Tamashii é o tipo de jogo que eu normalmente dispensaria após ver alguns poucos segundos de vídeo. Sua estética monocromática e pixelada definitivamente não é o que eu procuro em um jogo de última geração. Porém, a temática de terror me chamou a atenção, e eu aprendi com Gato Roboto que mesmo jogos com uma estética terrível podem ser muito legais.
Quando rodei o jogo pela primeira vez, me surpreendi com as duas únicas opções de idiomas serem inglês e português. Veja só, apesar de termos recebido o código de review de uma assessoria de imprensa gringa, Tamashii é um jogo nacional. Isso o torna ainda mais interessante para uma análise Tamashii no DELFOS.
ANÁLISE TAMASHII
A primeira impressão do jogo não foi boa. Logo que assumi o controle da protagonista, achei as animações precárias. Ela quase não se move ao pular, por exemplo. Tem jogos que, mesmo com uma estética retrô, imediatamente agradam pelo visual. Tamashii e seu visual que parece feito em uma máquina de fotocópia de baixa qualidade, definitivamente não é um destes casos.
Porém, cave um pouco mais fundo, e você logo percebe quão legal é a arte. Os cenários têm detalhes e estátuas que são bastante assustadores e trabalhados, lembrando algo entre Dante’s Inferno e Dark Souls. Assim como o primeiro, Tamashii tem alta influência temática de arte satânica/herege, e faz isso muito bem. A coisa é muito mais profunda do que simplesmente espalhar pentagramas invertidos pelas fases, o que mostra que os artistas da Vikintor têm algum conhecimento do assunto.
Na verdade, apesar de eu não gostar do visual “xerocado”, os detalhes, a atmosfera e o design de som sem dúvida tornam Tamashii um jogo bastante único e marcante.
GAMEPLAY
Falando da jogabilidade, Tamashii é um puzzle plataforma em 2D. Cada fase, dividida em várias telas, tem desafios envolvendo saltos ou coisas que devem ser solucionadas. Para isso, você tem o poder de criar três clones. Eles podem ser usados para coisas básicas, como ativar botões que abrem portas, ou então em conjunto com o cenário de formas bem mais complexas. E o level design é fantástico.
Tamashii é um daqueles jogos difíceis, mas que não enchem o saco. Eu devo ter morrido mais de uma centena de vezes ao longo da minha campanha, mas os checkpoints são frequentes, e você pode tentar de novo literalmente um segundo depois de morrer. Esta combinação de fatores diminui muito o fator punitivo da coisa, e torna Tamashii um jogo mais agradável e divertido do que os metidos a truezão que estão na moda atualmente.
Cada fase termina com um chefe no que são, sem exagero, os melhores momentos do jogo. Comecemos pelo design deliciosamente profano destes monstros, dignos de estamparem capas de black metal. E daí tudo culmina na mecânica da batalha. Cada uma delas é um puzzle. A maioria envolve colocar um clone em um canhão que ataca o monstrão e sobreviver enquanto ele faz seu trabalho. Eventualmente, o chefe destrói o clone, sendo necessário repetir até a vida dele esvaziar.
Outros chefes, ainda, são mais focados na ação, envolvendo correr enquanto o vilão te persegue por difíceis fases de plataforma com auto-scrolling. Ambos os tipos são bem legais e servem como as joias da coroa das fases que, por sua vez, já são muito boas.
CAPETÃO AMÉRICA
Com tudo isso, Tamashii se torna um jogo único. Pelo gênero, talvez a comparação mais apropriada seria Limbo, mas ainda assim este é um demônio (haha, sacou?) totalmente diferente.
Portanto, não se deixe afastar pelo visual feio à primeira vista. Dê uma chance e mesmo o visual vai crescer no seu encapetado coração. Isso sem falar do gameplay, que é ótimo desde o início.