Hack and slash é um dos gêneros anteriormente populares mais raros hoje em dia. E mesmo assim, por um lindo sorriso do destino, três dos últimos grandes lançamentos que joguei fazem parte do gênero. Os anteriores são Ninja Gaiden Master Collection e Final Fantasy VII Remake. Aqui temos o terceiro membro deste glorioso grupo. Bem-vindo à nossa análise Scarlett Nexus.
ANÁLISE SCARLETT NEXUS
Scarlett Nexus é um jogo de porrada com poderes psíquicos e uma estética de animê deveras estilosa. Ele também tem um grande foco na história, e inclusive para ver tudo que acontece na campanha, você deve jogá-lo duas vezes, uma com cada personagem. Para este review, eu escolhi jogar com o carinha, Yuito. Eventualmente devo fazer o caminho da mina, Kasane. Se for o caso, faço um novo texto como um adendo a este.
Vivemos uma época em que praticamente todos os hack and slashes que chegam ao mercado seguem à risca a fórmula soulsborne. Inclusive, o jogo anterior da Bandai Namco Studios, Code Vein, é um exemplo disso. Assim, é com enorme deleite que comunico nestas linhas que Scarlett Nexus é único. E pelo papagaio de Satanás, como é bom jogar um game de porrada que ousa criar um combate novo.
ESPADAS E SUPERPODERES
O poder de Yuito e de Kasane é o mesmo: telecinese. Ou, em outras palavras, pegar itens do cenário com a mente e arremessá-los rumo aos inimigos.
As armas corpo a corpo dos dois protagonistas são diferentes, mas o grosso do dano que você causa é com a telecinese. Basicamente, os ataques normais servem para recarregar a telecinese. Assim, o combate segue um ritmo previsível, porém aprazível. Jogue um pedaço do cenário, ataque algumas vezes com a espada, e jogue o cenário de novo.
Mas a coisa não para aí. Ao longo da história, você será acompanhado por outros nove personagens, e cada um tem um poder específico. Apertando RB e um dos botões da face, você “pega emprestado” seus poderes. Estes envolvem coisas como invencibilidade, invisibilidade, pirotecnia, duplicação, e muitas outras coisas legais.
Durante boa parte da campanha, os companheiros são pré-estabelecidos dependendo da fase. O começo permite que você experimente vários poderes pouco a pouco; e daí no grosso da história, você tem quatro companheiros fixos, dependendo do protagonista escolhido. Daí, na reta final da campanha, todos os poderes ficam disponíveis, permitindo que você se torne o psíquico mais bunda ruim do quarteirão.
E, claro, ainda tem os fatalities, que podem ser ativados quando a barra que fica abaixo da vida dos inimigos é esgotada. Sim, exatamente como Sekiro e God of War.
ANÁLISE SCARLETT NEXUS: ESTILO E CATEGORIA
Além de ser um combate deliciosamente complexo e que causa uma sensação de poder absurda, ele ainda é lindamente estiloso. Emprestar o poder de um companheiro faz com que uma animação do sujeito apareça enorme na tela. Os fatalities também são igualmente belos, com movimentos de câmera tremendões. Tudo isso combina para dar a sensação de que você está jogando um animê. E digo mais, a porrada é tão cinemática que alguém que esteja assistindo ou vai ter impressão de que o combate é complicado demais; ou que o jogador não faz nada. E ambos estarão errados. A jogabilidade é realmente excelente.
Para deixar tudo ainda melhor, Scarlett Nexus vai contra os padrões atuais de level design, sendo basicamente um jogo de fases linear. O lado ruim é que a história pode te levar para as mesmas fases mais de uma vez, o que realmente não é legal.
SOCIALIZAÇÃO
Entre as fases, há a socialização. Nestes pontos, você e seu grupo vão para o esconderijo, e você pode dar presentes para seus companheiros ou ativar “bond episodes“. Estes são basicamente cutscenes que aumentam a ligação com a galera e, eventualmente, seus poderes. Eventualmente, elas trazem pequenos gameplays, que envolvem explorar parte de uma fase pela qual já passou e encarar um chefe lá.
Cá entre nós, eu achei esses “entrefases” um tanto pentelhos. Via de regra, eles se resumem a assistir cerca de uma hora ou mais de cutscenes antes de poder fazer a próxima fase de ação. E, claro, você pode simplesmente pular as cutscenes, e assim ganhar os poderes sem o investimento de tempo. Porém, Scarlett Nexus tem um grande foco na história, então fazendo isso você perderá boa parte da experiência.
CUTSCENES OU MANGÁS?
O que mais me incomoda, no entanto, é que, embora sejam muito longas, as cutscenes de Scarlett Nexus são imagens estáticas. Elas são quase totalmente faladas, porém em 10 minutos de imagens estáticas, há talvez 10 ou 20 segundos realmente animados.
Agora você sabe, eu sou um grande fã da linguagem de quadrinhos. Porém, gibis são feitos para serem lidos em papel, não assistidos em uma TV enorme. E, sim, eu também estou plenamente ciente que os desenvolvedores optaram por esta narrativa por uma questão orçamentária. Mas até aí, o jogo custa para o público quase o mesmo que The Last of Us 2 custava no lançamento, então sua história deveria apresentar quase os mesmos valores de produção. E sim, estou simplificando a questão toda para fazer um ponto, e isso pode render um texto mais elaborado no futuro.
Dito isso, das 30 horas de duração de uma das duas campanhas presentes, eu diria que pelo menos 10 delas você vai ficar olhando imagens estáticas. E por mais que eu tenha gostado da história, chega a hora que você começa a pensar: “Poxa, galera, me deixa jogar”, sabe?
A HISTÓRIA É O MAIS PURO SUCO DO MANGÁ
Pois é, eu gostei dessa expressão. “O mais puro suco de X”. A história de Scarlett Nexus é daquelas que atira para todo lado. Seja qual protagonista escolher, você será um novo recruta na OSF, um ramo militar do governo encarregado de proteger a população dos “Outros”, monstros bizarros que popam a toda hora e são os principais inimigos do jogo.
Logo, Kasane e Yuito se vêm em lados políticos diferentes. Para completar, Kasane tem uma ideia fixa de que precisa matar Yuito, atacando-o do nada em vários pontos da história. Claro, isso eventualmente será esclarecido, mas na campanha de Yuito é um dos grandes mistérios.
É até engraçado, porque vira e mexe o grupo da Kasane aparece tentando matar Yuito. E daí, na parte da socialização, um deles manda uma mensagem falando algo tipo: “ei, vamos esquecer do que acabou de acontecer e vem tomar um suco comigo pra trocar uma ideia”. Bizarro, sim, mas eu diria que totalmente mangá.
Eventualmente, a história alcança contornos ainda mais ambiciosos. Lados políticos se tornam fichinha quando a coisa começa a envolver viagem no tempo e o universo inteiro; e este é o caminho que a campanha segue.
ANÁLISE SCARLETT NEXUS E O NEXO ESCARLATE
Assim, após fazer uma das duas campanhas, minha opinião sobre Scarlett Nexus é que é um jogo muito legal. Seu combate é único e estiloso, um dos poucos jogos modernos a entrar no ramo da power fantasy tão comum algumas gerações atrás.
Suas cutscenes estáticas me incomodam um bocado, mas mais por causa da sua frequência e duração. Um jogo com tanta história carecia de uma cenas realmente animadas para contá-la.
Não sei se o jogo tem fôlego para ser jogado duas vezes, ainda que eu tenha vontade de ver tudo que acontece na história da Kasane. Acredito que ela deve passar pelos mesmos cenários, talvez em uma ordem diferente, mas sem grandes novidades de level design a não ser um ou outro chefe exclusivo. Mas para ser jogado uma vez, é fácil recomendar, especialmente por que bons hack and slashes, especialmente não-soulsbornes, são raríssimos hoje em dia.