Tem um tipo de história que eu gosto muito. “Sujeito acorda preso em um lugar perigoso e vai tentar escapar e tentar entender o que aconteceu”. Eu assisto a todos os filmes que encontro com essa proposta, e até já escrevi um, a quatro mãos com meu colega Carlos Cyrino. E hoje vamos falar de um jogo exatamente assim. Bem-vindo à nossa análise Oxide Room 104.

ANÁLISE OXIDE ROOM 104

Em Oxide Room 104, você acorda em uma banheira, todo machucado, sem saber o que aconteceu. Primeiro passo: sair do banheiro. Segundo passo: sair do quarto. Terceiro passo: profit! Quer dizer, sair do hotel. Ah, sim, você está num hotel, que parece ser habitado apenas por monstros horríveis.

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O cenário é limitado, mas isso é bom. Trata-se de um hotel com três andares, e uns dez quartos por andar. Todas as portas estão trancadas, mas em suas explorações, você há de encontrar algumas chaves com o número dos quartos que elas abrem.

A localização dessas chaves e outros itens essenciais, me parecem ser aleatórios, ou pelo menos mudar a cada vez que você morre. Por exemplo, na sua primeira vida, só dá para encontrar o revólver quando sai do quarto. Depois, ele já aparece logo na área inicial. Mas nem sempre a mudança é para facilitar. Na minha primeira vida, achei uma pá, que nunca mais encontrei em todo meu tempo com o jogo.

DO QUARTO 104 PARA O MUNDO

Simplificando um pouquinho, o jogo funciona assim: você encontra a chave de um quarto. Vai até ele e, lá, vai encontrar textos de história, itens e, idealmente, outra chave. Daí vai usá-la em outro quarto. E assim por diante. Também é aleatório se vai ter inimigos e quantos em cada quarto.

Você pode ficar andando abaixado para não ser visto, ou sair no bangue-bangue. Cada monstro precisa de muitos tiros, e a munição é obviamente limitada. Eu cheguei a acumular umas 20, mas quando qualquer monstrinho precisa de oito tiros, não é muito. Em vários momentos, eu evitei combate por julgar que não teria munição suficiente para terminar o serviço.

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A área externa do hotel.

Portanto, pela minha experiência, os avanços são lineares. Um quarto sempre leva a outro e, suponho, eventualmente à saída. Porém, a ordem de visita e o que você encontra em cada um deles muda. O que me leva ao motivo que me fez desistir antes de escapar.

MORREU, PERDEU

Assim como Sifu e outros jogos recentes, morrer salva os arquivos de texto, mas te volta para a banheira, privando-o de todos os itens coletados. Ou seja, a campanha volta para a estaca zero. Além disso, a cada morte rola uma pequena conversa com um novo amigo, onde ele reclama de bitcoins e NFTs (sério!), e termina cortando fora um dos seus membros.

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Amigão, pode me dar uma mãozinha?

Em outras palavras, você tem quatro vidas para escapar do hotel. Ao morrer pela quarta vez, a história termina. Pois é, perder aqui também é um final, com rolagem de créditos e tudo. E perder foi o final que eu alcancei. Oxide Room 104 pode ser terminado em 40 minutos se você souber o que fazer. Mas seu gameplay é do tipo tentativa e erro.

Perder as quatro vidas, tirando o fato de ver um final, não é diferente de perder uma ou duas. Afinal, você sempre volta para o mesmo lugar e tem que fazer tudo de novo. Além disso, o final bom do jogo só pode ser alcançado se você escapar na primeira tentativa. Então a ideia é repetir, repetir e repetir, até saber como escapar. E daí escapar em um novo save, sem vidas perdidas.

TENTANDO E REPETINDO PARA A ANÁLISE OXIDE ROOM 104

Eu não diria que Oxide Room 104 é um roguelike. Afinal, o hotel é sempre igual, apesar de os desafios e itens mudarem de lugar. Ele é, porém, tão punitivo quanto um. Para mim, ele já seria bem mais palatável se, ao morrer, você voltasse para a banheira inicial, mas seus itens fossem para um dos “baús mágicos” espalhados pelo cenário. Daí daria para continuar explorando de onde parou, ao invés de zerar tudo.

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Taí um cara positivo. Perdeu um braço e uma perna, mas, ei, a cama parece confortável!

É impossível escapar na sua primeira tentativa, a não ser que você siga um guia. Isso porque a coisa é realmente construída para incentivar a repetição. Por exemplo, minha última vida eu perdi ao entrar em um quarto que tinha um adesivo de fogo na porta. Achei que morreria queimado ao entrar, já que não tinha encontrado proteção. Mas não foi o que aconteceu. Ao invés disso, eu tentei matar um inimigo com um tiro, e o quarto explodiu. Ou seja, é necessário passar dali sem atirar. Bom, fica para a próxima vez. Só que essa era minha última vida, e a essa altura eu já tinha umas quatro horas de jogo e estava cansado de voltar para a banheira. O fim “ruim” da história foi minha desculpa para parar de jogar.

VOCÊ AGUENTA PUNIÇÃO?

Mas aí que tá, eu achei Oxide Room 104 um game bem interessante. Ele certamente me intrigou e eu gostaria de desvendar o mistério, escapar do hotel e descobrir o que aconteceu. Mas eu não tenho tempo nem saco para ficar repetindo toda a campanha dúzias de vezes para descobrir isso. Resta a alternativa de pegar um guia e seguir o passo a passo – o que leva uns 40 minutos. Mas quem gosta de jogar assim? Se antes de começar a jogar, já sabe que vai seguir a história como uma receita de bolo, é melhor simplesmente assistir a um walkthrough no tubão.

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É aquela velha história. Talvez se eu fosse criança e tivesse mais tempo do que jogos, acredito que eu terminaria Oxide Room 104. Afinal, perder uma vida aqui não é tão diferente do que perder todas as vidas em um jogo de Mega Drive, e a própria duração de Oxide Room é mais ou menos a mesma de um game daquela época. E eu terminei quase todos os jogos que joguei no Mega Drive. Mas eu era criança, com acesso a muito menos jogos do que tenho hoje, e precisava ficar repetindo as mesmas coisas se quisesse terminar um game. Isso não é mais agradável hoje em dia. Mas eu vejo em Oxide Room 104 a possibilidade de agradar a pessoas que curtam um terror claustrofóbico. Eu curto, você sabe. Mas tenho mais medo de repetição do que de monstros. E você?