Anjo de Vidro

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Uma das maiores vantagens de se ter TV paga é poder escapar das épocas em que todas as TVs abertas tupiniquins passam a mesma programação, ignorando o fato de que seres humanos são diferentes uns dos outros e que alguém pode querer assistir alguma outra coisa em época de eleições, copa do mundo ou olimpíadas. Porém, se tem uma época da qual nem a TV paga é capaz de entreter nós que somos do contra é a época natalina, que afeta todos os canais com aqueles “especiais de Natal” que têm como único objetivo capitalizar em cima do nascimento de Jesus Cristo. Sim, eu não gosto de Natal e de nada que o envolve. Para ser sincero com você, meu amigo delfonauta, a única coisa relacionada com esse feriado da qual eu gosto (excluindo os presentes, é claro), são os CDs da fantástica banda Trans-Siberian Orchestra. E ainda assim, meu CD preferido dos caras (e que está também na minha lista de melhores álbuns da história) é seu único álbum não natalino até o momento: aquela pequena maravilha musical chamada Beethoven’s Last Night. Tudo isso para chegar em um ponto muito simples: começaram os filmes “especiais de Natal” e Anjo de Vidro promete ser o primeiro dos muitos que aparecerão na temporada 2004.

Divulgado como sendo uma comédia romântica, Anjo de Vidro falhou em todos os aspectos (ao menos comigo). Digo isso pois eu não só não ri em nenhum momento, como ainda saí um tanto deprimido da sessão. O filme é composto de várias pequenas historinhas que se encontram em determinados momentos e que têm como objetivo mostrar como a bondade humana floresce na época de Natal. Puxa, sinto dizer isso, mas na minha humilde opinião, se tem um adjetivo que ainda não pode ser atribuído à raça humana é a bondade, seja na época de Natal ou em qualquer outra. Você, por acaso, age diferente no Natal do que no resto do ano? Se age, você não acha que está sendo um idiota fazendo isso? Se você consegue ser uma boa pessoa na última semana do ano, por que não o é no resto dele? Entende o que quero dizer? E se você se considera uma pessoa boa, parabéns. Acredito que você sabe que você é uma exceção. Prova disso é a reeleição do anticristo para o cargo de presidente do mundo que aconteceu nas últimas semanas. E vejam só, foi perto do Natal, época em que as pessoas estão mais dispostas a amar do que a matar. Sei…

Em uma dessas histórias, possivelmente a mais importante, temos Rose (Susan Sarandon), uma mulher que passa boa parte da sua vida cuidando de sua mãe, que sofre do mal de Alzheimer, uma das doenças mais terríveis conhecidas pela humanidade. Eu mesmo passei boa parte da minha adolescência observando uma tia muito querida sucumbir diante desta horrível doença, sem nada poder fazer para ajudá-la. Se existe uma forma pior de morrer do que essa, eu sinceramente espero que eu não venha a conhecê-la durante a minha existência. Agora você me diga, é possível rir disso? Qual é o objetivo de colocar uma senhora com o mal de Alzheimer em uma comédia?

Nem todas as histórias são tão deprimentes, mas todas têm aquela carga emocional hipócrita que sempre vemos em filmes do gênero. Não faz meu estilo, mas se você gosta de filmes melosos e tristes (embora seja uma “comédia”), não pode deixar de ver. Verdade seja dita, hipocrisia ou não, algumas das cenas do final realmente deixam pessoas mais emotivas como eu com um nó na garganta. Seria bom se vivêssemos em um mundo assim, onde, ao menos por um ou dois dias, a humanidade perdesse esse instinto “Lemming” de se autodestruir e começássemos a ser bons uns com os outros. De verdade, não apenas no cinema e na TV.

Enquanto eu fico com a minha utopia, você pode assistir Anjo de Vidro a partir dessa sexta, 19 de novembro. Na primeira semana de exibição, na compra de dois ingressos, você ganha um anjinho de resina para colocar na sua árvore de Natal. Eu não sei se isso é válido para todos os cinemas que exibirem o filme, então se informe antes de comprar para não botar a culpa na gente, hein?