Blind Guardian – A Twist in the Myth

0

Qual banda de Heavy atual pode se vangloriar de ter chegado a 20 anos de carreira, 9 álbuns lançados, uma carreira estável, ascendente e sem uma considerável perda de fãs e/ou qualidade? Quantas podem se orgulhar de evoluir sem perder identidade? E de manter uma formação tão sólida, com a perda de apenas um membro em toda a carreira (o baterista que segundo alguns nem fez tanta falta)? Pouquíssimas. Bem, Blind Guardian é uma dessas e eu sou fã deles, se é que você ainda não tinha percebido.

Com o novo álbum A Twist In The Myth, tudo o dito acima fica claro e cristalino. Antes de continuar lendo, responda a pergunta: você gostou do A Night At The Opera? Se você não gostou, vai detestar este lançamento. Se você gostou, então compre agora o ATITM, pois ele é uma evolução do seu antecessor. Os “defeitos” do álbum anterior foram consertados neste, como por exemplo, os coros apenas com a voz do Hansi em 322 oitavas diferentes, que tornaram a audição um pouco enjoativa em algumas faixas. O ATITM é mais pesado, mais intrincado e complexo que seu antecessor. Ou talvez essa impressão seja acentuada com a ausência das 415 faixas com a voz do Hansi, pois agora conseguimos ouvir os outros instrumentos. Bem, de qualquer maneira, acho que a maioria não vai sair cantando os refrões na primeira audição. Porém, eles continuam lá, junto com os coros e as versáteis linhas vocais.

Aliás, o tempo tem feito muito bem à banda, pois neste CD fica evidente o progresso, a criatividade e a capacidade de transmitir sentimentos nas músicas. O Blind não é uma banda técnica. Digo, você nunca vai ver André Olbrich numa lista de melhores guitarristas do Metal, pois ele não é mesmo um fritador. E nem Thomas Stauch/Frederik Ehmke numa lista de melhores bateristas do mundo. O que o Blind tem de único é uma imensa criatividade, apoiada por excelentes instrumentistas. E este quesito criatividade, ainda não é contemplado nas “ótimas” listas de melhores do ano. De qualquer maneira, neste lançamento, nós vemos claramente as “cores” das músicas. Entenderam? Abrindo um parêntese: a troca de Thomas por Frederik como baterista, foi uma troca de seis por meia dúzia. Não fez nenhuma diferença, nem pra pior, nem pra melhor. Resta ver ao vivo.

Os destaques técnicos ficam pra Hansi Kursch, que está cantando muito. Ele grita, berra, fala e tudo isso em linhas vocais inspiradíssimas. E o guitarrista André Olbrich também merece destaque, pois sua guitarra com seu timbre peculiar que lembra um violino sendo estuprado, continua disparando riffs melodiosos da mais alta qualidade. Se dessem os riffs que ele dispara em apenas uma música, pra uma outra banda, dava para fazer um álbum inteiro.

A qualidade da banda também fica evidente no produto em si, o CD. A capa fantástica, com um dragão em meio a ruínas, deixa bem claro que a temática fantasiosa continua sendo a principal inspiração da banda. Tem também todas as letras, fotos da banda, agradecimentos, ou seja, pacote completo. Mas vamos agora a uma análise faixa por faixa:

This Will Never End – Ótima escolha para uma faixa de abertura. Bem agressiva, linhas vocais rápidas desembocando num melodioso e grandioso refrão. E o primeiro verso é: “Once upon a time” (Era uma vez), ou seja, viva a fantasia!

Otherland – Grande faixa, mescla o clima épico com velocidade. Tem também um refrão marcante com um belo coral. Destaque também para as harmonias vocais com a guitarra inspiradíssima de André Olbrich.

Turn the Page – Esta música tem um pique medieval do começo ao fim. Você imagina ela sendo tocada numa taverna toda de madeira, com um monte de barbudos tomando cerveja em canecas e pulando em cima das mesas. Bom, eu pelo menos imaginei isso (acho que estou trabalhando muito). E acho que é uma forte candidata a ser tocada nos shows. O solo parece um… um… sei lá, um hino. Ficou bem legal.

Fly – Este foi o primeiro single. Achei uma escolha estranha, pois esta música destoa do resto do CD. Não é ruim, mas tem uns elementos diferentes, tipo a introdução meio teatral com o vocal narrando algo e depois entrando na música. Também o verso logo anterior ao refrão, chamado também de ponte, tem um instrumental um pouco diferente do usual BG. Eu li uma entrevista em que o Hansi afirmava que a escolha desta música ocorreu porque era a única que estava totalmente pronta a tempo.

Carry the Blessed Home – Bem, chegamos à faixa épica do cd. Quando eu digo épico, eu quero dizer muito épica. Ela é lenta, pomposa, tem uma gaita de fole a partir do primeiro refrão que, aliás, é um grande coro! Quer mais épico que isso? Aliás, acho que os fãs de Heavy são as únicas pessoas do planeta que entendem o que quer dizer épico. Essa música é épica, meu almoço foi épico, etc… Seja épico, delfonauta!

Another Stranger Me – Uma das minhas preferidas, bem rápida e com um clima deseperado. Base bem pesada, solo fritador, uma faixa mais tradicional. Destaque para a criatividade do Hansi pra criar linhas vocais intrincadas e agressivas.

Straight Through the Mirror – Esta música tem uma das melhores introduções do CD. Grande levada. Vocais cadenciados, várias mudanças de tempo e um refrão totalmente Happy Metal, para alegria do Corrales.

Lionheart – Grande música que oscila entre a raiva e o desânimo. Tem um excelente instrumental próximo ao fim da música.

Skalds and Shadows – Esta realmente é uma música de trovador. Flautas, violinos, oboés e um monte de instrumentos clássicos, nenhum peso. Apenas melodia e beleza. Candidata a balada clássica da banda, como A Past and a Future Secret, porém, lembra mais The Eldar (do fabuloso Nightfall In Middle-Earth, mas acho que todo mundo já sabia).

The Edge – Eu achei essa a mais fraca do CD. Ela é muito cadenciada para o meu gosto. Um pouco arrastada, mas tem bons momentos e um refrão legalzinho. É apenas uma boa música.

The New Order – Essa ótima música tem um clima meio arrastado que desemboca num coro daqueles que na segunda audição você já está cantando junto. Muito boa.

Dead Sound of Misery – Não entendi porque o começo desta música é tão parecido com o de Fly, mas é apenas isto, pois o instrumental mais tradicional é bem trabalhado, sem muita agressão. Eu diria mais teatral e com um refrão suave. Acho que é a típica música pra fechar CD.

Depois da 12ª música, na versão nacional, tem uma entrevista de 12 minutos com a banda. Bem, este álbum é mais um degrau que a banda sobe rumo ao panteão dos deuses do Metal. E quando chegarem lá, Tony Iommi dirá: “Sejam bem vindos!”.

Galeria

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorO Labirinto do Fauno
Próximo artigoParceria com a Amazon
Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
blind-guardian-a-twist-in-the-mythAno: 2006<br> Gênero: Power Metal<br> Duração: 69:46<br> Artista: Blind Guardian<br> Número de Faixas: 12<br> Produtor: Charlie Bauerfeind e Blind Guardian<br> Gravadora: Nuclear Blast<br>