Está difícil ser um fã de séries respeitável ultimamente. 2014 foi o ano mais cheio da minha vida, e se já era complicado ficar em dia com todas as séries que eu gosto quando eu tinha mais tempo e quando elas estavam em menor número, imagine agora que a TV está consistentemente aumentando seus níveis de qualidade a cada ano que passa?
Desde o especial do ano passado, nos despedimos de grandes séries como Breaking Bad, The Office, Boardwalk Empire e Dexter, e para cada uma delas, tivemos três ou quatro promissoras estreando. Claro, muitas falham em prender por muitos episódios, mas a quantidade de pilotos que despertaram meu interesse este ano foi recorde. Somando isso às muitas séries veteranas que eu já acompanho, você pode imaginar o quão difícil foi escolher as cinco que tiveram as melhores temporadas em 2014.
As da lista anterior, por exemplo, bem que mereciam estar aqui de novo. Escolhi deixá-las de fora porque que não teria graça repetir, mas não se engane: Hannibal, Orphan Black, Game of Thrones e Orange Is The New Black continuaram excelentes.
Só lembrando: as temporadas da TV estadunidense geralmente começam no fim do ano e terminam agora nos primeiros meses, então não estranhe se a maioria das temporadas citadas não tiver se contido totalmente em 2014. Tendo isso em mente, podemos prosseguir ao que interessa.
D&D – Decepção Delfiana: HOW I MET YOUR MOTHER – 9ª TEMPORADA
A épica narrativa de Ted Mosby finalmente chegou ao fim, e por mais que os fãs já estivessem se preparando emocionalmente para se despedir dele e de Barney, Robin, Lily e Marshall, este encerramento fez muitos deles chorarem por motivos totalmente diferentes do esperado. Vale dizer que eu estou acusando a temporada toda, mas na verdade eles conseguiram a façanha de estragar tudo em um só episódio: o finale. Se você não viu e prefere não saber, pule para o próximo item.
Pois é. A mãe apareceu, e valeu a espera, já que ela era mesmo uma gracinha. Aí então eles simplesmente matam a pobre coitada, de um jeito ridiculamente apressado e barato, e colocam o Ted e a Robin juntos de novo. WTF? Na verdade o pior não foi nem eles terem escolhido esse final, mas quão péssima foi a narrativa para chegar a ele.
Claramente isso já estava nos planos desde sempre, já que a cena com os filhos do Ted teve de ser gravada com muita antecedência. E mesmo assim, eles optaram por passar ANOS mostrando repetidamente que a relação não era saudável, e mostrando o processo do Ted aprendendo a superar a Robin, e desenvolvendo o relacionamento dela com o Barney… Por Satã, eles passaram UMA TEMPORADA INTEIRA às voltas com o casamento deles, só para anunciar o divórcio no episódio seguinte e fazer o Barney voltar a ser o cafajeste do início.
Se eles queriam que a gente engolisse este final, podiam ter trocado isso tudo por mais do Ted de luto pela Tracy, mais dos motivos que levaram ao divórcio da Robin, assim talvez o reencontro pareceria válido. Mas no fim, a mãe, que está no fuckin’ título, foi só um plot device, e todo o crescimento dos personagens, que era o grande charme da série, foi jogado fora. Uma recompensa muito injusta para quem passou nove anos acompanhando.
Menção Horrorosa – o pior do ano: STALKER: 1ª TEMPORADA
É lógico que, dando chances para tantas séries diferentes, encontra-se muitas ruins no caminho. Em todas estas, com um pouco de piedade e gentileza, dá para encontrar ao menos um ponto de redenção, alguma coisinha a ser elogiada. Menos nesta.
Stalker acompanha uma dupla de policiais numa divisão especializada em – adivinha! – combater stalkers. A premissa é muito interessante, e podia ter dado certo se focasse em explorar a psicologia por trás dos crimes, contar as histórias das vítimas e desenvolver os personagens. Mas a prioridade aqui é só mostrar a violência, de forma desnecessariamente brutal e gratuita. Violência nunca foi problema para mim, mas o tom inexplicado e apelativo que se usa aqui só faz a série ser torturante de assistir. É como se misturassem Criminal Minds com The Following, e aí tirassem tudo o que essas duas séries têm de positivo e inteligente. Juntando isso a um monte de clichês e a um protagonista absolutamente desprezível, e temos sem dúvida a pior série de 2014.
Surpresa Delfiana: THE MINDY PROJECT – 3ª TEMPORADA / BROOKLYN 99 – 2ª TEMPORADA
Apesar de sempre termos boas comédias no ar, dificilmente uma série de comédia deixa uma impressão tão forte quanto as superproduções mais sérias que a gente tanto ama. No entanto, duas comédias que eu conheci este ano merecem ser citadas nesta lista.
A primeira é The Mindy Project, criada e estrelada pela diva Mindy Kaling, que você deve lembrar como a Kelly de The Office. Aqui, ela é uma ginecologista, trabalhando numa clínica cheia de figuras “excêntricas”, e nós a acompanhamos enquanto ela se divide entre sua carreira, suas neuroses e seu sonho de conseguir uma história de amor típica das comédias românticas. Pode não parecer uma premissa muito atraente, mas com seu jeito espontâneo e politicamente incorreto, Mindy consegue conduzir uma história não muito original de um jeito super charmoso, autêntico e, principalmente, hilário. O começo foi um tanto inconsistente, mas agora, terminando seu terceiro ano, a série está solidificando cada vez mais sua identidade.
E depois, tem o meu novo xodó, Brooklyn Nine-Nine. Uma sitcom sobre um esquadrão de detetives numa delegacia, protagonizada por Andy Samberg. A ideia é batida, os personagens são bastante básicos, chega a ser difícil descrever porque esta série é tão especial, mas ela é. Criada por caras que têm Parks & Recreation no currículo, ela tem aquele mesmo senso de humor irônico, mas também super leve e inocente, com um toque de fofura aqui e ali. O elenco tem uma química ótima, principalmente nessa segunda temporada, em que os coadjuvantes tiveram mais espaço pra brilhar, e é visível que todo mundo se diverte horrores fazendo a série. Se não por tudo isso, vale checar só pelo Terry Crews, mais impagável do que nunca.
5 – CONSTANTINE – 1ª TEMPORADA
Com Arrow chegando firme e forte em sua terceira temporada, The Flash estreando e Gotham sob os holofotes, 2014 estava destinado a ser o ano da DC na TV. Nada mais justo, já que os cartoons da casa sempre foram os melhores.
No entanto, ambas as novatas já estão prestes a encerrar suas temporadas, e nenhuma das duas conseguiu me impressionar. The Flash acertou em cheio com Grant Gustin, que ficou bastante simpático como Barry Allen, e conseguiu também o estilo vibrante e divertido que falta em suas colegas. Por outro lado, o diálogo desajeitado e cheio de exposição, insistindo em dizer o que qualquer criança assistindo pode deduzir sozinha, incomoda e atrapalha as atuações. Gotham é super estilosa visualmente, tem momentos badass e aquele Pinguim ótimo, mas parece não ter se decidido entre se distanciar do Morcegão ou fazer referências constantes ao seu universo, e isso acaba deixando tudo meio forçado.
Sendo assim, o ouro fica com Constantine, a terceira cria da DC que chegou às telinhas e, infelizmente, já está correndo perigo de cancelamento. O que não dá para entender. Matt Ryan provou ter o carisma e o charme necessário para encarnar o nosso querido JC, mesmo sem aspectos tão característicos dele, como os cigarros. Os roteiros poderiam ter ousado mais, mas ao menos eles foram mais sutis na hora de trazer a backstory e desenvolver os personagens. Com muitos momentos creepy e uma dose saudável de humor, ele fica exatamente no meio entre o colorido do Flash e o preto-e-branco de Gotham. Me diverti bastante assistindo e estou na torcida para que ela sobreviva mais um ano, ao menos até que suas colegas se aperfeiçoem. É melhor, já que em 2015 a Marvel contra-ataca com Agente Carter e Demolidor.
4 – AMERICAN HORROR STORY – FREAK SHOW – 4ª TEMPORADA
Eu tenho acompanhado American Horror Story desde a primeira temporada, e continuo achando que ela é uma das séries de terror mais criativas dos últimos tempos. Tendo um tema diferente a cada ano, eles têm conseguido se manter interessantes, enquanto muitas outras vão ficando cansativas.
E embora a terceira temporada, que acompanhava as bruxas do Coven, tenha sido a minha preferida em termos de personagens e enredo, ela acabou sendo mais engraçada e absurda do que medonha. Depois dela, era melhor que eles voltassem a tomar um caminho mais assustador. Conversando com amigos sobre exatamente isso, bem antes dos rumores começarem, eu sugeri que eles poderiam fazer algo relacionado ao Circo, afinal palhaços são a minha definição pessoal de creepy. Meu palpite bateu na trave, mas ainda assim, eles deram um jeito de colocar um maldito palhaço assassino na história.
Além dele, acompanhamos as demais atrações do Show de Horrores da Frau Elsa, (interpretada pela sempre ótima Jessica Lange) em contraste com os habitantes da singela cidade de Jupiter. Neste cenário, a série consegue ser igualmente cativante e horripilante: permite que você se envolva na história e nos dramas deste bando de rejeitados da sociedade – o que é fácil, graças às atuações – mas sem nunca deixar você esquecer que está assistindo a uma série de terror. E além de ter sido a temporada mais nivelada neste sentido, também foi a que permitiu que o visual artístico e estilizado – talvez a característica que mais destaca essa série de qualquer outra – brilhasse mais. Quero só ver o que eles vão inventar em 2015 para superar o Freak Show.
3 – THE STRAIN – 1ª TEMPORADA
Embora eu ainda não tenha tido a chance de ler a Trilogia da Escuridão, que o tremendão Guillermo Del Toro escreveu em parceria com Chuck Hogan, eu já tinha planos de assistir à adaptação desde que começaram a sair as primeiras notícias. Fico feliz em dizer que a demora valeu a pena. Provavelmente pela supervisão próxima dos dois criadores: Hogan assinou muitos dos roteiros, e o próprio Do Touro dirigiu o piloto.
E não é preciso ver mais do que o piloto para entender o porquê The Strain ficou tão alto na lista. Eles conseguem pegar duas premissas extremamente desgastadas – os vampiros e o apocalipse zumbi – e fazer funcionar de um jeito que ainda parece original. O clima sobrenatural e mitológico dos vampiros, balanceado pelo jeitão sci-fi de uma ameaça biológica violenta e desconhecida dá muito certo, e tudo fica melhor graças ao quão gráficos eles se permitem ser. O design dos vampiros, parecidos com os que o Do Touro fez em Blade II, também me agradou.
A única ressalva é que o protagonista, Dr. Eph Goodweather, não conseguiu conquistar minha simpatia, e portanto, o drama familiar pelo qual ele passa acaba sendo chato. Mas, por incrível que pareça, amor e família também são uma parte integral desta história, então acho que é um preço digno a pagar. Por sorte, The Strain já teve seu retorno confirmado, e promete uma segunda temporada com muito mais ação. Aguardemos!
2 – HOW TO GET AWAY WITH MURDER – 1ª TEMPORADA
Mal nos despedimos de How I Met Your Mother, e já chega outra série cujo título é um saco de digitar. How To Get Away With Murder acompanha cinco estudantes de direito, escolhidos por sua implacável professora de Direito Penal para trabalhar com ela e aprender a defender os clientes mais indefensáveis – independente de eles serem culpados ou não. E eventualmente, até usar na prática todo este conhecimento sobre como assassinar alguém e sair impune.
Se equilibrando bem entre um esquema de “caso da semana” e o desenvolvimento da grande trama principal, a série consegue ter a consistência de um CSI da vida, ser divertido como qualquer bom drama de tribunal, e ainda desenrolar um grande mistério quase tão surpreendente quanto o que Hannibal nos deu ano passado. O compasso moral da série é sempre ambíguo, não existem mocinhos e vilões claramente distinguíveis, e sua opinião sobre cada personagem muda bastante conforme eles vão sendo desenvolvidos e a química entre todos vai se formando.
E embora todo o elenco seja bastante sólido – com destaque para Jack Falahee e Alfred Enoch, que era o Dino Thomas de Harry Potter – o grande motivo para continuar acompanhando até o fim é sem dúvida a Professora Annalise Keating de Viola Davis. Ela é tão complexa e tão cativante que toda vez que aparece ofusca todo o resto. Por ela, a gente acaba relevando os flashbacks e flashforwards irritantes e as perguntas que o roteiro deixa não-respondidas. A série não é perfeita, e não sei por quanto tempo vai render sem perder a qualidade, mas todos esses episódios exibidos em 2014 foram absolutamente recomendáveis.
1 – TRUE DETECTIVE – 1ª TEMPORADA
Meus amigos que me veem perseverando ano após ano com Supernatural ou Castle podem não entender quando eu digo que a TV não está devendo nada para o cinema há dois ou três anos. Provar este meu ponto ficou mais fácil este ano, já que agora só é preciso apresentá-los a True Detective.
Lá no começo de 2014, quando eu resolvi dar uma chance a essa série, eu não sabia muito a respeito. Só tinha visto que ela seria protagonizada pelo oscarizado Matthew McConaughey e o sempre ótimo Woody Harrelson, e que teria o mesmo formato de antologia que tem dado certo em American Horror Story. Por isso mesmo, eu não vou entrar muito em detalhes, pois quanto menos você souber, mais envolvente fica a atmosfera da série, e mais surpreendente a qualidade geral que ela tem.
True Detective é tanto uma série policial e de mistério quando um estudo de personagens, e graças às atuações dos dois protagonistas, isso deu tão certo que às vezes a trama ficava em segundo plano. Do roteiro sofisticado ao visual cinematográfico e à abertura que sempre me dá arrepios – eu dou muita importância para aberturas de séries, mas isso talvez seja assunto para outro texto – todos os aspectos técnicos da série são impecáveis.
Existem sim alguns pontos a serem criticados, mas isso não tira o mérito de que True Detective foi a experiência mais imperdível deste ano.
Você concorda? Me conta qual seria o seu Top 5 nos comentários. E com este texto encerramos o especial delfiano dos melhores de 2014. Esperamos que você tenha se divertido com as nossas listas.