É engraçado como a época do colegial é, ao mesmo tempo, extremamente importante e completamente irrelevante. Depois que você cresce e começa a ter sua vida de adulto, ninguém se importa com o que aconteceu naqueles três anos. Muito provavelmente, nem você mesmo. Porém, uma análise mais cuidadosa demonstra que essa época foi essencial na formação da personalidade de todos. Se o meu colegial tivesse sido diferente, não duvido nada que o DELFOS fosse diferente. Talvez ele nem existisse. Da mesma forma, talvez as pessoas que você ama poderiam ser irreconhecíveis caso essa época tivesse pequenas diferenças.
As Melhores Coisas do Mundo aborda o dia a dia do colegial de um grupo de adolescentes. Paixões e inseguranças dão a tônica ao filme, assim como na vida real. O protagonista, Mano, no começo do filme está lidando com a separação dos seus pais e com uma paixão platônica com a gostosinha da escola. Sua vida vai ficar ainda mais complicada quando ele descobrir que seu pai é gay e perceber quão ferrado ele vai estar se isso chegar na escola.
Os problemas de Mano não são os únicos do longa, pois vários dos personagens se envolvem em escândalos, inseguranças e paixões típicas do cenário. Porém, como tudo é contado do ponto de vista dele, obviamente seus problemas parecem mais importantes do que os dos outros.
Ainda assim, o filme ganha vida justamente por mostrar a “piada da semana” do colegial do ponto de vista de um único personagem. Afinal, quando a pessoa humilhada é alguém distante, ele pouco ou nada se importa, mas conforme a humilhação se aproxima das pessoas que ele gosta, a insegurança e a indignação aumentam.
O filme faz um bom trabalho focando nesse ponto da insegurança. Quem não lembra da insegurança de ser jovem e das brincadeiras idiotas na linha de “setembro chove?” que todo mundo fazia e obrigava as pobres crianças a ficarem constantemente atentas para não virarem a piada da vez.
Sou obrigado a admitir, porém, que não me identifiquei com nenhum dos protagonistas. Na época do colegial, eu era o cabeludo que só se vestia de preto e, embora o filme até tenha um personagem assim, ele não é importante o suficiente para alguém se importar com ele. Provavelmente como eu mesmo era na época do colegial. =P
Também me identifiquei um tantinho com o irmão de Mano, que manifesta seus sentimentos e posições quase que exclusivamente através da palavra escrita. É, parece que eu não mudei tanto desde o colegial, embora hoje eu use roupas mais coloridas e meu cabelo dê menos trabalho. Mas o irmão dele também não é tão importante para a história.
Obviamente, essa identificação, embora desejável, não é essencial para se fazer um bom filme. Já temos muitas obras focadas em nerds no colegial, então é até legal que tenham feito algo diferente. E não só diferente, mas muito bem feito e com bastante sentimento.
Admito que tinha medo que As Melhores Coisas do Mundo fosse um Malhação cinematográfico. Felizmente, eu estava errado. Por causa de tudo que foi explicado acima, este é um dos melhores filmes nacionais já feitos, talvez perca só para Apenas o Fim. E, particularmente, fico muito feliz que o Brasil finalmente esteja criando filmes sobre o cotidiano de pessoas normais, e deixando de lado a terrível trindade favela/nordeste/ditadura. Que continue assim, e comece a fazer filmes de zumbis decentes logo!
Curiosidade:
– Segundo a assessoria da Warner, esta é a primeira vez que um longa nacional consegue a permissão para usar uma música dos Beatles. E eles realmente aproveitaram a licença, já que a beleza de Something ajuda a deixar os melhores momentos do filme ainda melhores.
– Este é o primeiro filme nacional a levar o Selo Delfiano Supremo. Que venham muitos outros!