De Hollywood podemos esperar cada vez mais obras repetidas e sem novidades. Felizmente, outros países também produzem cinema, e da França sempre podemos esperar filmes autorais e com muito sentimento. E não se deixe enganar pelo título nacional pra lá de genérico, Até a Eternidade é uma obra inesquecível.
Um grupo de amigos e suas famílias têm como tradição anual passar as férias na casa de praia de um deles. Dias antes da viagem, no entanto, um deles é atropelado por um caminhão e vai parar no hospital. Eles resolvem ir assim mesmo.
DESLUMBRE TÉCNICO
O filme já começa forte, com um belo e longuíssimo plano-sequência. Nessa abertura, acompanhamos o futuro atropelado desde dentro de uma balada, passando pelo momento que ele pega a moto e anda por várias ruas de Paris, culminando, claro, no momento do acidente. Tudo sem cortes. Coisa linda, delfonauta!
Apenas depois disso somos apresentados ao grupo de protagonistas. Cada um deles com seu próprio conflito e história que serão resolvidos, ou não, no decorrer da projeção. E como se trata de um filme francês, é claro que boa parte das histórias vai envolver sentimentos e inseguranças.
Enquanto somos apresentados individualmente às histórias de cada um dos personagens, o filme dá uma bela esfriada e só volta a aquecer quando a viagem finalmente começa. Porém, não desanime, pois a partir daí, temos uma obra excelente.
A começar pelo visual. A cidade para a qual eles vão é lindíssima e totalmente paradisíaca, então é fácil de imaginar a beleza estética do filme. Porém, o que se destaca mesmo é o excepcional uso da trilha sonora. Até a Eternidade dá à música tanta importância quanto um Star Wars, embora aqui as canções sejam de estilos consideravelmente mais populares.
Do classic rock de um Creedence Clearwater Revival a faixas que são apenas voz e violão, cada uma das faixas foi escolhida a dedo para tornar as cenas ainda mais fortes. É um trabalho tão fantástico que poderia até ser exibido em uma aula de cinema para demonstrar a diferença que música faz na cena.
Combinando o excelente uso de músicas à beleza visual e ao trabalho magistral dos atores, o filme se torna fortíssimo e muito fácil de se envolver com a sua história. Simplesmente não dá para não se emocionar com o final, e as atuações nas últimas cenas são dignas de levar o Troféu Alfredo de Excelência Interpretativa.
CADA UM COM A SUA HISTÓRIA
Embora todas as histórias envolvam algum tipo de sentimento, elas são bem variadas. Enquanto temos uma básica do sujeito que quer sua garota de volta, outra envolve um dos homens que confessa ter se apaixonado pelo amigo, mesmo não sendo gay e ambos sendo casados e com filhos.
Essa é possivelmente a história mais marcante, especialmente pelo tratamento dado a ela, pois responde tanto pelos momentos mais dramáticas quanto pelos mais engraçados. A cena em que todos estão assistindo a vídeos de férias passadas, em especial, é inesquecível; e a explicação que o cara dá quando o filho pergunta o que é um “veadinho” é simplesmente exemplar.
Eu falei engraçado? Pois é, delfonauta. Até a Eternidade tem momentos extremamente sérios, mas também tem outros que são totalmente fanfarrões e servem para dar uma deliciosa aliviada no clima pesadíssimo de algumas cenas. A hora em que um deles está xingando um pote de arroz, por exemplo, deve ser uma das coisas mais bobas presentes em um filme que não seja assinado pelo Monty Python. E tem vários outros momentos assim.
Equilibrar drama e comédia é algo que apenas mãos muito habilidosas conseguem realizar e, felizmente, este é um desses casos, que se dá bem em ambos individualmente, e torna tanto as partes felizes quanto as tristes melhores por estarem juntas.
Ao sair do cinema, o delfonauta pode sentir que não aconteceu muita coisa no filme, e estaria certo. De fato, este é apenas um pedaço da vida desses personagens. Não é uma obra que visa contar uma história com começo, meio e fim, mas explorar as relações humanas entre pessoas que são bastante diferentes, mas que têm muito em comum, usando como ponto de partida sua primeira viagem sem um dos membros da turma. E é uma viagem que vale a pena acompanhar.
CURIOSIDADES:
– A ficha técnica deste filme foi uma das mais complicadas de escrever da história, graças aos nomes pouco convencionais do elenco.
– O título original significa “Os Lencinhos”.
– Se a resenha não te convenceu, outro motivo para ir ao cinema é conhecer os clones franceses do Rafinha Bastos e do Jeremy Renner. A semelhança é incrível.