Meu amigo, há muito tempo quero jogar Quake II. Desde que comprei um PC Gamer, ele está na minha lista de desejos do Steam. Eu literalmente quase o comprei algumas semanas atrás, quando estava numa promoção saindo a preço de banana. Resolvi esperar porque os rumores de que ele sairia remasterizado para consoles em breve eram fortes. E cá está ele. Mas te digo, provavelmente não teria me arrependido de comprar no Steam, e nesta análise Quake II vou explicar o porquê, mergulhar a fundo no conteúdo, falar sobre o jogo em si e sobre a Id Software da época.
ID SOFTWARE
De todas as desenvolvedoras de games, a Id Software é a história que eu considero mais fascinante (inclusive gostaria de ler a autobiografia do John Romero, chamada Doom Guy). Naquela época era possível uma empresa independente avançar a tecnologia dos games, mesmo sem ter o dinheiro de uma das majors. E foi isso que eles fizeram com Doom. Mas as contribuições deles vão ainda além disso.
Foram as pessoas da Id Software, impulsionados pelo sucesso de Doom, que começaram a pressionar para que os desenvolvedores se tornassem personalidades conhecidas, como músicos e outras profissões criativas. Antes os devs usavam pseudônimos, como o famoso Momonga Momo, que fez vários jogos famosos do início da Sega e hoje em dia quase não se acha informações sobre a pessoa por trás do nome.
Com isso, assim como uma banda, a Id Software é a única empresa dos games que tem uma “line-up clássica”, encabeçada por John Carmack e John Romero. Outros desenvolvedores, como American McGee e Sandy Petersen também ficaram famosos graças a este impulso da Id para creditar seus criadores.
John Romero pirava o cabeção em ideias absurdas como “vamos fazer um jogo em primeira pessoa”. E John Carmack era o gênio capaz de programar e fazer isso acontecer, como um passe de mágica. Era uma dupla genial, e Quake II é o primeiro jogo feito pela empresa depois da dissolução da formação clássica, quando Romero saiu. Carmack ficaria até 2013, sendo o último fundador a deixar a companhia.
ANÁLISE QUAKE II ENHANCED
Embora ainda conte com criativos como American McGee, é claro ao jogar Quake II que John Romero faz falta. Comparar Quake II com Doom, Doom 2 e Quake mostra que o assunto de hoje é bem menos criativo do que os anteriores. Tecnicamente, ainda é um espetáculo – para a época, lembre-se – e tem vários pontos de criatividade muito legal em suas fases. Só não é tão surpreendente quanto os outros.
Basicamente, Quake II pega a tecnologia de Quake e cria um novo jogo com ela – não uma continuação. Quake II é bem mais militar e menos místico do que Quake e Doom. Tematicamente, ele te coloca como um soldado tremendão contra alienígenas. Mas os inimigos não são visualmente geniais como os dos outros jogos. Na verdade, quase todos parecem pessoas com armaduras.
Isso também tem seu espaço, claro. Na verdade, lá nos anos 90, eu buscava incessantemente por um jogo de tiro que não tivesse monstros. Quake II tem monstros, mas a maioria dos inimigos são máquinas ou ciborgues humanoides. Inclusive, ao contrário de Doom, em que você identifica cada monstro imediatamente, aqui eles acabam sendo todos mais ou menos a mesma coisa. Eu demorei um bom tempo, por exemplo, para reparar que dois inimigos voadores eram de tipos diferentes, de tão parecidos que são. As fases também não têm muita variação visual. Tem temas, como prisão ou hangar, mas todas são meio amarronzadas, sem nada muito interessante para olhar.
A DIFERENÇA DE QUAKE II
Uma coisa que os jogos anteriores da Id Software faziam é que suas fases eram totalmente independentes. Terminou uma, você não volta mais. Quake II fica um pouco mais complicado, o que me lembrou um pouco o estilo de Powerslave, outro remaster excelente feito pela Nightdive.
Os capítulos são independentes, mas cada um é composto por várias fases. É comum você ir e voltar de uma fase para outra em busca de chaves, itens e objetivos. No capítulo exemplificado acima, eram seis fases, e o capítulo durou 62 minutos na minha primeira jogada.
BÚSSOLA É O MELHOR AMIGO DO JOGADOR
Uma das novidades nesta versão foi essencial para meu aproveitamento: a bússola. Ela pode ser acionada a qualquer momento para mostrar o caminho para o objetivo. Isso pode dar a sensação de que Quake II é mais linear do que o anterior, mas dizer isso seria falso. Não use a bússola e você certamente vai se perder, já que há momentos em que você cumpre um objetivo numa fase e precisa voltar duas ou três em um ponto específico para continuar. Eu diria, inclusive, que se não tivesse a bússola, provavelmente não teria gostado tanto de Quake II como gostei.
Minha única reclamação sobre a bússola é que ela deixa de ser selecionada cada vez que você pega um item. Assim, eu comumente apertava para cima no direcional digital, meu atalho para usar itens, e acabava usando outra coisa porque o jogo insistia em desligar a bússola. Isso poderia ser resolvido se o config possibilitasse colocar um atalho direto para a bússola. Ele permite fazer isso com armas, mas infelizmente no momento não dá para fazer o mesmo com itens.
Porém, acredito que ficar brigando com o jogo para manter a bússola selecionada é minha única reclamação mais contundente sobre esta versão. De resto, é um remaster sensacional, que inclui muito conteúdo e que fez um excelente trabalho em passar os controles originais do mouse e teclado para o gamepad.
ANÁLISE QUAKE II: VERSÃO AUMENTADA
Tem muita coisa aqui. Tem um multiplayer ativo e funcional, ou que pode ser jogado com bots, o que simplesmente não me importa. O que me importa, muito aliás, são as campanhas, que você vê acima. Quake II é, obviamente, o jogo original. The Reckoning e Ground Zero são os DLCs lançados nos anos 90, que seguem a mesma linha do game original.
Call of the Machine é uma nova campanha criada pela Machine Games, a desenvolvedora dos Wolfenstein mais recentes. Talvez você se lembre deles por eles terem criado novas campanhas para o recente Rise of the Triad Ludicrous Edition ou para o próprio Quake I. Esta é a campanha mais diferente, trazendo centenas de monstros em cada tela (às vezes ao mesmo tempo) e mapas mais elaborados do que os dos anos 90.
Por fim, Quake II 64 é o jogo lançado para Nintendo 64. Porém, ao contrário de Quake 64, que também foi incluído com Quake 1, este não é um port piorado do jogo original, mas uma campanha diferente. E veja só, Quake II 64 tem uma fase depois da outra, assim como o primeiro Quake. Isso acabou fazendo com que ele se tornasse minha campanha preferida do pacotão. Bacana, não? Tem dezenas de horas de boomer shooter com pedigree da Id Software aqui.
QUAKE II RTX EM QUAKE II ENHANCED
Lembra que eu falei que, se tivesse comprado Quake II no Steam, provavelmente não teria me arrependido? Isso porque quem já tinha o jogo no PC ganhou upgrade para esta versão de graça. E uma única coisa com a marca Quake II falta nesta versão de console. O mod oficial feito pela Nvidia chamado Quake II RTX.
O bacana é que quem tem o jogo na GOG ou na Steam pode brincar com a versão RTX também. O código de review que eu recebi da Bethesda é da Microsoft Store, ou seja, funciona no Windows e no Xbox. Porém, até onde consigo perceber, a loja da Microsoft não tem a versão RTX para baixar. Por isso não teria me arrependido se tivesse também comprado no Steam.
ANÁLISE QUAKE II: ID SOFTWARE AINDA DETONANDO
Depois da trinca Wolfenstein, Doom e Quake, talvez Quake II tenha parecido à época uma evolução limitada. Ele, inclusive, não é tão legal quanto Doom e Quake I. Mas tem um longo espaço de qualidade entre estes dois games e um lançamento ruim. Quake II ainda é excelente, um boomer shooter delicioso que ainda diverte muito em 2023. Ele só não é tão bom quanto os mais clássicos. Pelo menos não foi para mim.
Se você ainda não conhece as criações clássicas da Id Software, comece por Doom e Quake. Porém, se como eu você já jogou estes até cansar, Quake II está aqui para a gente se divertir mais um pouco com a violência estilizada mais crocante dos games.
E fica a dica: se você quer se aprofundar nas mudanças técnicas feitas para esta nova versão, vale ler este link oficial. Mas só depois de terminar de ler nossa análise Quake II, tá?