Bravo Team, Delfos

A desenvolvedora Supermassive Games anda bem ocupada. Depois de ter feito sucesso com o adventure moderno Until Dawn, eles desimbestaram a fazer jogos em VR, começando pelo divertido Until Dawn: Rush of BloodBravo Team é o segundo jogo para VR que eles lançam em pouco mais de um mês (o anterior foi The Inpatient).

Pois se o mundo da realidade virtual está superlotado de casas mal assombradas, algo que todo mundo quer e existem poucos é um FPS completo. Provavelmente o mais próximo disso que chegamos foi Farpoint, mas ainda tivemos Arizona Sunshine, Apex ConstructDoom VFR. Cada um deles tem suas qualidades e tenta traduzir este gênero tão popular de forma diferente. Bravo Team foca em uma experiência de tiro ao alvo com mecânica de cobertura.

FUNCIONA ASSIM

Você pode jogar com o Aim Controller ou com o Dualshock 4. Obviamente, eu tenho que aproveitar as poucas chances que tenho de usar minha pistolinha de plástico, controle do qual gosto muito e que sinceramente não entendo porque a Sony limita o uso para jogos de VR, uma vez que ele funcionaria muito bem para jogos em 2D como um Call of Duty mesmo.

Bravo Team, Delfos

Bravo Team dá uma nova interpretação para a movimentação por teleporte tão comum em VR. Aqui, você pode se mover apenas de uma cobertura para a outra. Porém, você não se teleporta até lá. Ao clicar em uma nova cobertura, a visão muda para terceira pessoa e você assiste seu soldado correndo até seu destino, quando a câmera volta para primeira pessoa e o jogo continua.

Este é um jogo de ação pura. Há centenas de inimigos tentando te matar, e aí entra a graça do VR. Para atirar neles, você deve se mexer dentro da cobertura para conseguir mirar. Tem um botão que deixa seu personagem em pé, ou então dá para se inclinar fisicamente para os lados ou mesmo atirar às cegas levantando a arma sobre sua cabeça. Para mirar corretamente, é necessário levantar o AIM Controller e colocá-lo perto dos seus olhos, como seria em uma arma real.

Bravo Team, Delfos

O tiroteio funciona bem e é agradável, embora haja alguns sinais de falta de polimento. É comum partes dos personagens atravessarem áreas sólidas e é tão difícil mirar com a pistola que ela se torna praticamente inútil.

O que mais incomoda, no entanto, é a impossibilidade de simplesmente pular para o outro lado da cobertura. Tem várias vezes que você é atacado por trás, o que é normal em um jogo de ação. Porém, para se colocar numa posição apropriada, você precisa correr para uma cobertura mais longe, girar 180° e então correr de volta para o outro lado daquela na qual você estava antes. É muito trabalho para algo que é comum fazermos em jogos de tiro com um simples comando.

VISUAL CAPRICHADO

Para um jogo em VR, até que o visual de Bravo Team é bem bacana e suficientemente realista. Os ambientes são legais e usam bem da tridimensionalidade e escala da tecnologia, mas é inegável que, ao longo das suas três horas de duração, você vai sentir que matou o mesmo sujeito centenas de vezes, uma vez que existem pouquíssimos modelos de inimigos.

A variação no gameplay vem de dois tipos de armas além da metralhadora com a qual começa o jogo. Há escopeta e sniper, mas você só pode usar uma por vez. Cá entre nós, eu me sinto um pouco indefeso carregando apenas uma escopeta, pois nunca se sabe quando os inimigos podem aparecer longe da sua posição.

Bravo Team, Delfos
Nunca usar um sniper foi tão real.

Bravo Team tenta resolver isso de forma bem linear. Quando você tem a possibilidade de pegar um sniper, é a Supermassive comunicando que os próximos combates serão a longa distância. Da mesma forma, quando popa uma escopeta, significa que você vai batalhar em corredores apertados.

Basicamente, apareceu uma nova arma, você pode pegar sem medo, mas isso também elimina um pouco da estratégia. Considerando que só existem três armas, não vejo porque impedir que o jogador carregue todas ao mesmo tempo e alterne entre elas de acordo com a situação.

Outra variação no gameplay são trechos nos quais é possível ser furtivo. Basicamente, se tem um sujeito que não te viu perto de uma cobertura, basta você se mover até lá que rola uma stealth kill.

Bravo Team, Delfos
Este é o ícone da stealth kill.

Eu achei esta possibilidade bem legal, mas é uma pena que as oportunidades sejam tão raras. Além disso, se um sujeito te avistar, começa o tiroteio com todo mundo, e não há opção de você escolher no menu “reiniciar do checkpoint” para tentar de novo sem ser visto.

O PECADO DA COMUNICAÇÃO

O jogo peca um pouco na comunicação com o jogador. Por exemplo, eu travei no final da primeira fase porque precisava pular sobre uma cobertura e o jogo não me disse como fazer isso. Há um tutorial, mas ele estava apagado na primeira vez que joguei (provavelmente porque escolhi jogar com um parceiro online), o que me fez pensar que ele me ensinaria a jogar naturalmente.

Bravo Team, Delfos
Mais precisamente, falo desta parte.

Coisas assim foram presentes em todo o jogo. O sniper, por exemplo, tem uma mira verde e totalmente opaca, que deixa impossível enxergar através dela. Eu demorei um bom tempo para descobrir que para ela se tornar realmente útil, deveria colocá-la bem perto dos meus olhos, mais perto do que colocava para mirar com a metralhadora. É algo simples, mas por falta de comunicação do jogo, pensei que era um bug.

Considerando quão linear ele é (o que para mim é uma característica positiva), é curioso que o caminho para avançar nem sempre seja tão claro. Ele tenta comunicar isso ao jogador com a posição das coberturas disponíveis, mas fatalmente vai ter momentos no qual você vai ficar andando para lá e para cá procurando para onde ir.

HISTÓRIA

Antes de jogar, eu estava com receio de que Bravo Team fosse um jogo apenas de multiplayer ou de arenas, sem progresso. Não é. Trata-se de um jogo de ação em fases com progressão linear, bem do jeito que eu gosto. Há a possibilidade de jogar com um parceiro online, como Gears of War, mas se você não tiver amigos, a AI assume o papel do sidekick.

Bravo Team, Delfos
Esta moça vai morrer em poucos segundos.

O jogo começa com os dois soldados em um carro com a presidente de um país em guerra. O carro é parado por rebeldes, que matam a presidente. A partir daí, o resto da campanha é uma corrida para tentar fugir. Não há cutscenes, com exceção da abertura e do final, e toda a história é contada pelos diálogos dos personagens. A narrativa, no entanto, é bem simples, com uma viradinha que é telegrafada desde o prólogo (e que é revelada caso você leia a lista de troféus do jogo).

Aliás, falando de troféus, temos aqui um dos troféus de platina mais fáceis e rápidos que já vi. Basicamente, o que dá mais trabalho é conseguir um parceiro online, e todo o resto vem quase naturalmente, sem a existência de coisas pentelhas como os colecionáveis que costumam inflar essas listas.

Na imagem, o momento da minha 50ª platina!

BRAVO TEAM

Bravo Team é um jogo que tem alguns problemas e peculiaridades, mas que diverte muito bem alguém que queira apenas um jogo de ação em VR.

Bravo Team, Delfos
Momento emocionante.

A realidade virtual é cheia de experiências e jogos indies explorando o que é possível fazer com a tecnologia. Não há muitas opções para quem queira simplesmente um jogo de videogame mais tradicional. Apesar de durar apenas três horas, eu colocaria Bravo Team entre os raros lançamentos para o PS VR que têm mais sustância e podem ser considerados obras completas. Assim, o indico sem medo para quem, como eu, gosta de jogos de tiro e quer uma razão para usar o Aim Controller.