sim, hoje temos 4K e HDR, mas compare a screenshot acima com as que costumam ilustrar minhas resenhas de games. Convenhamos, são poucas que chegam perto em matéria de beleza.

TRUEZA?

Apesar de Lords of Shadow ter pouco a ver com Castlevania, gosto muito de sua construção de mundo. O jogo se passa em uma Terra onde mitos das mais variadas origens existem e convivem entre si. Temos os tradicionais de Castlevania, como lobisomens e vampiros, mas temos também mitos menos conhecidos, como a Baba Yaga (que ganhou popularidade recentemente graças aos filmes do John Wick) e até coisas mais modernas, como chupacabras.

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Normalmente eu não costumo passar muito tempo lendo os textos de games, mas este é um que realmente vale a pena, uma vez que ele reinterpreta criaturas conhecidas de forma bastante criativa. Por exemplo, na lore de Lords of Shadow, vampiros são monstruosos. Apenas os mais poderosos são capazes de assumir forma humana. Detalhes bacanas como estes estão esperando no bestiário, para aqueles que decidam se aprofundar.

E apesar de ser um jogo de ação em fases, ele é consideravelmente longo, trazendo dúzias de estágios divididos em 12 capítulos de tamanhos variados. O começo é bem fraco, é verdade, e me pergunto quantas pessoas pararam de jogar nas três primeiras fases – as mais fracas. Persevere, no entanto, pois no final do primeiro capítulo, a coisa desembesta e se torna um excelente e lindíssimo jogo de ação.

REVERIE E RESURRECTION

Após terminar a campanha, finalmente chegou a hora de experimentar os dois DLCs, chamados ReverieResurrection. Eu estava empolgado, pois eram algumas fases inéditas de um jogo do qual gosto muito, e finalmente veria a transformação de Gabriel em Drácula.

Eu já tinha lido spoilers da história, e sabia que a desenvolvedora MercurySteam considerava estes DLCs “um erro”. Mas eu ainda esperava me divertir com eles. Não foi o caso.

A começar pela história, que é contada não em animações lindamente detalhadas, como no jogo principal, mas com artes conceituais. O level design também é bem fraco, com puzzles pentelhos e sem grandes novidades.

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Apenas os personagens humanos mostram a idade dos gráficos do primeiro jogo.

Reverie, pelo menos, ainda parece ter algum esforço. Suas três fases o levam a cenários novos e trazem até uma nova personagem jogável. Em nenhum momento ele fica realmente bom, mas é pelo menos razoável.

FUNDO DO POÇO

Já Resurrection, meu amigo… é uma porcaria. Suas duas fases envolvem alternar entre se esconder de um chefe e lutar contra ele. E é um pior que o outro. A luta com o chefe é ridiculamente frustrante e mal planejada, e os trechos de stealth exigem repetição e sorte, até conseguir passar sem ser visto. Lembra aquela parte famosa e pentelha do Lords of Shadow 2, em que você se esconde do Agreus para depois lutar com ele? O DLC inteiro é daquele jeito.

Pelo menos a revelação de como Gabriel se tornou Drácula é decente? Não, infelizmente não. É tudo muito corrido. A narração do Patrick Stewart no jogo original detalha melhor a queda do personagem ao lado negro do que o DLC o faz com a transformação física. E é uma pena.

A impressão é que a MercurySteam queria, com a série Lords of Shadow, contar a origem do Drácula, mas acabou se perdendo feio na execução da história.

CASTLEVANIA: LORDS OF SHADOW 2

E daí chegamos ao Lords of Shadow 2. Eu não o joguei novamente agora (aposto que ele fará parte da Games With Gold em algum momento de 2020), mas lembro do quanto ele me decepcionou em 2014. Apesar de os atores terem voltado a seus papéis, todo o resto é inferior, da ambientação à jogabilidade. Você pode ler mais sobre isso na resenha que escrevi na época. Como não o joguei novamente em 2020, não tenho muito a acrescentar.

Castlevania: Lords of Shadow 2

Apesar de seus percalços, a série Lords of Shadow rendeu dois jogos que considero fantásticos (o primeiro e Mirror of Fate), e gostaria muito de vê-la continuando.

Na verdade, assim como a maioria dos gamers, gostaria de ver a Konami aproveitando melhor suas IPs. Gostaria muito de ver novas superproduções como Lords of Shadow feitas por esta empresa que tem algumas das marcas mais famosas dos games.

A série “… de cabeça fria” envolve voltarmos a vivenciar algo antigo e que às vezes até já resenhamos aqui no DELFOS com a cabeça fria e com nossas experiências atuais. Se você gostou, mostre pra gente fazendo comentários e compartilhando, pois nos esforçaremos para fazer muitas outras.

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