Turbo Overkill talvez seja o nome mais videogame já videogamado. As duas palavras que o compõe são usadas com frequência em jogos dos mais variados gêneros. Sinceramente, se um título é a carta de apresentação de uma obra, a de Turbo Overkill dá uma primeira impressão bastante negativa. “Deve ser um clichezão sem graça”, é o que vem à mente. Porém, nada poderia estar mais longe da verdade. Se tanto, Turbo Overkill tem um título tão videogame porque ele é exatamente isso: um videogame que se orgulha do que é e não tenta ser outra coisa.
Turbo Overkill é um FPS retromoderno. Ele tem visual e gameplay remanescentes de como o gênero era lá nos anos 90, mas é ao mesmo tempo moderno, impressionante e divertido ao extremo. Vou dizer com todas as letras: Turbo Overkill tem potencial para se tornar o novo rei dos boomer shooters. E nesta análise Turbo Overkill, vou explicar o porquê.
ANÁLISE TURBO OVERKILL
Tudo começa pelos gráficos, efeitos visuais e movimentação. Turbo Overkill pode causar uma péssima primeira impressão pelo título clichê, mas seus primeiros segundos com um controle na mão (ou com mouse e teclado, se você for truezão) vão ser paixão à primeira vista.
Ele tem muito da sensação que me foi causada por Prodeus, porém Turbo Overkill consegue ser ainda melhor. Mais bonito, mais rápido, mais divertido. O visual é retrô, mas também é ainda mais moderno e elaborado. E não como Prodeus. Os gráficos de Turbo Overkill passam a sensação de que o game seguiu a evolução gráfica até Quake, e daí evoluiu em uma linha de tempo alternativa. Ou seja, o estilo de design segue aquela linha, com cenários angulares, porém é tudo detalhado e técnico para dar ao jogo a sensação de um game moderno.
É uma estética diferente dos AAA ultrarrealistas da atualidade, mas me agrada MUITO. Tudo é absurdamente exagerado, com cores vivas e brilhantes, em um visual cyberpunk tão trabalhado e cheio de estímulos que jogar Turbo Overkill dá a sensação de estar em uma casa noturna. Uma orgia para os sentidos, com perdão do clichê.
ESTADO TÉCNICO
Isso se reflete no peso. Turbo Overkill não é nenhum Ratchet & Clank em seus requisitos técnicos, é claro. Mas também não é a leveza de um Rise of the Triad. ou algum boomer shooter mais recente, como Amid Evil. Na minha RTX3070, eu consegui jogar ligando o note na TV a 4K/60 quase o tempo todo, mas não travado.
O jogo também sai em meio a updates frequentes. Desde o lançamento, enquanto jogava, ele chegou a pedir três updates no mesmo dia. E tem evoluído muito. Quando comecei minha campanha, no dia do lançamento, ele mostrava os comandos no teclado, mesmo quando jogava no controle. Isso foi resolvido. Outro problema, este ainda não resolvido, é que o VSync estava invertido, sendo ligado quando você escolhia desligado e vice-versa. E quando você desligava o VSync, para ligá-lo (eu sei que é confuso), a performance piorava MUITO, caindo abaixo dos 30 FPS nas mesmas configurações. Esta lentidão melhorou, mas o menu continua invertido. Por fim, os achievements não destravavam, mesmo você cumprindo os objetivos. Eu não tenho as conquistas de completar as primeiras fases, mas tenho de fases posteriores e de completar o jogo, o que deveria ser impossível.
Isso tudo parece melhor agora (embora as conquistas alcançadas antes do patch que as ativaram não foram retroativadas), mas estranhamentos se mantém. Eu não consigo capturar screenshots, por exemplo, nem através do atalho do controle (guide+gatilho direito) nem apertando F12. Este é o motivo pelo qual esta resenha está ilustrada com imagens de divulgação. Acredito que Turbo Overkill vai estar muito melhor nas próximas semanas, e mais ainda quando as versões de console saírem. Ele já é bom agora, mas para uma diversão menos problemática, esperar um pouquinho pode ser uma boa.
TURBO OVERKILL E A MELHOR MOTOSSERRA DESDE GEARS OF WAR
Voltemos ao gameplay, que é o ponto de maior destaque aqui. Turbo Overkill é o tipo de jogo cujo principal objetivo é fazer você se sentir um “bunda-ruim”. As cutscenes trazem cenas singelas como escopetar um caboclo e usar suas tripas para escalar até o andar de baixo. E o gameplay é igualmente exagerado, com um avanço de poder absurdo ao longo da campanha.
Você já começa com uma perna de motosserra. Um dos seus ataques envolve deslizar com a motosserra à frente, o que faz miséria com os inimigos mais fraquinhos. Agora a técnica vem com a possibilidade de equipar modificadores em seus superpoderes. Dá, por exemplo, para equipar a deslizada com itens que te fornecem seis de armadura e de vida a cada inimigo derrotado com o golpe. Não parece muito, mas Turbo Overkill é daqueles jogos que manda dezenas de inimigos para cima de você ao mesmo tempo (algumas fases têm mais de 900 inimigos). Pegue um grupinho de fracotes com uma motosserra bem aplicada e você pode ir de quase morrendo a vida cheia em segundos. É uma delícia.
GAMEPLAY RETROMODERNO
Além disso, a mobilidade também é extrema. Seu personagem é MUITO rápido, e dá para combinar pulos duplos e corridinhas aéreas para literalmente voar pelo cenário. Tudo isso fica ainda mais avançado quando você destrava habilidades como o gancho ou correr pelas paredes. Toda essa mobilidade faz com que o gameplay de Turbo Overkill combine o combate de Doom Eternal com os desafios de plataforma de Mirror’s Edge. Tudo isso sem abrir mão do estilo e da diversão crocante dos Doom antigos. E olha que nem falei das fases totalmente diferentes, em que você usa veículos. A de carro traz um sabor de mundo aberto pontual, enquanto a de moto é pura adrenalina. A variação presente nas 24 fases é simplesmente embasbacante.
Na verdade, a única coisa que poderia ser melhor em Turbo Overkill é o som. As músicas, combinações pesadas de rock com eletrônico, são bacanas, mas falta crocância e punch nos efeitos sonoros. Isso é uma das coisas que torna os Doom clássicos tão gostosos de jogar, e é uma pena que Turbo Overkill não mande tão bem nesse aspecto.
CHEFES E POSSIBILIDADES MODERNAS
Uma coisa que sempre me deixa meio cabreiro em jogar Retro-FPS, especialmente no PC, é a possibilidade real de ele ter a dificuldade calibrada para ser jogado com quick saves a toda hora. Embora o jogo permita quick saves nesta versão de PC, ele felizmente é tunado como um jogo moderno, com checkpoints frequentes e salvos automaticamente. Dificilmente morrer vai te fazer voltar muito, mas existe a possibilidade de você voltar com pouca vida. Felizmente, é fácil recuperar vida equipando as coisas certas na sua motosserra.
O lado negativo é que alguns chefes são realmente muito pentelhos. O que vem no final do primeiro episódio (são três episódios, com oito fases em cada um), por exemplo, é de uma chatice absurda, que me faz torcer para chegarmos logo ao dia em que vamos poder escolher pelo menu simplesmente pular um chefe. Todos os outros chefes depois desse primeiro são consideravelmente melhores, mas os dois últimos têm batalhas longas e cansativas demais (felizmente com checkpoint durante a luta).
CONTEÚDO SECUNDÁRIO
Além das 24 fases, cuja maioria dura de 40 minutos a uma hora, o jogo traz alguns colecionáveis curiosos. Cada fase tem três fitas e três chips. Colete as três fitas e você vai destravar uma fase secreta. Estas em geral não são fases reais, mas desafios como “sobreviva a X ondas” ou “sobreviva por X segundos”. Apenas uma de todas as que destravei era uma fase de verdade, mas ela não tinha checkpoints e não importava os upgrades da campanha, então a diversão diminuía muito.
Já coletar os três chips de uma fase permite ligar um modificador, como headshots explodirem em confete, ou explosões causarem três vezes mais dano. Seria legal se essas coisas fossem desbloqueadas a cada três itens que você pega, e não pegando os três da mesma fase, pois possibilitaria brincar mais com essas coisas. Na minha campanha, eu encontrei todos os colecionáveis de poucas fases, então fiquei longe de ver tudo que o jogo permite.
Por fim, depois de sua campanha, que já é consideravelmente longa (durou 22 horas para mim), ainda há a possibilidade de fazer seus próprios custom maps ou jogar mapas customizados de outros jogadores. É o tipo de coisa que acho legal estar no jogo, mas dificilmente vou usar. Até testei uma fase da comunidade, mas em pouco tempo atravessei o chão e desisti. O ponto é que Turbo Overkill tem conteúdo pra caramba. Sua campanha já é longa, de altíssima qualidade e extremamente variada e criativa, mas ainda tem muito mais para fazer com ele se assim desejar.
TURBO OVERKILL É NO MOMENTO UM DOS MEUS JOGOS PREFERIDOS
E não estou exagerando ao falar isso. Tudo que senti ao jogar Prodeus, senti aqui de novo, mas dessa vez foi aumentado a 11. Se você gosta de boomer shooters, não deixe Turbo Overkill passar, pois você terá aqui um dos melhores jogos do ano.