Não se deixe levar pelo título confuso. Esta é uma análise Winter Ember, e não uma crítica O Peso do Talento. Esta última será publicada ainda essa semana aqui no DELFOS, mas eu não consegui resistir a fazer a piada aqui. Isso porque Winter Ember é um jogo com muitos predicados, que o tornam facilmente recomendável. Por outro lado, tem também muitos problemas graves, especialmente de UX, que deixam sinceramente difícil de recomendar. Para saber mais, já sabe. É só continuar lendo. Ah, se a vida fosse tão fácil quanto ler o DELFOS.
ANÁLISE WINTER EMBER: UM THIEF MODESTO
A Sky Machine Studios deixa sua inspiração bem clara. Eles têm um carinho enorme por Thief e adorariam fazer um jogo nesse estilo. Porém, criar um immersive sim em primeira pessoa é bem caro. Inalcançável para um estúdio indie. O comprometimento foi inteligente: mantiveram tudo que Thief tem de bom, mas colocaram uma câmera isométrica. E você sabe, eu adoro jogos isométricos.
Foi uma excelente ideia. Winter Ember é um jogo lindão, com vários cenários impressionantes. Isso infelizmente não se reflete em uma boa performance. Mesmo no PS5, há quedas de quadros frequentes. Mas, cá entre nós, este é o menor dos seus problemas. Antes disso, no entanto, continuemos abordando seu gameplay e o que ele tem de legal.
JOGANDO WINTER EMBER
Se você já jogou Thief, as palavras “Thief isométrico” devem dar uma boa ideia de como é o jogo. Winter Ember é um game de ação com foco em stealth. Há alguns mapas abertos, e outros mais fechados e lineares. Você tem a missão principal e um punhado de sidequests que podem ser cumpridos de várias formas diferentes. E, claro, pode simplesmente sair para explorar, invadindo casas aleatórias e roubando tudo que tem lá dentro.
A primeira impressão que ele causa é excelente. Ora pois, veja só isso.
Em outras palavras, como qualquer immersive sim, o jogo te dá objetivos abertos (do tipo “entre naquela base”). E a graça é explorar, encontrar suas opções e escolher uma. Quem sabe, em uma segunda campanha, fazer de outra forma. Assim, você pode escolher jogar como um fantasma, que entra e sai sem ser visto. Ou então pode abaixar as calças, chutar a porta da frente e matar todo mundo. Em alguns momentos, no entanto, Winter Ember dá apenas uma opção. E é aí que os problemas começam.
KD FLECHA DE FOGO?
No primeiro mapa aberto, estava eu fazendo umas sidemissions, quando tive que queimar umas plantas. Fiz a missão inteira, mas para cumprir o objetivo final, precisava de flechas de fogo. Não tinha nenhuma, e a única loja disponível nesse momento estava “sem estoque”.
Foi frustrante, mas era uma sidemission. Então continuei a história. Mas pouco depois, tive que passar por uma porta congelada. Como descongelar? Com flecha de fogo. Isso não era opcional, mas um funil da campanha. Para passar dali, eu precisava de flechas de fogo. Voltei pra loja. Ainda sem estoque. Saí explorando o único mapa aberto disponível para mim nesse ponto da história. Fiz todas as outras sidemissions abertas, na esperança de que uma delas me recompensasse com flechas de fogo. Não aconteceu.
Tentei andar a esmo pela cidade, procurei no pai dos burros “como encontrar/fazer flechas de fogo em Winter Ember?”, sem sucesso. Achei que ia ser obrigado a parar aí, simplesmente porque o jogo não queria mais ser jogado. Mas não queria parar. Sabe como resolvi?
COMO ENCONTRAR FLECHAS DE FOGO EM WINTER EMBER?
Eu resolvi salvar, fechar o jogo e abri-lo novamente. Voltei para a loja e o estoque tinha mudado. Agora ele tinha algumas flechas de fogo, e eu comprei todas. Fui queimar as malditas plantas e descongelar a porta para seguir com a história. Mas foi uma experiência frustrante, com uma solução estúpida. Algo que não deveria ter acontecido.
Em vários outros momentos da história, a única forma de progredir é tendo flechas específicas (tem dezenas delas). E toda vez que eu via “flecha do tipo X required“, ficava com receio de não ter e não conseguir comprar. Um time mais experiente simplesmente colocaria flechas do tipo necessário perto de onde elas são necessárias, especialmente em funis da campanha. Mas isso resume bem a péssima experiência de usuário que Winter Ember fornece.
COMO EQUIPAR FLECHAS EM WINTER EMBER?
Em outro funil, eu precisava de flechas específicas também. Mas dessa vez tinha algumas dezenas do tipo solicitado. Porém, eu podia apenas usar três tipos, selecionados aparentemente de forma aleatória. Naveguei de um ponto a outro daquele menu infernal cheio de opções, sem encontrar como mudar as flechas equipadas. Novamente, o pai dos burros não me forneceu a dica necessária.
Quando estava quase desistindo, resolvi clicar na flecha direto no inventário. Era assim. Você deve clicar na flecha, escolher “place in slot“, escolher o slot e clicar de novo. Eu sei, parece óbvio explicando assim, mas este é um daqueles jogos cujo menu tem várias abas. Algumas delas são dedicadas às suas flechas, e era ali que estava procurando como equipar.
A TERRÍVEL UX DE WINTER EMBER
Winter Ember é cheio de problemas desse tipo, em que o jogo simplesmente não se explica. É o que se chama de UX, ou user experience. Algumas empresas, como a Naughty Dog, são excelentes nisso. Outras, como a From Software, são piores – ou talvez intencionalmente mais obtusas. A questão é que isso incomoda muito menos em um Elden Ring. Afinal, se você não consegue descobrir como usar o arco e flecha em Dark Souls (aconteceu comigo), a simples popularidade desses jogos faz com que a internet esteja lotada de guias, tutoriais e dicas.
É muito fácil encontrar instruções para um grande jogo com UX obtusa. Não é o caso de um jogo indie como Winter Ember. Mesmo os guias que falavam como avançar na história que encontrei, estavam muito mal escritos, inclusive com os nomes das missões erradas. E Winter Ember é tão obtuso que torna o uso desses guias algo essencial.
Winter Ember é daqueles jogos em que os objetivos são mostrados em áreas abertas, não no ponto específico em que estão. Em uma outra sidemission, eu precisava encontrar um cofre, que ficava em um banheiro. Encontrei até uma imagem do mapa mostrando o ponto exato, mas não uma imagem do cofre. Fui ao banheiro em questão e fiquei vários minutos procurando o maledeto. Não encontrei. Essa sidemission ficou em aberto no meu quest log durante toda a campanha, e foi o que me fez parar de fazer, ou mesmo de pegar, sidemissions. Não gosto de ter um quest log cheio de objetivos que não vou fazer.
ANÁLISE WINTER EMBER E OS INCONVENIENTES MENORES
Há outros problemas menos graves também relacionados à UI. Como é comum em jogos focados em stealth, Winter Ember mostra quando você está no escuro ou no claro através de cores. Se estiver em um lugar iluminado, o visual é super colorido. Quando está no escuro, é lavado. Veja só esses exemplos.
A ideia faz sentido, e até já foi feita antes em games semelhantes. Porém, aqui é comum você andar por corredores que se alternam entre claro e escuro. E isso faz com que a imagem fique “piscando”. A sensação que me dá é que minha TV fica ativando e desativando o screensaver constantemente, o que é muito incômodo. E sim, é um incômodo. De forma alguma é algo que quebra o jogo, como os pontos desenvolvidos acima, mas torna a user experience mais negativa do que deveria ser.
ANÁLISE WINTER EMBER: SÓ QUE MESMO ASSIM O JOGO É LEGAL
Winter Ember lembra um pouco o The Ascent, que não tem resenha no DELFOS, mas talvez você o conheça. Trata-se de um twin-stick shooter isométrico com gráficos extremamente impressionantes. Porém, o jogo em si tem vários problemas. A questão é que ele é tão bonito que você tem vontade de continuar jogando, mesmo sem curtir o gameplay.
Não é o caso de Winter Ember. Este é um jogo muito melhor do que The Ascent (que, na real, achei bem ruim), mas comete uns erros que seriam facilmente evitáveis por um time mais experiente.
Winter Ember é claramente um jogo feito com muito capricho e carinho. Toda sua história é falada. Suas cutscenes são bonitos desenhos semi-animados. O próprio level design é legal, e certamente satisfará fãs de Thief e de immersive sims em geral.
A CONCLUSÃO AMARRADINHA DA ANÁLISE WINTER EMBER
Em outras palavras, Winter Ember foi um game que eu tive vontade de ir até o fim, e com o qual tive ótimos momentos. Mas para chegar neles, tive que passar por vários momentos de frustração que poderiam ser evitados com uma UX mais bem-feita. É incômodo gostar de um jogo e ficar constantemente com a pulga atrás da orelha sussurrando “ei, brou, esse jogo podia ser melhor, né?”. Mas é o que temos aqui. E por isso mesmo não consigo fazer uma conclusão amarradinha, do tipo “jogue” ou “não jogue”.
Aqui a coisa é mais cinza, e esta é uma das grandes vantagens de escrever para um site cujo público não tem medo de análises mais elaboradas. Nosso publico não tem TLDR, graças a Odin. E Winter Ember exige essa elaboração. Preciso explicar o que ele tem de bom e o que tem de ruim, e deixar você tomar sua decisão se deve ou não jogá-lo. E sabe outra coisa que o DELFOS tem de legal? A proximidade com o nosso público. Então eu realmente quero saber se você escolheu jogar ou não. Conte pra mim sua decisão nos comentários.
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