Wenjia faz parte do panteão dos plataformas 2D, que você deve se lembrar como meu gênero preferido. Ele acerta ao não ceder à tentação do visual pixelado e lançar mão de uma estética simples, mas bonita, especialmente pelo seu uso de cores.
ATIREI O PAU NO GATO
Em Wenjia, você controla um gato. Os controles são muito simples, usando apenas dois botões. O A pula, com a possibilidade de pulo duplo. Já o LB troca de mundos. Manja aquele esquema que anda na moda hoje, de que algumas plataformas só estão em um dos mundos? Tipo Guacamelee e tal. É por aí.
O que não dá para entender é porque, com tanto botão vazio, colocaram esta função no LB, o mais inacessível do controle do Xbox One. Talvez seja bom para canhotos, mas para mim afetou consideravelmente a jogabilidade. O gatilho direito me parecia bem mais apropriado, mas por que não colocar nos dois?
Os dois mundos, como sempre, são opostos. Um é cheio de cores, enquanto o outro é mais escuro e com menos plantas. Veja abaixo dois screenshots da mesma tela, uma em cada mundo.
Bonito, né? O design não é muito inspirado e envolve basicamente florestas e cavernas, mas pelo menos é belo no que se propõe.
MAS O GATO NÃO MORREU
O gameplay, sem combates e totalmente linear, envolve basicamente ir de uma ponta a outra da fase. Isso não costuma ser fácil, no entanto. É comum você ter que mudar de um mundo a outro no meio do pulo, e a diferença entre eles vai muito além da existência ou não de plataformas. Tem, por exemplo, um ventinho que te puxa para cima, exigindo navegação precisa e alternância entre ele e o pulo duplo para passar dos desafios mais cascudos.
O jogo exige uma habilidade considerável, mas não é frustrante na maior parte do tempo, graças a checkpoints frequentes, como tem que ser.
A exceção é a última fase, totalmente desprovida de checkpoints. E sabe o que é pior? Logo no início, ela tem um pulo cabeçudo que exige uma precisão sobre-humana.
Este pulo vem nos primeiros 30 segundos de uma fase que dura uns três minutos. E pelas minhas contas, eu conseguia acertar o salto em apenas 20% das vezes. Nada do que vem depois dele é tão difícil, mas como um bom tempo se passava entre cada vez que eu simplesmente podia tentar avançar, é fácil entender como isso se tornou sacal.
Wenjia durou para mim pouco mais de duas horas, e eu passei mais de uma hora na última fase por causa disso. Claramente a Dilemma entende que checkpoints são importantes, ou não teria enchido o jogo deles. A impressão que ficou é que ao chegar lá perceberam que Wenjia estava curto demais e resolveram estender a duração artificialmente obrigando o jogador a repetir os mesmos 30 segundos centenas de vezes (literalmente, ao terminar apareceu uma tela dizendo que eu morri 260 vezes).
O BERRÔ QUE O GATO DEU
Há também alguns pontos que carecem de polimento. Um que costuma aparecer em plataformas indies são as famigeradas plataformas não sincronizadas, e isso rola por aqui. Também tem um único momento em toda a campanha em que você precisa segurar para cima enquanto o vento te sopra, e Wenjia falha em te mostrar que isso afeta o gameplay. Fiquei um bom tempo preso aí até descobrir isso por acaso.
Por outro lado, se há algo que é simplesmente perfeito é a trilha sonora, composta de belas e calmas músicas instrumentais. Se você gosta de piano e instrumentos de cordas (eu adoro), esta é uma das melhores trilhas do ano.
Pode parecer que eu não gostei de Wenjia, mas não é o caso. Ele tem problemas, mas se não fosse a ausência de checkpoints na última fase, a nota seria consideravelmente mais alta. Na real eu me diverti bastante durante toda a campanha, o problema é que a última fase me custou metade do tempo que eu passei com o jogo. E você sabe que se tem algo que não cola aqui no DELFOS é algo não respeitar o nosso tempo.
Caso a última fase tivesse a mesma lógica do resto do jogo, com checkpoints frequentes, Wenjia seria um ótimo exemplo de como fazer um plataforma 2D, mesmo sem ter um orçamento bombado. Ele é bonito, desafiador e tem uma trilha sonora que em um mundo justo se tornaria uma das mais famosas dos games. Merece ser jogado, mas se você não for obcecado em terminar seus jogos, pare de jogar quando chegar naquele famigerado pulo.
