Call of Duty: WWII é um retorno às raízes. Depois do futurista e mal recebido Infinite Warfare (que eu adoro), a série volta para onde começou: colocando jogadores para matar nazistas malvados em fases inspiradas por batalhas históricas.É fácil entender a lógica da Activision nessa jogada. O jogo anterior, que era o mais distante da proposta original, não trouxe resultados, ao mesmo tempo em que o Battlefield 1, da EA, abocanhou toda a atenção e os elogios da imprensa especializada.
Eu sempre achei Call of Duty mais legal do que Battlefield e, apesar da clara influência do jogo da EA neste, a diferença nunca foi tão espantosa. Eu achei Battlefield 1 um jogo parado, sem emoções e, por que não, um tanto entediante. Nenhum destes adjetivos serve para descrever Call of Duty: WWII. O que temos aqui é uma campanha intensa cheia de momentos inesquecíveis.
UMA CAMPANHA INTENSA CHEIA DE MOMENTOS INESQUECÍVEIS
Tradicionalmente, as campanhas de Call of Duty trazem pelo menos um ator famoso. Já tivemos o atual pária Kevin Spacey e ano passado foi o Jon Snow. Este ano temos Josh Duhamel.
A história propriamente dita não traz grandes novidades. São basicamente uma sequência de batalhas, mas os personagens são bem desenvolvidos e atuados e isso acaba tornando tudo especial. Embora Duhamel não seja o protagonista, ele é sem dúvida o personagem de maior destaque, estando sempre se estranhando com as autoridades e colocando a equipe em risco com sua obediência cega às ordens.A campanha começa no já tradicional dia D, a invasão à praia que ficou famosa na abertura de O Resgate do Soldado Ryan e que tantos outros videogames já retrataram. Por ser um cenário tão comum, é verdade que não me empolgou. Além disso, a primeira impressão não foi tão boa, uma vez que Battlefield 1 beirava o fotorrealismo, e este Call of Duty tem mais cara de videogame. Um videogame belíssimo e de altíssimo orçamento, mas ainda assim um videogame.
Felizmente, depois da abertura a campanha se torna mais criativa, e tem um timing absurdo de bom. Ela é ridiculamente intensa, mesmo nos momentos mais calmos tem coisas importantes acontecendo. E nas partes mais focadas na ação você pode ir de se esgueirar furtivamente para um tiroteio, passando por uma perseguição de jipe, e finalmente culminando em um trem descarrilando.Ao longo da fase citada acima, eu percebi que estava com um sorriso cada vez maior e, quando ela terminou, eu fui obrigado a levantar e bater palmas. Precisa ser muito bom para criar tanta emoção em um videogame e a Sledgehammer conseguiu isso com louvor.
NOVIDADES DE GAMEPLAY
Apesar de a ambientação ser familiar, o gameplay de WWII é o mais diferente da série em anos. A principal diferença é que sua vida não mais se recupera sozinha. Agora ela é uma barrinha no canto da tela e, para se curar, você precisa usar medikits.Particularmente, eu não sou um grande fã de usar itens para isso, mas nunca faltaram medikits. Nas muitas vezes que eu morri ao longo da campanha foi por não ter tempo de usá-los, não porque estava sem. Outra novidade é que você depende dos seus colegas de equipe.
Cada um dos personagens mais desenvolvidos tem uma ajuda que pode ser usada de tempos em tempos. Esta ajuda pode envolver itens, como medikits ou munição, e até a possibilidade de ver o contorno dos desafetos, o que é uma mão na roda nos muitos momentos onde o visual é bloqueado por fumaça e explosões.O que torna o jogo tão especial, no entanto, não é o gameplay, mas o fato de ele ser uma experiência cuidadosamente dirigida. Um cínico pode dizer que é apenas uma batalha atrás da outra, mas a verdade é que sempre há um contexto para tudo que está acontecendo, além de uma variação absurda.
Cada fase apresenta novidades. Você nunca sabe exatamente como o negócio vai evoluir e em quais confusões vai se meter. O fato de as missões serem mais lineares, com cenários menos abertos do que os jogos anteriores ajuda a deixar tudo mais focado e intenso.
A campanha é curta, como já é tradição na série. Suas 11 missões devem durar cerca de seis horas, mas são seis horas que valem por centenas de um RPG de mundo aberto cheio de grinding. Afinal, aqui você não perde tempo em menus, mapas ou puzzles. Você está sempre progredindo e avançando a história. Sempre tem algo acontecendo e nunca é necessário pausar para fazer upgrades ou ver onde está o próximo objetivo.
Teve uma época que este tipo de jogo era mainstream. Agora, estúdios focados em experiências como esta estão sendo fechados. Já falei ano passado que hoje Call of Duty era contracultura, e este ano eles conseguem a façanha de ser ainda mais contraculturais, mesmo contando uma história que se passa na tão batida Segunda Guerra.
A campanha é, para mim, o motivo para se jogar um Call of Duty, mas o fato é que ela é apenas um terço do jogo. E a maior parte das pessoas passa mais tempo mesmo é no…
TRADICIONAL PVP
O PVP traz algumas novidades. A primeira delas é um hub puxado de Destiny, onde você pode treinar, comprar armas e pegar ordens (basicamente desafios semanais e diários que trazem recompensas).
No jogo, no entanto, ele é bem tradicional, com os mesmos modos de jogo de sempre. A exceção é o novo modo War, que é legal pacas.
Este modo reproduz a invasão do Dia D. Um dos times deve invadir o cenário, cumprindo objetivos e forçando o outro time, que está na defesa, a recuar. Se o atacante cumprir tudo, ganha o round. Se o tempo expirar, os defensores levam. No round seguinte, os papéis são invertidos.
Meu problema com o PVP de Call of Duty é que ele é hardcore demais, sendo completamente impossível para jogadores normais brincarem junto. É difícil simplesmente ficar vivo por mais do que alguns segundos, e olhando as killcams de quem te matou, rola umas coisas absurdas, como o cara mirar um headshot perfeito quando você é apenas um pontinho na tela dela. Isso faz com que muitas vezes você morra sem nem saber de onde veio o tiro.
Ao contrário de jogos como Destiny e Overwatch, que têm um PVP bem acessível a novos jogadores, eu tenho a sensação de que Call of Duty sempre junta em um time os jogadores mais experientes e no outro os patos, fazendo com que as batalhas sejam sempre desequilibradas.
Na prática, isso significa que no modo War, por exemplo, quando meu time está atacando, nós não conseguimos passar do primeiro objetivo e, quando estamos defendendo não temos chance alguma. Por pior que eu, particularmente, seja, tem mais uma galera no meu time. Se todo mundo que está jogando comigo joga mal, o problema é do jogo que não soube equilibrar. Resolvi tirar isso a limpo. Este é o grupo de jogadores que estava jogando War comigo em uma das minhas partidas.
A forma mais fácil para o jogo equilibrar seria pelo nível dos jogadores. Pois resolvi somar o nível de todo mundo para ver se estava equilibrado. A soma do meu time deu 141. A do time adversário, que deu uma surra na gente, deu 191. A diferença é basicamente um jogador extra do nível máximo ou 12 – DOZE – jogadores do meu nível.Penso que Call of Duty, como série, se tornaria ainda mais relevante e teria muito mais jogadores simultâneos se combinasse melhor os times, ou se tivesse uma forma de jogo “casual”, para que os menos experientes possam brincar entre si, sem ter que se preocupar com headshots do outro lado do mapa.
ZUMBIS
A terceira parte de Call of Duty: WWII é o também tradicional modo zumbis. Este, no entanto, foi o único do qual eu realmente não gostei. Curiosamente, apesar de quase não haver história, ele é também o modo com mais celebridades, como Ving Rhames e David Tennant.
Basicamente, neste modo você escolhe uma das celebridades e sai matando ondas de zumbis em um único mapa enorme. Conforme você avança, vai abrindo novas partes do mapa e novos objetivos, mas meu principal problema é que os objetivos nunca são claros.
Meu jogo começou com quatro jogadores, mas uma vez que as ondas começam a ser realmente difíceis, você morre muito rapidamente e só pode voltar na próxima leva. Isso significa que você passa um bom tempo spectating.
Quando joguei, tinha um cara que não morria nunca e que também não estava a fim de reviver os camaradas. Assim, não demorou muito para o time todo cair fora. Eu continuei tentando jogar, mas logo fiquei de saco cheio e larguei o controle enquanto fui fazer outras coisas. Quando voltei, dez minutos depois, o meu amigo individualista ainda estava jogando sozinho. Resolvi sair do jogo e abandonar este modo de jogo para nunca mais voltar.
Ao contrário de como foi no ano passado, o modo zumbis agora é bem mais sério, mas assim como no ano passado, ele só parece ter motivo para existir caso você vá jogar com um grupo de parceiros, não com desconhecidos online.
CALL OF DUTY: WWII
Tivesse apenas a campanha, eu teria simplesmente amado Call of Duty: WWII, mas é claro que isso decepcionaria a maior parte dos fãs da série. Basicamente, temos aqui uma campanha excelente e dois outros modos de jogo que também pode ser bons, mas para você usufruir deles, precisa ser ridiculamente bom. Git gud costuma ser o lema do povo que joga Dark Souls, mas aposto que eles nunca tentaram jogar o PVP de Call of Duty.
LEIA TAMBÉM:
– Call of Duty: pois é, o DELFOS resenhou o primeiro jogo na época do seu lançamento.
– Call of Duty: Black Ops III: a versão 2015 da série não é tão marcante quanto a 2016, mas ainda é bacana.
– Call of Duty: Infinite Warfare: todo mundo falou mal, mas o DELFOS falou bem.